O primeiro passo.

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Pela segunda vez desde que chegou à cidade, o cantar dos pássaros foi a razão do seu despertar. Quando se mudou, perdeu esse contato direto com a natureza e seus sons. Em seu novo lar, o comum era escutar os roncos de motor, os gritos de estresse e a correria de um bairro movimentado. Entretanto, por mais irônico que seja, a melodia dos pássaros era mais propícia a acordar Sunny.

A intensidade dos barulhos urbanos não possuía força o suficiente para arrancar o garoto da cama. Aqueles ruídos não lhe entregam coragem, energia ou disposição. Por isso, Sunny ignora essa agitação. Ele a descarta por sua inutilidade, logo não se sente incomodado. Para ele, é indiferente.

Por outro lado, a sinfonia da natureza ostenta um charme gracioso. Dessa forma, ele não pode simplesmente esquecê-la, não depois de tanto tempo sem escutá-la. Um ano depois, a essência e o encanto de Faraway já soavam nostálgicos aos ouvidos do menino.

Aos sons de fora, levou, com cuidado, as mãos aos olhos, logo notando a ausência da gaze protetora no olho direito. Ele havia esquecido de colocá-la novamente. Suspirou e, com delicadeza, esfregou-os para acostumar-se com a luz que invadia o quarto pela janela. Em seguida, com a visão ainda embaçada, levantou-se e permaneceu sentado na beira da cama. Manhã após manhã, era cada vez mais estranho encarar um quarto diferente do habitual.

Tendo certeza de que a noite passada de fato aconteceu, ele respirou fundo e deslizou o olhar para o outro canto da cama. Aubrey ainda estava deitada, dormindo profundamente. Ao menos foi essa a impressão que teve, uma vez que o rosto da amiga se encontrava, em sua maioria, coberto, não dando nem uma garantia de que ela realmente estava cochilando.

E, antes que notasse, perdeu-se na beleza da garota. Há incontáveis minutos, apreciava a cena que mais parecia ser um delírio, uma ilusão divina. Naquele momento, o sol matinal iluminava os cabelos de Aubrey, exibindo, com clareza, o tom rosa choque que esse possuía. Tamanho era o encanto daquela ocasião que fisgou o garoto.

Devido à harmonia da situação, demorou um tempo para voltar à consciência. Quando retirou o foco da garota, preocupou-se com sua posição e concluiu que era melhor retirar-se da casa o quanto antes. Havia dois motivos para pensar dessa maneira: além de não se sentir à vontade para acordar a amiga, também tinha receio de esbarrar-se com a mãe dela. Como não fazia ideia do horário que a mulher costumava a chegar em casa, considerou que era melhor não correr esse risco. Afinal, as circunstâncias seriam estranhas o bastante para Sunny se recusar a imaginar o que aconteceria se uma mulher descobrisse que um menino dormiu com a filha dela.

Assustado com essa possibilidade, o garoto levantou-se da cama e, em silêncio, caminhou até o alçapão do quarto. Desceu a escadaria lentamente, dando breves pausas conforme seu pé repousava em um degrau. De pouco em pouco, aproximava-se do velho chão de madeira, onde os vestígios das goteiras eram evidentes.

Chegando ao primeiro andar, precaveu-se e não acelerou o passo. Estava em território desconhecido, ou seja, ainda existia a chance de haver outra pessoa por perto. Talvez a mãe de Aubrey tenha retornado durante a madrugada e esteja dormindo no sofá. Era somente uma das várias possiblidades.

Com isso em mente, Sunny entrou hesitante na sala de estar. Assim que o fez, olhou para o ambiente ao seu redor antes de soltar um suspiro de alívio: não havia ninguém no local. Passado o breve momento de suspense, o menino dirigiu-se em direção à porta, dessa vez numa velocidade despreocupada.

Aproximando-se da saída e deparando-se com a porta, a probabilidade de a casa estar trancada afligiu o garoto. Se este fosse o caso, seria necessário procurar pela chave em uma residência alheia. Isso, de certa forma, incomodava o menino, que não aprovava a ideia de aventurar-se em locais que não estava acostumado.

Omori - SunburnOnde histórias criam vida. Descubra agora