Reminiscência

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Naquela mesma noite, Miranda, suas duas filhas, a assistente e uma equipe de filmagens composta por três membros tinham ocupado uma área consideravelmente grande daquele avião. Quase sete horas depois, a chegada foi anunciada, Cassidy esteve triste demais a viagem toda, suas pequenas crises de ansiedade tinham um motivo diferente dessa vez. Caroline, que também tinha os olhos vermelhos, consolava sua irmã como podia, tudo o que ela dizia para acalmar a irmã parecia ser destinado a si mesma. Enquanto isso acontecia, o rosto de Miranda permanecia intacto, nem uma ruga a mais nem tom de cor a mais, talvez só não estivesse trabalhando por respeito a dor das suas filhas.

A chegada foi de madrugada, ainda faltava muito para amanhecer, foram recebidas pelo motorista e de seguida se instalaram na casa. A dona da casa estava dormindo, a cuidadora disse ter dado algum calmante para que ela pudesse descansar. Nem a exaustão da viagem fez Miranda ignorar o facto da sua mãe ter decorado seu quarto tal como tinha sido na sua adolescência, não era a mesma casa, essa foi um presente de Miranda para sua mãe, é muito maior e a mãe fez questão de montar o quarto como se sua filha adolescente fosse voltar algum dia. As pequenas coisas que sobraram quando saiu de casa estavam num baú, sentiu um arrepio ao ver peças que nem lembrava mais de ter tido, o chaveiro, as meias e o casaco da escola, seus lenços e tantas outras coisas. De repente levantou-se e foi ao quarto da sua mãe e a viu dormindo tão serena, a cor dos seus cabelos brancos não estava muito diferente do seu rosto, Miranda esperava que a presença dela e das filhas tornasse aquele momento menos difícil. Sentou-se na poltrona ao lado da cama da sua mãe e ficou olhando para ela, chorando pela dor que ela não tinha certeza de onde vinha, mergulhou em suas lembranças e acabou adormecendo como uma pequena menina numa cadeira gigante.

Um cheiro de infância foi devagar despertando seus sentidos, ainda de olhos fechados não lembrou por instantes onde estava, todavia, aquele cheiro de café matutino era o cheiro da sua mãe. Miranda sentiu uma coberta aconchegante sobre seu corpo e lembrou-se que devia acordar pois sua família precisava dela.

Viu a fonte da pouca luz que adentrava iluminando o ambiente e logo ouviu a porta atrás de si abrir, era a cuidadora da sua mãe.

— Miranda, bom dia! — disse a senhora e manteve sua postura aguardando ordens

— Hm! — deixou escapar e olhou desconfiada para a bandeja que estava numa mesinha próxima — Quem fez?

— A sua mãe pediu que eu trouxesse aqui. Ela está na cozinha com as gêmeas. — nesse momento Miranda já se tinha livrado do cobertor e ensaiava levantar

— Como ela está?

— Parece bem desde que acordou, ela insistiu em fazer o pequeno almoço para vocês.

— Chama a Emily e tratem do que falta. — Miranda estava de pé em frente à janela olhando a pouca movimentação do lado de fora

— Ela já esteve aqui, e cuidamos de tudo o que faltava, ela saiu para resolver a questão das flores que a agência pediu e marcou-se a cerimônia para a tarde como pediu.

— Não deixe ninguém vir aqui essa manhã e por mais que venha, que ninguém traga choros e lamentações, ela não precisa disso, trate do resto. É tudo.

— Sim Miranda. — disse a cuidadora se retirando

Depois de um banho, Miranda dirigiu-se a sala e encontrou uma equipe decorando o espaço para a cerimônia. Quando chegou a cozinha ninguém a notou, ficou olhando sua mãe que mostrava um sorriso enquanto conversava com suas netas embora sua dor fosse visível.

— Miriam minha filha vem cá. — abriu os braços e Miranda encaixou-se tão bem neles que não queria sair mais, acomodou-se no banco ao lado da sua mãe e encostou sua cabeça nela sentindo aquele aroma agradável de café e segurando suas próprias lágrimas — As meninas estavam me contando as novidades lá da América, e também sobre os namoradinhos. — Miranda as olhou quase surpresa e revirou os olhos.

A Priestly ErradaOnde histórias criam vida. Descubra agora