Capítulo 17 - O beijo que não fazia parte dos bens - Parte II

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Narrador

Valentina tocou os lábios de Luiza como se fosse o último que pudesse fazer em sua curta vida. Havia vivido seus vinte e poucos anos como ninguém, frequentado as melhores baladas, tomado as mais caras bebidas e provado as bebidas mais caras, mas nada era como aquilo.

Um poeta dizia que o amor era um fogo que arde sem se ver, que é uma ferida que dói, mas não se sente e ainda que não soubessem o que era aquele sentimento que misturava tanta intensidade eram consciente que ardia em alto fogo, um que corria em ambas as veias na mesma forma, profusão e velocidade.

Era tão forte que quase ameaçavam para no meio, entretanto, era tão arrebatador que sentiam que se não experimentassem estariam perdendo o sentido de tudo que tinha na vida.

Luiza tinha um filho. Uma vida tranquila, amigos que a amavam. Não precisava de nenhum problema para esquentar sua vida monótona, pois gostava de experimentar a calmaria que nunca teve.

Ao mesmo tempo, aquele toque era um conflito ganho em sua pele. Poderia querer chegar em casa antes das nove, comer legumes no almoço e doces apenas no fim de semana, mas ainda que tentasse manter tudo numa regra fácil aquela era uma exceção que sentia, ao menos por dois minutos, que tinha que abrir.

Valentina era o oposto. Sua vida era demasiado complicada desde que tinha lembranças. Do desamor da sua mãe e desprezo do seu padrasto vinham traumas que nem conseguia mensurar e que a afetava de tudo que parecia bom.

Apesar disso não conseguia fazer aquilo com Luiza. Em toda tentativa havia falhado e toda vez que a razão mandava que a mantivesse longe era como se algo gritasse dentro do mais escuro canto dentro de si que ela fosse atrás.

Que a atraisse, que mantivesse nos braços, que não a soltasse antes que pudesse desfrutar do segundo de vida que parecia coletar de seus lábios, pois era isso que sentia.

Era como se todos esses anos tendo tudo não significassem nada. Nada era o suficiente diante da suavidade dos lábios de Luiza, da Luiza que durasse o que durasse era sua pelos segundos que o impiedeso destino deixasse durar.

Ambas encontravam nas bocas unidas uma zona de convergência. Nunca combinavam em nada, eram pessoas totalmente diferentes, mas se algo ardia num peito e estava no outro era aquela atração cada vez mais latente.

Não havia chuva que apagasse, não havia raiva que impedisse ou grito que viesse. Era um sim porque não tinha como ser não, por mais que o certo fosse negar.

Nunca quiseram tanto ir pelo que parecia mais errado. E era engraçado, porque Valentina nunca seguiu regra nenhuma, mas Luiza as mantinha como se fossem sua própria lei.

Ambas perdiam, ambas ganhavam, mas não podiam estar em outro lugar. Tinha que ser ali, tinha que ser agora, tinha que vir com urgência, com sôfrego, com toda essência do caos que compartilhavam.

Quando Luiza abriu seus lábios Valentina deslizou neles sem nenhum pressa. Era como se estivesse aproveitando aquele ser ou não ser que conscientemente poderia ser o último.

Seria seu eterno tormento não voltar a toca-los, mas ainda não lamentaria. Luiza estava ali e seus lábios atentos suplicavam que sua língua surgisse como água a quem mais necessitava.

E estavam rodeada de muita. Havia chuva em suas roupas, em seus sapatos e certamente até no celular, mas nenhuma sede seria sanada antes que se encontrassem.
E aconteceu.

Valentina, em um cuidado que até seu corpo desconheceu, segurou a outra morena com uma mão em sua cintura e outra em seu rosto, acariciando sua têmpora, tirando dali algumas gotículas de água que fatalmente caíram por suas bochechas.

A família que eu herdei (Versão Valu)Onde histórias criam vida. Descubra agora