Um rápido mergulho nas lembranças desagradáveis.

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A irracionalidade possui forte influência sobre as pessoas. Não é à toa que os sentimentos nada mais são do que o fruto dessa incoerência. No final das contas, acostumamo-nos a rivalizar o cérebro e o coração. Em termos gerais, um lado representa a racionalidade, a prudência e a sabedoria enquanto o outro retrata a emoção, o descuido e os sensações.

Não importa o quanto um indivíduo experimentou a vida, é esperado que ele tenha enfrentado esse dilema ao menos uma vez. O que é melhor afinal? A escolha mais esperta e segura ou o seu desejo e instinto animalesco? Não há uma resposta certa.

O importante, no entanto, não se limita somente à decisão. O posterior a essa também é de extrema relevância. Qualquer ação que tome desencadeará uma ou mais consequências, sejam estas boas ou ruins. Dá para dizer que é quase como um jogo de loteria.

Infelizmente, Sunny perdeu nesse jogo. Na realidade, ele nunca teve de fato uma chance de ganhar, apenas de amenizar a dor da derrota, e mesmo disso não fora capaz. Como resultado, o garoto agora se encontra diante de um vasto e assustador oceano, cuja natureza não lhe agrada os sentidos.

– Eu tinha medo de que vocês me odiassem. – Foi o que o garoto disse à amiga.

Não soube como reagir. Por mais velho que fosse o assunto, Aubrey ainda tinha dificuldade para lidar com ele. Ela sabia a verdade por trás do acidente, tinha consciência de que Sunny e Basil manipularam o cenário a fim de disfarçar a verdadeira causa que levou Mari à morte. Sim, ela sabia muito bem disso, até porque ouviu toda história do próprio Sunny.

Mesmo assim, sentia que um grande mistério não fora solucionado acerca daquele dia. A razão disso? Aubrey nunca teve a oportunidade de conversar com o garoto sobre o assunto. Dessa forma, Sunny nada mais era do que um assassino cruel, alguém que matou outra pessoa e fez parecer um acidente.

Por que ele fez isso? O que exatamente aconteceu naquela noite? Ela não fazia ideia. Há um ano, no hospital, Sunny não entrou em detalhes, apenas disse o essencial para o entendimento dos ouvintes. É por causa disso que Aubrey insiste no assunto, ela quer ouvir a história inteira, quer compreendê-la melhor.

– Medo de que a gente te odiasse? – Ela riu de nervoso. Queria entender o garoto, mas era difícil conter os ânimos. – Então você fez tudo aquilo?! – Para Aubrey, não fazia sentido ir tão longe por causa do medo. A morbidez do caso era inquestionável, o que, aos olhos dela, invalidava o motivo de Sunny.

– Eu... não sei. – O garoto respondeu em um sussurro, abaixando a cabeça logo em seguida.

– Você achou que resolveria a situação daquele jeito? – Não estava pronta para confrontar a realidade outra vez. Aubrey perdeu a cabeça, simples assim. – Aquilo foi... imperdoável.

Sunny não tinha dúvida quanto a isso. Não desejava o perdão dos outros, muito pelo contrário, sentia-se aliviado em ver Aubrey e Hero desapontados com ele. Desse modo, seu senso de justiça ficava satisfeito, afinal, pensava que não merecia amor justamente pelos pecados que cometeu no passado.

Tomar uma bronca de Aubrey era o mínimo que poderia fazer, por isso o garoto desviou o olhar e ouviu atentamente o desespero da menina. Era um castigo leve perto da atrocidade que cometeu.

– Responda! Você achou que resolveria algo? Por que deu ouvidos ao Basil? Em? – Não importava o que dissesse, não havia uma resposta capaz de satisfazer Aubrey. Sabendo disso, permaneceu em silêncio. – Sunny, fale algo! – Entretanto, essa atitude irritou a garota ainda mais.

Deprimido, o menino nem se esforçava para esboçar uma reação. Aquela situação era desagradável em todos os sentidos. Escutar a dor de alguém, sentir a culpa pressionando seus ombros e encarar uma dura e cruel realidade, o conjunto da obra fazia deste um cenário muito trágico. No final das contas, Sunny limitou-se a encarar o tal oceano, hesitando em adentrá-lo.

Omori - SunburnOnde histórias criam vida. Descubra agora