Alana deu um trago no cigarro entre os dedos sem tirar os olhos daquela coisinha miúda que a vigiava no meio da madrugada. Nos últimos dias vivia com um medo insano. Sempre reconheceu o rosto e o nome daqueles que a tinham como alvo, agora eles se escondiam atrás de lugares onde seus olhos não alcançavam. Ela era vista, mas não via, parecendo presa atrás de uma venda que não conseguia tirar dos olhos. O pior de tudo era que se fosse para a morte iminente não teria nem um número para ligar e se despedir.
— Ei! — Bruno sinalizou da entrada do 101. A garota desencostou da parede e entrou no apartamento. — Conseguiu falar com ele?
Negou com a cabeça assim que a porta bateu.
— Henrique sumiu.
— Dona Ana?
— Foi pra casa de uma amiga da igreja. — O rapaz assentiu enchendo a xícara com café. — Será que ele vem hoje?
— Talvez. — provou da bebida amarga, já que ninguém tinha cabeça nem mesmo para ir na rua comprar açúcar.
Bruno nunca teve muitas ambições na vida. Sempre soube de certa forma que sua vida não seria de fato algo grandioso. A da sua mãe não havia sido e mesmo tendo a mesma superdotação do pai, ou era o que acreditava, não tinha a capacidade para ter contato com os outros, sendo sempre incompreendido. Agora que estava sendo obrigado a ficar escondido para o bem dele mesmo, sentia que mesmo se quisesse tentar, isso não dependia mais totalmente dele.
— Você tá com medo?
O rapaz encarou Alana e negou com a cabeça.
— Você tá?
Ela deu de ombros.
— Medo é um sentimento normal para mim. — Se sentiu mal por soar tão sincera.
Bruno suspirou antes de bebericar o café na xícara. Medo era um sentimento que estava sempre ligado a sua relação com o outro e agora isso dizia respeito único e exclusivamente ao que viria acontecer com ele caso aquelas pessoas conseguissem alcançar eles de fato.
— Até para a morte?
Alana encarou aqueles olhos sérios que lhe encaravam de volta tendo uma sensação ruim no peito. A morte com todos os seus mistérios nunca pareceu tão perto dela como naquele momento.
— Ela não vai acontecer.
De fato a sua confiança estava nas ações de Henrique.
— E se ele não conseguir?
Alana sorriu.
— Não duvide dele. Henrique já passou por tanta merda e não vai ser esse grupo perturbado que vai acabar com ele.
— Mas se ele não conseguir, a gente deveria ter uma carta na manga. — A dúvida no olhar da garota fez Bruno desenvolver a sua ideia. — Eu acho que sei onde está os ossos do 1º líder dos doze. — Ela não entendeu. Ele suspirou. — Os doze são os principais sectários desse grupo, eu encontrei em um desses papéis. — Bruno se aproximou da mesa no meio da sala vazia, entregando um papel antigo para os dedos de Alana. — Esses doze são substituídos pelo primogênito dessa pessoa. Chega a ser doentio, mas eles parecem se comparar com os doze apóstolos, e o líder é algum tipo de deus.
— Tu tá zoando, né!? — O sorriso nervoso estava incrédulo.
— Tem uma espécie de diário de um deles e nesse diário o cara fala sobre a importância desse primeiro líder fundador. Ou seja, esse cara e o corpo dele são muito importantes para eles.
— E você quer o que? Tomar posse dos restos mortais do cara?
— É. — O rapaz retrucou com uma naturalidade que faltou nela. —Alana, a gente é alvo de uma seita doentia que acha que tem uma missão maior. Isso é importante pra eles, assim como esse bando de papéis. — Gesticulou para os documentos.
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O Assassinato no Edifício 83
Mystery / ThrillerEm um dos bairros mais turísticos do Rio de Janeiro, um edifício esconde um segredo macabro, cheio de mortes e suspeitos. Espero que você não confie em ninguém.