Valentina
Tentei abrir meus olhos, mas instantaneamente senti minha cabeça pesar. Era como se o peso de vários prédios tivessem caído sobre meus neurônios e provocassem uma catástrofe sem prévio anúncio. Tinha a força de um avião colidindo com um arranha-céu e o mesmo potencial desastroso concentrado.
E a pior parte era saber com precisão o que levou aquela tragédia particular: Três garrafas de vodca, cinco copos de uísque e shoots servidos diretamente dos seios mais fartos da noite romana provocaram em mim aquele resultado ruim, mas totalmente calculado.
Um grande filósofo disse uma vez: Eu bebo para esquecer, se fosse para lembrar eu anotava. Espera... Talvez não tenha dito nessas palavras, ou quem sabe essa era só uma frase de efeito, mas o fato era que eu realmente só queria me desapegar de todas as lembranças que eu pudesse na noite de ontem.
— Valentina? — O dia pareceu me chamar com sua voz aveludada. Eu não gostava do sol e da claridade, pois geralmente era aquele momento que exigia certa honestidade. Era difícil omitir-se com a luz de uma janela que ia do teto ao chão jogada em sua face.
— Você não vai levantar? — Percebi que não era nenhum recado do dia para mim naquele momento. Com uma voz próxima percebo que se trata de Giovanna, uma velha amiga daqui da Itália.
— Só mais cinco minutos? — Eu pedi aquela loira que apesar de inconveniente era atraente como o inferno.
Giovanna, em contrapartida, não caiu em meus encantos como eu parecia ter caído nos dela. Sem pudor ou compaixão simplesmente levou o lençol deixando-me nua e sem alternativas para me esconder.
— Se eu te der cinco minutos você fica o resto da vida nessa cama — Ela falou convencida e pelo prazer de provar que estava errada eu quase a confrontei, deixando, porém, aquilo de lado quando a náusea me bateu ainda mais forte do que a enxaqueca jamais tentou.
Corri para o banheiro sem sequer aguardar mais comentários e a cabeça que um dia teve dificuldade de manter-se em uma única posição caiu despencada sobre o vaso sanitário.
Sentia como se não pudesse nem controlar a porra do vômito que vinha aos jatos em minha garganta que ameaçava e me matava numa interrupta ação.
— Você está um caco — Giovanna falou da porta do banheiro, especificamente do outro lado. Ao menos em meu último ato de dignidade resolvi tranca-lá.
Quando finalmente reuni forças para me levantar me senti um amontoado de ressaca física e moral, tentando limpar alguns erros na base da água e sabão importado.
Entretanto, a cada vez que esfregava meu corpo ou meus dentes nada daquilo impregnado em mim parecia sair, não tendo eu outra alternativa ao fim do que me deixar levar pelo pior que o banho e a consciência que podem proporcionar: As lembranças que justificavam os equívocos da atualidade.
— Sua mãe disse que amanhã é seu aniversário... — Ele começou a conversa. Era totalmente incomum que fizesse aquilo e a tentativa me deixava surpresa ao ponto que contente. Que menina de dez anos não estaria com a mínima atenção de sua figura paterna?
— Isso mesmo — Tentei não demonstrar muita euforia, mas naquele momento mal conseguia espetar os aspargos do meu prato de tão radiante.
— E sabe o que quer de aniversário? — Seu olhar não chegava aos meus, estava concentrado em suas pastas e se eu fosse só um pouco mais esperta na época saberia que sua pergunta era por mera conveniência e não necessariamente pela importância que eu tinha para ele.
— Mais disso — Eu pedi numa rapidez tão grande que não pude frear as palavras. Eu teria feito se pudesse afinal. Estava, inclusive, pronta para engolir as palavras, sendo no entendo interrompida por seu olhar se levantando da sua papelada para mim.
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A família que eu herdei (Versão Valu)
FanfictionValentina e Luiza são de mundos totalmente distintos. Enquanto a primeira vive todos os privilégios de ter nascido uma herdeira a outra responde pelos infortúnios de ser uma mãe solteira no auge de sua juventude sem qualquer apoio ou subsídio. Duas...