Dustin Leibovitch
Estaciono o meu Corolla preto em frente a minha cabana. O caminho todo Yellena veio em silêncio, ao contrário de Aiden, que falou sem parar, perguntando sobre as pessoas e os lugares por onde nós passávamos.
Durante o trajeto pelas ruas da alcateia, os aldeões paravam para olhar o carro do alfa passando. Os boatos que eu tinha encontrado a minha companheira com certeza já se espalhou por ali e eles provavelmente estavam se perguntando quem seria a nova luna da alcateia.
- Chegamos! - Digo, saindo do carro e dando a volta para abrir a porta para Yellena.
Estendo a mão para ela, que à segura meio incerta se deve aceitar ou não. Entrelaço os nossos dedos, sem dar a chance de ela se afastar um centímetro sequer de mim e a guio até a entrada da nossa cabana, Aiden já tinha descido do carro e nos espera na varanda enquanto nos observa com atenção e curiosidade.
- Sejam muito bem-vindos à sua nova casa. - Abro a porta e lhes dou passagem.
Aiden é o primeiro a entrar, sendo seguido por Yellena e eu mais atrás. A minha fêmea olha tudo com atenção e parece gostar do que vê. Modéstia à parte, a minha cabana é suficientemente grande e confortável para uma família de lobos alfas.
Rodeada de árvores frondosas e um lago enorme, a construção tem dois andares e é toda decorada em um estilo rústico bem aconchegante e moderno. Os cômodos são grandes e bem espaçosos, possui uma grande lareira no lado direito da sala e móveis de madeira, além de está equipada com todo o tipo de parafernália moderna que existe. Uma cozinha grande e bem equipada, um banheiro social para as visitas e o meu escritório, que também fica no Andar de baixo. No Andar de cima ficam os quartos e uma pequena biblioteca.
- Você já viu o tamanho dessa televisão, Yelle? É enorme! - Diz Aiden, empolgado. - E esse sofá? É tão grande que daria para uma matilha inteira dormir aqui.
Dou risada do exagero do garoto, que agora pula sentado no sofá. Ele parece ter gostado da nova casa e isso me deixa satisfeito.
Depois da luta com os heartless e de resgatarmos os filhotes, trouxemos ele e a minha fêmea para o pronto socorro da minha alcateia. Minha irmã mais nova, Mackenzie, foi quem cuidou pessoalmente dos dois.
Aiden tinha alguns ferimentos, mas nada muito grave, e logo recebeu alta; Já Yellena foi outra história... Minha fêmea tinha sido contaminada com o veneno mortal do heartless e, por intervenção divina, milagre ou razão ainda desconhecida para nós, sobreviveu aos efeitos hemorrágicos e infecciosos causados pelo veneno sem nenhuma sequela aparente.
Durante os dias que Yellena ficou em coma, nós dois nos revezamos para ficar com ela e conversamos bastante nesse meio tempo.
Ele me contou que tinha 19 anos e que fazia parte de uma pequena alcateia ao norte de Quebec. Contou também que os pais foram mortos pelos caçadores poucos dias antes dele ser sequestrado. O jovem macho ficou três meses em cativeiro, sofrendo todo tipo de tortura física e psicológica até ser resgatado pela minha fêmea.
E desde então ele a segue feito uma sombra.
- É tudo bem grande e espaçoso mesmo, Aiden. - Ela responde, andando até o filhote e acariciando os seus cabelos. - Sua cabana é muito bonita e aconchegante, Dustin.
Ouvir o seu elogio me deixa muito feliz e orgulhoso, não me contenho e chego mais perto dela.
- Nossa cabana, minha fêmea. - Sussurro em seu ouvido, à abraçando por trás. - Fico muito feliz em saber que você gostou da nossa cabana.
Ela fica arrepiada com o meu contato e tenta se desvencilhar dos meus braços, mas eu a aconchego ainda mais junto ao meu corpo. Já percebi que Yellena luta contra a nossa ligação de companheiros e eu me pergunto o porquê disso.
Não entendo o motivo da sua batalha interna contra os sentimentos que nos liga, mas pretendo descobrir em breve! Até lá, ficarei de olho em Yellena e a farei se acostumar com a minha presença constante.
- Essa cabana não é minha, Dustin. - Ela murmura baixinho, não querendo que o filhote escute a nossa conversa. O que não adiantou muito, já que a nossa audição lupina é bem aguçada e ele está nos observando com atenção desde o momento em que saímos do hospital. - E eu não pretendo ficar aqui por muito tempo.
A solto dos meus braços, um pouco irritado com as suas palavras e a vejo vacilar por um momento.
- Venham! Vou lhes mostrar onde fica os seus quartos. - Digo secamente e me viro para subir as escadas.
Ambos me seguem em silêncio, acho que perceberam a minha mudança de humor e não quiseram me irritar ainda mais. Eu preciso sentar e conversar seriamente com Yellena. Quero entender o porquê da sua resistência comigo, já que somos companheiros predestinados e ela se sente tão afetada quanto eu por essa conexão de almas que nos liga. Mas essa conversa precisa ser em um lugar reservado e sem plateia e é exatamente isso que eu irei providenciar agora.
- Esse é o seu quarto, Filhote. Espero que goste. - Abro a porta do cômodo e lhe dou passagem. - Pedi que comprasse roupas para você, estão no closet. - Aponto para a porta correspondente. - A porta ao lado é o banheiro, caso queira tomar um banho.
- Pare de me chamar de "filhote", me chame apenas pelo meu nome. - Pede ele. - E eu gostei sim. Muito obrigada, Dustin!
- Não tem de que, garoto. Agora vá tomar o seu banho e descansar. - Bagunço os seus cabelos ruivos. - Daqui a algumas horas o jantar será servido, mas tem comida na cozinha caso sinta fome, é só ir lá e pegar.
Ele assente com a cabeça e eu saio do cômodo, fechando a porta do quarto e lhe dando privacidade. Yellena ainda está encostada na parede do corredor, nos observando com atenção.
- Obrigada, Dustin! - Ela agradece.
- Pelo que exatamente você está me agradecendo, Yellena? - Indago, me aproximando dela..
- Por tudo o que você está fazendo pelo Aiden. - Explica. - Ele é um bom garoto e eu o amo como se fosse meu filhote!
Sua resposta aquece o meu coração e eu a admiro ainda mais. Minha fêmea não é só uma boa guerreira, mas também é uma boa mulher e, com toda a certeza, será uma boa mãe... A mãe dos meus filhotes! Dos nossos filhotes!
Abro a porta do quarto que um dia foi meu, mas que a partir de agora passarei a dividir com a minha companheira. Faço sinal para que ela entre, entro logo atrás dela e tranco a porta, guardando a chave no bolso da minha bermuda. Dali nós só sairemos quando todas as cartas estiverem na mesa e a nossa situação como companheiros estiver resolvida.