Retorno turbulento.

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A pressa era a inimiga da perfeição. Apesar do tempo ser limitado, não havia motivos para forçar a barra, o processo seria lento de qualquer jeito. Naquele dia, com isso em mente, Sunny limitou-se a assistir à retirada da garota, que levava consigo, de forma desajeitada, a barraca e os docinhos que fizera.

Lentamente, a silhueta da menina diminuía. Conforme se afastava, seu corpo tornava-se cada vez menor para o garoto até, enfim, desaparecer do campo de visão dele. Sunny manteve-se estático, recusou-se a falar ou gesticular. Naquele instante, apenas sua mente trabalhava.

Aubrey era uma pessoa que não pensava nas consequências de seus atos. Essa mania um tanto imatura sempre pertenceu a ela e acompanhou-a da infância até a adolescência. Ter consciência disso facilitava o convívio com a garota. Após breves segundos imerso em seus pensamentos, Sunny decidiu que seria melhor deixá-la ir embora por conta disso.

A garota cometeu um deslize. Num impulso, contou uma história pessoal, uma que jamais havia dito a ninguém. Mesmo com a omissão de alguns detalhes essenciais, esse episódio ainda era importantíssimo para Aubrey, portanto, seu comportamento estranho e imprevisível era esperado. Não soube lidar com a situação que ela mesma arquitetou.

Como se isso não fosse o suficiente, Sunny, em um raro momento de coragem, fez uma questão ousada. "Não parece que voltamos cinco anos?". Sim, naquela época, quando o menino ainda era um mero ouvinte, alguém com a função de escutar tudo o que Aubrey tinha a dizer. Mesmo que seu papel não exigisse uma participação ativa, Sunny gostava do que fazia, sentia-se especial por estar ao lado da garota.

As memórias de cinco anos atrás estavam carinhosamente guardadas. Apesar da tragédia inesperada e da separação abrupta, o quinteto não olhava para o passado com maus olhos. Sunny, Kel, Aubrey, Hero e Basil... todos tinham, secretamente ou não, saudades daquela época simples, quando a única preocupação do grupo era não chegar tarde em casa depois de uma longa tarde de brincadeiras.

Citar esse passado distante foi um golpe baixo. Aubrey não estava preparada para ouvir isso, ainda mais de Sunny. Incapaz de responder ao garoto, optou por retirar-se. Não havia motivos para se preocupar, Aubrey era e sempre foi assim. O menino sabia que, no dia seguinte, veria ela novamente no mesmo local.

Satisfeito com o resultado que alcançou, voltou à casa de Kel. O pouco que fez mostrava-se o suficiente para um dia, afinal, continuaria na cidade por algumas semanas. Nesse ritmo, cedo ou tarde, conseguiria convencer Aubrey a desistir do seu plano, ao menos era a impressão que tinha.

Naquela noite, dormiu rapidamente. Era raro vê-lo pegar no sono com facilidade, no entanto, ao deitar-se na cama, notou uma estranha leveza em seu corpo. Sua cabeça não pesava no travesseiro como de costume e seus músculos mostravam-se relaxados, permitindo que o lençol da cama o abraçasse.

Estava, enfim, consertando os erros que cometera no passado? Então seria esse o efeito da redenção, uma noite tranquila? Perguntou-se, sonolento. A sensação de estar trilhando o caminho certo trouxe ao garoto uma pequena prosperidade. No momento, a única coisa que lhe importava era convencer sua amiga a mudar de ideia. Pensando nisso, dormiu antes que percebesse.

No dia seguinte, acordou com a mesma expressão de indiferença, nada de novo. Porém, por dentro, havia um novo ânimo no coração do garoto, uma ansiedade que se instalara e permanecera ali desde a noite passada. Estava apreensivo, mas esse sentimento não era tão ruim como antes fora. Confuso, questionou-se o porquê dessa diferença quando olhou para o seu próprio reflexo no espelho do banheiro.

E, com essa agitação interna, desceu para a sala de jantar, onde seu café da manhã provavelmente o aguardava. Sobre a mesa, dois pratos de ovos com bacon preenchiam o cômodo com um cheiro atraente. Aquilo era o paraíso de qualquer pessoa faminta.

Omori - SunburnOnde histórias criam vida. Descubra agora