Tsumetai

Capítulo 2: Suisen

Tsumetai

"Nenhum clã prezou mais o amor que os Uchihas" – (Senju Tobirama).

#2

Mesmo que estivessem juntos há meses, por mais absurda que fosse a situação, Sasuke nunca havia presenciado a nova e pequena mudança na dinâmica de seu relacionamento como a que acontecia pelos últimos minutos. Antes de tudo, uma das muitas habilidades de Sakura estava no seu hábito de ser naturalmente tagarela. Ela conseguia dissertar sobre qualquer assunto, assim, com a maior facilidade. E esse talento poderia render tanto comentários inteligentes como, no mesmo tom, banais, limitando ao Uchiha pequenas falas curtas que satisfaziam o diálogo sem exigir muito esforço.

Contudo, durante o percurso algo parecia ter desconfigurado a estrutura que haviam construído e aquela rotina onde ele era um bom ouvinte ao lado de sua esposa parecia parcialmente danificada, pois apenas aquilo não parecia simplesmente bastar como sempre bastou. Ser introspectivo sem parecer rude tornou-se um incômodo desafio, já que Sasuke estava um pouco mais soturno do que era normalmente, limitando suas falas em sílabas ou acenos.

Sua maior contribuição no diálogo havia sido há uma hora, quando, no caminho, Sasuke indagou-a fazer uma pausa antes de seguirem, mas a kunoichi negou a oferta na ocasião, embora tenha se arrependido pouco tempo depois. A carga física acumulada dos últimos dias havia começado a se refletir em seu corpo: a correria para a construção da clínica, o casamento e toda a organização em casa foram tarefas exaustivas.

No entanto, a caminhada se mostrou uma oportunidade para colocar alguns assuntos em dia, substituindo sua ansiedade por conversas sobre a vila, seus estudos e até uma história ou outra sobre algum paciente que se recusava a tomar um remédio ou um genin que se machucou da maneira mais estúpida durante o treinamento.

Não havia passado um tempo de qualidade com o Uchiha fazia alguns dias, ambos ocupados com as próprias designações dentro da vila. Cenários assim eram comuns, e estavam acostumados a não poderem se encontrar sempre devido às obrigações que precisavam cumprir. Sasuke, em especial na última semana, passava horas trancado na torre Hokage com Kakashi, e Sakura especulava ser sobre alguns fatos sigilosos que o Uchiha havia descoberto em sua peregrinação nos últimos dois anos, já que vez por outra podia vê-lo com o olhar distante, a testa franzida em preocupação.

Assim, as termas e o onsen como um todo, locais conhecidos por seus efeitos balsâmicos, seriam bem-vindos ao fim do dia, como uma forma de poderem deixar para trás quaisquer inquietações vindas da rotina de um shinobi.

Já pelo caminho encontraram brevemente alguns mercadores e ninjas aliados, mas limitaram-se a pequenas trocas de reverências silenciosas. Sakura sempre tinha algum comentário para depois que eles partiam, tentando adivinhar de que território eram pelas cores das carroças ou traços do rosto. A princípio, ela parecia descontraída e leve, mas quanto mais se aproximavam de Teien mais aquela máscara começou a despedaçar. E era inevitável o Uchiha não se sentir afetado por isso, mudando seu próprio comportamento sem notar.

Percebia sua esposa enrolar uma mecha de cabelo no dedo ou apertar levemente sua mão, sem intenção. Ela estava nervosa, como se sobressaltada de vez em quando pelos próprios pensamentos, e Sasuke evitou a sondar os motivos que faziam com que ela parecesse quase... trêmula. Talvez ele estivesse calado demais, ou sendo pouco receptivo. Estavam recém casados, certamente ela esperava que ele se esforçasse mais. Não queria imaginar que ele – o jeito dele – a deixava inquieta.

Sasuke sempre foi um homem calado, mas, a esta altura, parecia circunspecto demais até para seus próprios padrões. Havia perdido, a cada metro, suas habilidades de comunicação.