Omori - Sunburn

Um passado não resolvido.

Passou-se uma semana desde que Sunny se mudou, deixando, para trás, um fato impossível de ignorar-se e esquecer-se. Como de costume, a garota estava no parque, no entanto, havia um detalhe curioso naquele dia, algo que não pertencia ao cotidiano: encontrava-se sozinha. Ninguém estava ao seu lado, nem um membro da gangue. 

Na realidade, tal cena peculiar, antes improvável, havia se tornado comum depois que o garoto saiu de seu quarto e mudou-se para outra cidade. Aubrey, que não abria mão da companhia de seus colegas, agora optava por ficar sozinha no parque. Era difícil dizer o que se passava na cabeça da garota. 

De longe, notava-se que não fazia muita coisa. Em um dos cantos do local, apenas se sentava em uma pedra consideravelmente grande e observava, em silêncio, seu taco de beisebol. Quando dava vontade, levantava-se com o intuito de bater em algo com o taco. Nesses momentos, havia muitos alvos: pedras, árvores, flores ou o próprio chão. 

Era um modo nada discreto de descontar sua raiva. Não à toa, as pessoas do parque se afastavam da garota, não queriam incomodá-la de jeito nenhum. Aubrey já tinha uma má fama pela cidade e seu título de delinquente somente se tornava mais popular quando fazia algo desse tipo. 

Kim percebeu isso melhor do que ninguém. Pela primeira vez, Aubrey quis ter 'seu espaço'. Estas foram as palavras que usou para explicar a razão de isolar-se no parque da cidade. Apesar disso, Kim sabia que não era simples, havia algo por trás dessa vontade repentina de sua amiga e ela precisava investigar isso. 

Em uma tarde nublada, Aubrey estava sozinha novamente. Ninguém se atrevia a chegar perto, seus colegas sabiam que ela não queria conversar enquanto os moradores do bairro tinham medo. Porém, mesmo assim, uma pessoa em meio a todas arriscou-se: Kim chegou ao parque e cruzou a porção de grama que a separava de sua amiga para, enfim, falar sobre o que estava acontecendo.

– O que está fazendo aqui?! – Aubrey reagiu da forma esperada. Impaciência e indignação estavam estampadas no rosto dela. – Eu não disse que quero ficar só?! – Aproveitou o momento para apoiar o taco sobre seu ombro, fazendo uma pose um tanto ameaçadora.

– Sinto muito por isso. – No entanto, Kim manteve sua compostura. – Lembro-me de suas palavras, mas não consigo ficar sem fazer nada. – Ajeitou seus óculos e fitou a amiga. 

Lentamente, Kim aproximou-se de Aubrey. Ela certeza de que não seria atacada. A visão monstruosa que os moradores criaram de Aubrey era nada mais do que uma mentira. No fundo, ela era uma menina amorosa e frágil que, infelizmente, foi mal compreendida e não soube lidar bem com a situação. Para Kim, esta era Aubrey, alguém incapaz de machucá-la. 

– Por que está fazendo isso? – Ela perguntou com uma expressão serena. – Alguma coisa aconteceu para estar assim, descontando sua raiva. – Ao redor de onde estavam, era possível notar lascas de madeira no chão. Aubrey provavelmente usou uma árvore como alvo. 'Que melancólico', foi o que Kim pensou. 

– Não aconteceu nada. – Contrariando a expectativa de Kim, a garota respondeu de forma grosseira e objetiva. Ela realmente não tinha a menor intenção de contar o que houve. 

A garota ajeitou seus óculos novamente e suspirou, olhando para o taco de beisebol que a colega segurava. Por que estava sendo egoísta a esse ponto? Quando essa questão ecoou por sua cabeça, a discussão estava fadada a acontecer. 

– Aconteceu sim! – Kim elevou o tom de sua voz e o clima começou a esquentar. – Você está assim desde que foi visitar o Sunny e aquele outro menino no hospital! – Com um semblante sério, a garota esbravejava essas palavras. Não queria culpar Aubrey ou fazê-la se sentir mal, mas convencê-la a falar a verdade. 

A menina, obviamente, se zangou. Ela começou aumentou a força com que segurava o taco e, aos poucos, a expressão em seu rosto se contorcia cada vez mais. Era como se estivesse se segurando para não responder à Kim, no entanto, esta ainda não estava satisfeita.