Capítulo 26 - Aceitação

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Valentina

— Vou falar mais devagar para ver se você me entende, certo? Eu não tenho nada a comentar sobre esse assunto — Falei batendo o telefone da mansão contra o gancho.

Eu definitivamente odiava as segundas-feiras. Era o primeiro dia da semana, o momento em que todas as pessoas achavam que poderiam resolver todos os problemas do mundo e potencialmente o dia mais cheio no trabalho.

As segundas eram dias de reunião. Dia de colocar as contas em dia, dia de ver os vinhos brancos do conselho, mas especialmente atender as expectativas do mundo. É o dia que se espera uma imensa produtividade.

Em especial nessa segunda eu me sentia estressada, mas não tinha somente a ver com o dia em si e sim com um comercial de fim de domingo que eu não previ que traria tantos problemas.

Em seu momento a brincadeira havia sido muito boa. Eu e Luiza havíamos nos divertido, o tesão entre nós ficou evidente e depois disso não demorou muito a que nos beijássemos, mas tudo isso foi preponderante para que não víssemos o óbvio: O problema que aquilo geraria.

Para a maioria das pessoas éramos irmãs. Quando noticiada na mídia a notícia da existência de Luiza desde o princípio ela fora tratada como uma filha anterior ao casamento do Mauro, algo de cerca de meses, mas ainda assim.

E como minha mãe ou eu fizemos questão de dar uma declaração distinta para a sociedade e mídia em geral éramos irmã maus nova e mais velha. Com isso, imaginem o prato cheio que não era para pessoas e jornalistas verem nós duas num comercial de televisão.

As especulações não paravam de surgir e concomitante a isso o meu telefone não parava de disparar com inúmeras ligações dos meios de comunicação. De Instagram de fofoca à veículo sério todos queriam uma declaração contraditória da filhinha incestuosa de Mauro Duarte-Leão.

— Se você pretende ir até a loja eu te aconselho a parar exatamente onde você está — Eu disse assim que Luiza chegou com Leonardo para o café da manhã.

Ela parou no ato um pouco assustada. Eu entendia que ela acabou de acordar e nem deveria ter olhado a internet ainda, mas minha sinceridade cortante me impedia de fazer preâmbulos para colocá-la a par dos acontecimentos.

— E por qual razão? — Luiza perguntou com uma expressão inocente que por um momento me deu muita pena.

— O nosso comercial. Alguns meios estão comentando da nossa proximidade e especulando um romance entre nós — Expliquei para Luiza que começou a rir. Ela não via a gravidade daquilo?

— Tudo bem que demos uns beijos, mas romance me parece prematuro demais — Luiza falou enquanto tampava as orelhas de Leonardo. Eu teria ficado atenta ao detalhe que ela não negou a notícia por completo, mas a coisa estava realmente feia para perder tempo com isso — E mais... Nós não somos irmãs — Reiterou e seria fácil se todos só concordassem com aquilo.

— Acontece que ninguém nunca veio a público para corroborar essa versão que temos. Mauro não sabia que você existia por boa parte da minha vida e sempre me assumiu publicamente como filha. Quando você veio a narrativa assumida era de que você era uma filha fora do casamento, tudo para continuar preservando a minha mãe dos ataques depois de tanto tempo — Eu declarei finalmente fazendo Luiza entender o que estava acontecendo.

— Nesse caso o cenário é bem ruim —Luiza disse se dando conta — A não ser que... — Ela começou — ...E se falássemos com sua mãe? Ela viria a mídia e falaria a verdade dos fatos, assim as pessoas parariam de inventar mentiras sobre termos alguma coisa — E nisso Luiza toca num ponto sensível.

Eu e minha mãe, analisando por toda a trajetória da minha vida, não tínhamos uma boa relação. Primeiro pela razão dela acreditar que eu poderia ser uma cópia sua em todos os jeitos, andados e posicionamentos e segundo por ela não ter reagido bem ao perceber que eu não poderia ser aquela pessoa.

A família que eu herdei (Versão Valu)Onde histórias criam vida. Descubra agora