Os dedos trêmulos seguravam o copo de água entregue pelos dedos de Helô. O homem que ali estava, acordou no susto ao ouvir os gritos de Lia. Eles foram os primeiros a encontrar a menina desmaiada no chão e os segundos a lerem a mensagem junto ao corpo da gata Mimi. Foi um choque para todos os moradores, até para Bruno que desceu até o térreo. Alguém esteve ali, alguém matou a gata, eles sabiam que sabiam sobre eles. Aquilo era muito maior do que poderiam imaginar e apesar de todo o pavor que Helô sentia, tentou olhar para a garota acomodada em sua cama, com certo carinho. Fazia meses que não via ela, agora estava claro nos olhos fundos, na estrutura franzina mais que o normal o porquê. Em algum momento daquela estadia no Edifício 83, havia colocado seus cachos longos acima das orelhas, perdendo não só uma parte do seu DNA, mas também uma parcela de si mesma.
— O que faz aqui, Lia?
A menina não encarou aqueles olhos que a observavam tão perto. Tinha vergonha? O silêncio dela fez Helô suspirar. Fechou o robe sobre a camisola e andou de um lado para o outro no quarto, roendo a unha enquanto era consumida pelas prováveis etapas que essas pessoas atravessam para chegar até eles.
— Eles mataram a Dona Benedita?
A mulher parou observando a expressão perdida no olhar dela.
— Mataram.
— E querem nos matar também?
A pergunta estremeceu o seu peito.
— Não sei.
— Que tipo de monstro mata um animal tão indefeso como a Mimi?
O mesmo monstro que matou uma mulher tão doce como Dona Benedita. Sentou na ponta da cama alcançando a mão de Lia, que pela primeira vez a encarou nos olhos. Tinha muitas dores ali.
— Você tem algum familiar?
A garota negou, apesar de não ser a verdade. Até o presente momento sua tia vez ou outra pensava nela, apenas para imaginar onde ela estaria, afinal a culpada por Lia estar na rua era ela mesma. Sua irmã não devia ter morrido daquele jeito e ter jogado nos seus ombros a responsabilidade de uma garota tão problemática como Lia. Tinha mais com o que se preocupar.
— Aqui não é um lugar seguro, Lia.
O corpo tremeu perante o seu suspirar.
— É o único lugar que eu tenho. — murmurou com medo do que poderia estar te esperando lá fora.
Helô entendeu pois trazia dentro dela aquele mesmo sentimento.
De frente para o corpo estraçalhado da gata aos seus pés, Henrique não conseguia sentir outra coisa além de raiva. Foi a raiva que moveu seu irmão na direção contrária ao seu futuro brilhante, levando a saúde da sua mãe e a infância de Henrique. Se sua mãe ainda estivesse viva, a coroa morreria de remorso só por vê-lo como capacho da boca que matou o teu irmão. Logo ele, que nunca perdoou os mandos do chefe do morro, começou a andar pianinho nos desejos deles. Talvez no fundo tivesse aquele medo latente da morte soprando em seus ouvidos. Henrique sempre foi o alvo mais fácil assim como seu irmão que apesar de toda a segurança armada que tinha, teve seu peito atravessado por uma bala aos vinte anos.
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O Assassinato no Edifício 83
Mystery / ThrillerEm um dos bairros mais turísticos do Rio de Janeiro, um edifício esconde um segredo macabro, cheio de mortes e suspeitos. Espero que você não confie em ninguém.