— Onde vocês encontraram isso?
Foi a primeira coisa que a mãe de Valéria perguntou quando as três, ao cair da noite, voltaram para casa com suas trouxas e o objeto misterioso.
— Foi um acidente, Dona Menina. — Rita esboçava uma feição de criança arteira, de quem aprontou. Diante da mesa, com algumas xícara de café, as mulheres discutiam a descoberta.
— Algum problema, mamãe? Parece até que a senhora viu um fantasma. — Lúcia encarava a mãe, que ainda fitava o objeto no centro da mesa. Parecia hipnotizada.
— Dona Menina, você já viu algo parecido? É uma coisa medonha. — Tina aguardou a resposta, bebericando do café.
— Isso não deveria estar aqui — disse por fim, saindo do transe. — Livrem-se disso, já. — De súbito, Dona Menina levantou-se.
— Como assim, mãe? É só um jarro. — Lúcia debruçou-se sobre a mesa, avaliando o objeto. — Um tipo de artesanato que, sei lá, parece inacabado. Vejam só, tem tiras de panos dentro dele. — disse olhando os rostos ao redor.
— É, e estava perdido, ou, sei lá, escondido. — Rita relaxou na cadeira, estirando as pernas sob a mesa. A cada palavra um gole do café era tragado. — Por qual razão alguém esconderia um negócio desse no meio da mata? — Ela lançou a pergunta e o clima pesou. O mistério se instaurou. Dona Menina, à porta da cozinha, parou.
— A razão não é tão simples como parece. — suspirou D. Menina. Os ombros caídos revelavam cansaço; um peso invisível que carregava, do qual nunca se libertara. — Só se esconde algo quando é necessário. Nada é por acaso.
— Mamãe, porque diz isso? — Valéria encarou as costas da mãe, que relutava contra o passado; a verdade.
— D. Menina, você sabe alguma coisa a respeito desse negócio? — Tina ateou a pergunta como lenha à brasa. D. Menina voltou-se, seu rosto cansado demostrava uma tristeza. Sentando-se à mesa falou:
— Preciso contar uma coisa para vocês; um segredo. — As mãos posta sobre a madeira que sustentava o desconhecido, carregavam marcas de um passado com julgo pesado. Aquelas mãos, as marcas nelas visíveis, tinham histórias para contar. Quem sabe, histórias que nunca deveriam serem narradas. No entanto, para tudo chega o tempo e D. Menina sabia disso. Após um longo silêncio, sussurrou: — Levei anos escondendo isso, vivendo com essa culpa.
— Culpa? — Rita olhava firme para a mulher de cabelos grisalhos que há tempos conhecia. — Minha mãe sempre se queixa de alguma "culpa".
Lúcia e Tina encaravam a amiga, que surpresa percebeu olhar da D. Menina sobre ela.
— Rita, minha querida. Vá chamar sua mãe. Precisamos contar algo para vocês. — D. Menina lançou um olhar de tristeza para Tina e completou: — Vocês todas.
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AS LAVADEIRAS
FantasyEm um Vilarejo vivem três moças que exercem um árduo ofício transmitido de geração à geração: Rita, Betina e Lúcia Valéria são excelentes lavadeiras. Quase todos os dias, as amigas estão à beira do rio, fora do Vilarejo, lavando, cantando e conversa...