Capítulo 1

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Yellena Zieliński

Cheguei à New Westminster à algumas horas e segundo as informações que consegui arrancar dos desgraçados que torturei e matei antes de libertar os filhotes e crianças sequestradas na província de Quebec, uma nova remessa de filhotes sequestrados sairia daqui com destino ao inferno que eles carinhosamente chamam de “Mestre”.

Farejo o ar novamente, tentando memorizar todos os aromas possíveis por onde passo e me xingo mentalmente ao captar o cheiro familiar. O bendito filhote de pelagem marrom avermelhado me desobedeceu e me seguiu até aqui. 

“— O que você está fazendo aqui, Aiden?” — Resmungo, irritada. “— Eu não mandei você ficar quietinho na caverna?”

“— Eu vim te ajudar, Yelle!” — Afirma, se aproximando da minha loba. “— Eu não iria te deixar se arriscar sozinha nisso.”

Nossa conversa acontece por telepatia, já que ambos estamos em nossa forma lupina. Aiden foi um dos lobos que eu resgatei em minha penúltima missão, ele é um lobo jovem que perdeu os pais dias antes de ser sequestrado e desde então o lobinho teimoso me segue feito uma sombra. Não importa quantas vezes eu negue, reclame ou argumente sobre o quão perigoso é para ele andar comigo, o lobo teimoso insiste em me seguir. 

“— É perigoso para você, Aiden!” — Argumento novamente. “— Volte para a caverna, lá você estará mais seguro.”

“— Não, Yellena, eu não vou te deixar sozinha para lutar contra esses desgraçados.” — Insiste, teimoso feito uma mula. 

“— Eu sei me defender muito bem sozinha!” — Rebato, impaciente. 

“— Eu sei que sabe, Yelle!” — Choraminga. “— Mas também quero te ajudar e te proteger como você me protegeu daqueles monstros.”

Ouvir isso aquece um pouco o meu coração, o carinho e preocupação que este jovem macho demonstra ter por mim é muito mais do que eu tive com aqueles que supostamente deveriam me amar acima de tudo e pouco a pouco esse filhote vem quebrando as barreiras que construí à duras penas. Eu estou me apegando cada vez mais a ele, como o irmão que nunca tive, o filhote que eu devo proteger acima de qualquer coisa. E ver aquele jovem macho querer arriscar a sua vida para me ajudar e proteger; Me dá a certeza de que eu faria de tudo para que nada de ruim lhe acontecesse de novo, nem que para isso eu tenha que dar a minha própria vida.

“— Tudo bem, tudo bem…” — Esfrego o meu focinho no seu, em um gesto de carinho. “— Só me prometa que vai tomar cuidado, e que não vai se colocar em perigo desnecessário!”

“— Tá bom, eu prometo!” — Ele retribui o meu carinho com uma lambida molhada e cheia de baba. 

Nós estávamos parecendo mãe e filhote e eu estava adorando aquela sensação de amar alguém incondicionalmente, e esperava sinceramente ser capaz de cuidar dele e lhe proteger sempre.

Começamos a mapear toda a área à procura de vestígios dos filhotes, a floresta era gigantesca e demorou um bocado para encontrar um mísero rastro que fosse. Aiden cobria a minha traseira e se mostrou ser um ótimo rastreador. O cheiro de lobos, humanos e sangue era fraco naquele trecho da floresta, mas estava lá. Seguimos o único rastro que tínhamos e que levava até uma pequena fazenda de produção Ovina, ou melhor, produção ilegal de lã. Não precisava ser nenhum gênio da lâmpada para saber que aqui os filhotes virariam tapetes felpudos e macios de lobos, isso se não tivessem o azar de cair nas graças do: “adorável mestre”. Mas no que depender de mim, os únicos tapetes que eu sentirei sob as minhas patas nesta noite serão os dos monstros que ousarem cruzar o meu caminho.

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