6 - Seja meu. Por favor.

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Para falar a verdade, Hua Cheng ainda acha que está dentro de um sonho muito bem elaborado pela sua mente criativa e complicada, pois como ele poderia acreditar que Xie Lian havia correspondido aos seus beijos e toques? Sua autoestima o diz que isso é inconcebível, mas a realidade deste momento – constituída de vários abraços e selinhos recebidos de Xie Lian desde que eles terminaram de limpar a sujeira feita pela comida queimada – o prova o contrário.

Hua Cheng ainda tentou salvar a carne e o macarrão queimados, mas não teve muito sucesso. No final, eles decidiram pedir o almoço em um aplicativo de entregas, e Hua Cheng não fez questão de esconder sua tristeza pelo fato de que não iria conseguir comer algo feito pelas mãos de Xie Lian. O veterinário o consolou dizendo que haveriam inúmeras oportunidades de preparar algo para ele, e suas bochechas logo ficaram vermelhas, pois isso significava que aquilo – seja o que for que eles estivessem vivendo na pequena cozinha de Xie Lian – não era algo de uma vez só. Que iria continuar.

Depois do almoço, Xie Lian e Hua Cheng haviam se separado para dar a comida de E'Ming e Ruoye, pois ainda não era uma boa ideia deixar que eles dividissem o mesmo espaço de alimentação. E por mais meloso, clichê e exagerado que soasse, Hua Cheng não tem vergonha nenhuma de dizer que sentiu falta de Xie Lian naqueles poucos minutos em que não esteve com ele.

É apenas a realidade: Xie Lian mais distância é igual a saudade, simples assim.

Para a felicidade de Hua Cheng, agora eles se encontram sentados confortavelmente no tapete da sala de Xie Lian, com Ruoye dormindo de barriga para cima no chão friozinho e E'Ming se limpando no sofá, enquanto olham os álbuns de fotos do médico veterinário. Estando um ao lado do outro, suas pernas e braços se tocam e trocam um calor agradável; Xie Lian apoia a mão na coxa de Hua Cheng de vez em quando e esconde o rosto em seu ombro para rir de alguma situação engraçada que vê nas fotos.

Se perguntassem a Hua Cheng qual é o momento mais perfeito de sua vida, ele provavelmente responderia sem pensar duas vezes: o agora. Esse exato momento, com a aura de Xie Lian ao seu redor, o abraçando por completo e o acolhendo de braços abertos. Com Ruoye e E'Ming confortáveis ao lado deles, como se também já tivessem aceitado esse "lar". O perfume leve e doce de Xie Lian adentrando os seus sentidos, a risada gostosa e livre preenchendo o local, seu toque carinhoso a cada segundo, como se não pudesse ficar muito tempo longe...

Hua Cheng se sente a pessoa mais sortuda do planeta inteiro.

— Ah, essa aqui é do dia da minha formatura! — Xie Lian exclama ao encontrar uma foto em que aparecem ele, Feng Xin e Mu Qing mostrando seus canudos do diploma com sorrisos orgulhosos estampados nos rostos. Hua Cheng sorri ao ver um registro de Xie Lian tão orgulhoso de si mesmo, desejando que pudesse ver mais disso todos os dias, pois o veterinário merece se orgulhar do que faz.

Junto daquela foto, há algumas outras do mesmo dia, e Hua Cheng consegue ver a nostalgia explícita no olhar de Xie Lian. Um olhar feliz e satisfeito, mas saudoso, provavelmente lembrando de quem ele era naquela época.

No entanto, de repente, o olhar nostálgico se transforma em um de tristeza. O castanho-claro dos olhos de Xie Lian parece ser coberto por uma nuvem escura e Hua Cheng se inclina mais um pouco para perto dele, percebendo que a foto nas mãos do homem havia mudado.

Agora, a imagem mostra Xie Lian com os braços por cima dos ombros de um homem e uma mulher, sorrisos de orelha à orelha, orgulhosos, no rosto de cada um deles. O casal parece ter por volta dos cinquenta anos, mas a idade só é mais visível no homem, e Hua Cheng entende que aqueles são os pais de Xie Lian.

O tópico "família" não é algo que costuma surgir muito nas conversas que Hua Cheng tem com Xie Lian, pois ele próprio não se sente completamente pronto para falar sobre a única família que teve em sua vida. Mesmo que por poucos anos – e mesmo que esses anos não tivessem sido da maneira mais adequada para uma criança –, a mãe de Hua Cheng havia dado o melhor de si, do jeito que podia. A perda dela lhe causou traumas que ainda o assombram, como uma dor crônica que nem sempre está presente, mas que existe – está ali, e provavelmente nunca irá embora.

on your strings | hualianOnde histórias criam vida. Descubra agora