Yellena Zieliński
Me sinto meio entorpecida, o meu corpo estranhamente não respondendo aos meus comandos e só consigo enxergar uma névoa escura ao meu redor. Flashs da noite anterior invadem a minha mente, me tirando da minha letargia.
A fazenda, o resgate, os filhotes, heartless, tudo veio na minha memória de uma vez só. Assim como a lembrança daquele macho que surgiu sabe-se lá de onde, o lobo negro com os olhos castanhos e um cheiro delicioso que me fez perder o ar por um momento.
“Por favor… Não me deixe...”
Foi a última coisa que ouvi antes de apagar nos braços daquele macho, antes de ser engolida pela inconsciência. Meus sentidos começam a se apurar, o ambiente estranho e desconhecido entrando em foco para mim. Abro os olhos e analiso o ambiente com atenção, descobrindo que estou em uma espécie de quarto de enfermaria, o cheiro de ervas medicinais e lobos é forte ali, mas apenas dois deles me são familiares.
Vozes alteradas vinham do lado de fora do quarto onde eu estou e aguço a minha audição para ouvir melhor e tentar entender o que está acontecendo e como eu vim parar nessa cama de hospital.
— Você precisa se alimentar e descansar, Dustin. — Uma voz de mulher resmunga ao longe, parecendo irritada. — Já te disse que quando ela acordar você será o primeiro a saber.
— Também já disse isso a ele, Mackenzie, mas ele não me escuta. — Diz Aiden, meio entediado. — Além do mais, Yelle não vai reagir muito bem se acordar e der de cara com um macho estranho velando o seu sono.
— Eu não posso me afastar dela agora, meu lobo não suportaria. — A voz grave e angustiada do macho que deduzo se chamar Dustin me deixa inquieta e um pouco incomodada pela dor impregnada em suas palavras. — E eu não sou nenhum macho estranho, eu sou o seu…
— Nós sabemos muito bem o que você é dela, Dustin. — Corta a mulher que suponho ser a tal Mackenzie. — Mas ela ainda não sabe disso e nós não sabemos como ela vai reagir quando descobrir.
Toda essa conversa não está fazendo o menor sentido para mim. É óbvio que eles estão falando de mim, mas não consigo entender muita coisa sobre o que estão falando. Tirando Aiden, eu não conheço nenhum deles, mas eles falam de mim como se me conhecessem.
A estranha marca em meu pulso começa a pinicar, a minha loba se agitando quando um cheiro delicioso de frutas tropicais invade as minhas narinas sem aviso. Eu me sinto confusa e muito inquieta com essa estranha reação do meu corpo e agitação da minha loba ao inalar mais e mais esse cheiro, preciso descobrir de quem é esse aroma divino e entender o porquê dele está me afetando tanto e só uma pessoa pode me ajudar com isso.
“— Aiden?” — Chamo o meu filhote pela nossa ligação, pois ele é o único em que eu conheço e confio ali.
Ouço quando ele murmura o meu nome e não demora muito para a porta do quarto onde eu estou ser aberta e um Aiden apressado e ansioso entrar correndo. Atrás dele vem uma fêmea linda de jaleco e um macho também lindo e muito parecido com a fêmea.
Fico paralisada quando os meus olhos se conectam com os seus, o cheiro de frutas tropicais ficando ainda mais forte no ar, me deixando agitada e a Minha loba instintivamente querendo sair e uivar para a lua de tamanha felicidade.
“— MEU!” — O rosnado possessivo escapa sem controle da minha garganta.
Mas como é possível? Eu não posso ter um companheiro… não entendo… Sou amaldiçoada…
Minha mente fervilha em questionamentos, tentando encontrar respostas coerentes para as perguntas que eu acreditei já terem sido respondidas. Minha confusão é tanta que eu nem consigo raciocinar direito.