O bom filho a casa torna.

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Nada havia mudado. A cidade exalava a mesma simplicidade de sempre. Era como se o tempo não tivesse efeito sobre aquele local tão importante para ele. Era um lugar atemporal. Isto, de alguma forma, reconfortava o saudosista e nostálgico coração de Sunny.

Ele observava as pequenas casas pela janela do ônibus. Lembrava, de cabeça, quem morava em cada residência, recordando-se das últimas aventuras que teve por aquela vizinhança. Ele estava de volta a Faraway, cidade onde nasceu e cresceu, depois de um ano fora.

Curiosamente, Kel convidou-o para passar as férias em sua casa. À primeira vista, Sunny mostrou-se receoso com a proposta, afinal, ele não se encontrava com o seu velho de grupo de amigos desde o fatídico dia no hospital, quando a verdade finalmente fora revelada a Kel, Aubrey e Hero.

Lógico que, após receberem a notícia, a revolta, a tristeza e o desespero ficaram evidentes no rosto de cada um. Sunny não esperava agradá-los e, muito menos, receber qualquer tipo de apoio. Ele contou a verdade com o único intuito de livrar-se da culpa que carregava consigo há mais de quatro anos.

Dentre os três, Hero foi o mais afetado. O antigo par romântico da Mari não pôde acreditar nas palavras que lhe foram ditas. Ao receber a notícia, ele não conseguiu nem mesmo abrir a boca para xingar Sunny ou algo parecido. Foi como se, naquele momento, o rapaz tivesse perdido seu rumo, seu chão e, como consequência disso, desabou em lágrimas.

Entretanto, a maior ameaça foi Aubrey. Antes desta demonstrar sua tristeza, ela liberou sua fúria. A indignação levou ela a avançar em direção a Sunny, cuspindo perguntas aleatórias e palavras sugestivas no rosto do garoto. Ela não estava apenas estressada, seu olhar também transmitia desespero e decepção.

Por último, até mesmo o otimista e paciente Kel encontrava-se abalado. Não era uma tristeza profunda como a de seu irmão, muito menos uma fúria descontrolada como a de sua amiga, mas ele claramente não estava bem. No final das contas, a verdade também foi um grande baque para ele, seu rosto confuso era a prova disto.

Sunny não se sentia feliz olhando para aquela cena. Muito pelo contrário, o garoto tinha um péssimo sentimento. Suas ações imprudentes trouxeram um sombrio e amargo presente para ele e seus amigos, este detalhe trazia uma assoladora culpa a Sunny, que, naquele instante, apenas observava a mágoa que causou a seus preciosos companheiros.

Sunny mantinha-se calado. Basil ainda dormia profundamente na maca do hospital, talvez fosse melhor assim. O pequeno e loiro garoto não se sentiria confortável caso acordasse em um ambiente cruel como aquele, esta foi a conclusão que pipocou na mente de Sunny.

Kel, percebendo a indiferente, mas gritante, expressão de Sunny, retirou-se do quarto, pedindo para que Hero e Aubrey o acompanhassem. O mais velho, ainda em lágrimas, saiu do local. Contudo, a garota insistiu em permanecer, mesmo contra a vontade de seu amigo.

Com a gola da camiseta de hospital que Sunny vestia em suas mãos, Aubrey repetia as perguntas que jamais ouviram uma resposta. Afinal, o tímido garoto insistia em não abrir a boca, e a única reação que tinha era encarar, em silêncio, a furiosa e confusa garota.

Lembrando desse dia, Sunny rapidamente concluiu que apagou uma grande parte das memórias. Para ele, era melhor não se lembrar daquelas expressões. Era mais fácil esquecer a dor que causou a todos aqueles que amava. Desse modo, Sunny ainda conseguia dormir durante a noite, bloqueando esse tipo de lembrança.

Por último, até onde ainda se lembra, Kel convenceu Aubrey a deixar o quarto. A garota ainda argumentou contra seu amigo, porém, diante de um quieto e inexpressivo Sunny, ela optou por sair da sala enquanto murmurava palavras de ódio.

No dia seguinte, quando se mudou, apenas Kel apareceu. Ele estava na calçada, segurando uma bola de basquete, observando o carro de Sunny ligar, se distanciar e correr pela estrada. O único movimento que fez foi estender seu braço e balançar a mão, com a palma aberta. A única palavra que saiu de sua boca foi: tchau.

Omori - SunburnOnde histórias criam vida. Descubra agora