Dustin Leibovitch
Somos um borrão em meio a vegetação daquela densa floresta boreal, as nossas patas correndo em uma velocidade sobrenatural até mesmo para nós. Estamos quase chegando a New Westminster. O plano é nos separarmos quando chegarmos nas proximidades da fazenda, cercar a propriedade e atacar de surpresa e por todos os lados.
Eu, Sinclair, Kundon, Rohan e outros dez lobos seguimos pelo norte, onde os rastreadores encontraram o cheiro de Anthony. Estávamos perto da fazenda quando ouvimos uivos e tiros vindos do lado leste da floresta, o cheiro de medo, pólvora e raiva ficando forte no ar e corremos para onde um lobo jovem corre com um grupo de humanos armados até os dentes em sua cola.
Cercamos e atacamos o grupo de humanos que atiravam para todas as direções em uma vã tentativa de atingir o lobo, não foi difícil desarmá-los e matá-los. O lobo marrom avermelhado percebe a nossa presença e para de correr abruptamente, ele parece assustado e olha para todos os lados como se buscasse uma forma de escapar do nosso cerco.
“— Fique onde está, filhote!” — Ordeno e ele arregala os olhos, abaixando a cabeça em submissão. “— Não vamos lhe fazer nenhum mal, lobo”. — Falo, tentando tranquilizá-lo. “— Pelo contrário, só queremos te ajudar”.
“— Sério?” —Questiona, me olhando esperançoso.
“— Sim!” — Confirmo, olhando em seus grandes e expressivos olhos amarelos. “— Mas precisamos saber quem é você e o que aconteceu aqui? E por que esses humanos estavam atrás de você?”
“— Me chamo Aiden Kannenberg e esses desgraçados estavam atrás de mim porque eu os atraí”. — Ele responde, se aproximando do meu lobo.
Sinclair rosna baixinho, o fazendo paralisar no lugar.
“— E por que você os atraiu, filhote?” — Sinclair o questiona, se aproximando do jovem macho e o cheirando. “— Você poderia ter sido morto, sabia?”
Acho meio estranho a postura do meu beta em volta do tal lobo chamado Aiden, principalmente quando o seu lobo grunhi com a possibilidade do jovem macho ter sido machucado ou até mesmo morto. Noto que o lobo marrom avermelhado também fica estranho com a aproximação do lobo de Sinclair, o farejando de forma mais discreta.
“— Eu sei, mas era o único jeito de distrair os guardas e Yelle conseguir resgatar os filhotes sequestrados”.
Ele tenta explicar e acho meio suspeita aquela história. O sobrenome Kannenberg me soa familiar, mas quem é este lobo? E como ele sabe sobre os filhotes sequestrados?
Yelle…
Quem é Yelle? E por que esse simples nome mexe tanto comigo? Sinto a estranha marca na minha pata direita pinicar como se pequenas chamas estivessem sob ela.
Sacudo o focinho para dispersar os pensamentos confusos e volto a observar o jovem lobo à minha frente. Ele deve ter o quê? Uns 17 ou 18 anos, no máximo. O que para nós, lobos, significa que ele ainda é apenas um jovem filhote. Já que um metamorfo de lobo só é considerado adulto quando completa os seus 21 anos e o seu lobo está biologicamente pronto para acasalar.
“— Acho melhor você explicar essa história direito, filhote!” — Ordeno e ele se assusta.
“— Eu fui sequestrado da minha antiga alcateia há alguns meses atrás , em Quebec, e fiquei em cativeiro com outros lobos e crianças humanas por cerca de três meses”. — Ele começa a explicar, apressado. “— Até que em uma madrugada como esta Yellena nos encontrou e nos resgatou daquele inferno”.
Yellena...
Yelle...
Este nome saindo da boca desse macho com tanta intimidade me causa uma estranha sensação de posse, meu lobo se agitando instintivamente.