Omori - Sunburn

O impossível acontecendo de novo.

Havia uma barreira bloqueando o azul celestial. A imensidão das nuvens cobriu o céu de ponta a ponta. Era como se um balde de tinta cinza tivesse, acidentalmente, caído sobre a pintura em tela, impedindo o brilho do sol e seus raios. Aquele acaso representava muito bem o fraco, porém melancólico, atrito entre Hero e Sunny. Foi apenas uma coincidência o dia nublar-se?

Sob o céu acinzentado, Sunny andava de cabeça erguida. Não adiantava nada encarar o asfalto. Depois uma resolução forçada, esta que levou à sua expulsão da casa de Kel, o garoto tinha que mostrar um pouco de determinação, ao menos uma gota de confiança para que pudesse seguir em frente.

Apesar disso, essa cabeça erguida evidenciava uma expressão seriamente confusa. Não era muito alarmante, mas seu rosto levemente transmitia o quão desnorteado se encontrava. Dentre as opções que possuía, a casa de Kel era, sem dúvidas, a melhor. O próprio amigo o convidou para passar um tempo por lá.

Contudo, os planos frustraram-se. Restava, agora, duas alternativas óbvias para Sunny. A esperança do pobre garoto estava depositada nessas duas opções. Se, por ironia do destino, nem uma dessas hipóteses mostraram-se viáveis, o menino estaria completamente sem rumo. Sem um lugar para passar a noite.

Estava temendo essa possibilidade conforme caminhava em direção à residência onde, por conta de uma sequência inesperada de acontecimentos, dormira uma noite. Sim. O garoto escolheu a casa de Aubrey como primeira opção. Ao mesmo tempo que parece uma resposta óbvia, também é, no mínimo, intrigante. Sunny sabia disso muito bem. Kel o contou há poucos minutos.

– Desculpe-me por isso, Sunny! – Foram as primeiras palavras que saíram de sua boca. – Onde você vai ficar agora? – Com uma expressão frustrada, o dono da casa abria a porta da frente. Compreendera os sentimentos do irmão, mas não concordava com suas decisões.

Sunny não respondeu. Ele não precisava falar nada para que Kel deduzisse a resposta. Por isso, o mais novo apenas saiu da casa, carregando nada consigo além de um alívio irônico.

– Hum... Aubrey ou Basil, né? – Como se pudesse ler os pensamentos de Sunny, Kel soprou os dois nomes. Exato. Era muito improvável que outras pessoas da cidade oferecessem uma cama para o garoto de uma hora para outra. Por isso, havia de ser um desses dois amigos de infância.

A princípio, perguntar a Basil soava mais seguro. Os dois eram melhores amigos inseparáveis. Juntos, atravessaram uma experiência traumática bizarra e, de certa forma, superaram as dificuldades. Além disso, o loiro estava acostumado a hospedar seu amigo. Havia o sofá e vários colchões caso fosse necessário abrigar mais alguém. Com tudo isso em mente, Basil era, sem dúvida, a opção mais plausível.

Por outro lado, a casa de Aubrey era suja e velha. O sofá estava em péssimas condições e não havia um colchão extra. A mãe da garota também era um obstáculo inegável, sem contar o próprio comportamento bipolar da garota, que ora se mostrava gentil com Sunny, ora tornava-se agressiva com ele.

– Você quer que eu ligue para o Basil? – Kel forçou um sorriso, pronto para pegar o telefone e perguntar ao garoto. Entretanto, para a sua surpresa, Sunny negou. – Oh... – Um semblante de espanto formou-se em seu rosto.

Um pouco confiante com os resultados recentes, Sunny projetava um movimento arriscado. Ao invés de dormir na casa de Basil, onde com certeza será bem-vindo, por que não tentar abrigo na casa de Aubrey, a garota que ele está tentando se aproximar? Sim. Talvez morar junto por alguns dias fosse um completo exagero, mas não deixava de ser uma ideia viável, uma vez que Sunny tinha uma boa desculpa para isso.

No pior dos casos, Aubrey negaria sem hesitar e Sunny se veria obrigado a ir à casa de Basil. Essa possibilidade poderia criar uma distância entre a menina e seu amigo, porém, nada muito grave. Dessa forma, chegou à seguinte conclusão: não havia motivos para não tentar.