7 VIDAS POR VOCÊ - Sariette

A Terceira Morte, Gula

Belzebu

Este causaria a gula. Sua imagem veio do deus da fertilidade Baal, idolatrado pelos cananeus, mas considerado um falso ídolo pelos cristãos. O demônio mais próximo ao grande líder Lúcifer, o segundo mais forte entre toda a legião, o segundo na linha de comando, o consideram a origem do orgulho.

Interior da Paraíba, 9 de Maio de 2035.

Dormir nos braços de Sarah era o ato mais confortável, o mais aconchegante, o mais reconfortante depois de tudo que sofreu naquele dia. Perder a mãe, o único ser humano que ainda se importava com ela, era algo doloroso de mais, mesmo que estivessem distantes nos últimos anos, mesmo que não se vissem a anos, mas ainda assim, havia uma certeza de que existia uma pessoa a aguardando, uma pessoa que se lembrava dela, uma pessoa que se preocupava com a sua existência, porém agora, essa pessoa se foi e Juliette se via completamente sozinha naquele mundo, sem ninguém que se importasse por ela. E por essa razão, sentir o instinto protetor de Sarah, sentir seus braços a apertando contra seu peito, sentir seu perfume amadeirado, sentir o calor do aconchego de suas asas lhe prendendo, a protegendo, tudo isso resultava em um sentimento quente dentro de Juliette, a única chama acesa em meio a toda a frieza da tristeza que lhe assolava naquele momento.

E foi agarrada a esse pequeno calor que ela conseguiu adormecer, assim, encolhida contra o peito de Sarah e envolta em seus braços. Porém, após algumas horas naquele conforto, algo atraiu sua atenção, um silêncio intenso de mais, não havia mais os ruídos vindos da rua, as falas dos vizinhos ao lado de fora, os grunidos dos animais da vizinhança, todos esses sons os quais era acostumada e se recordava por ali naquela região, porém não havia nada, apenas um silêncio frio, vago e extremamente incômodo e dessa forma o subconsciente fez Juliette, aos poucos, despertar.

O quarto estava quieto, uma penumbra tomava o cômodo o qual dormia com Sarah, a casa também parecia quieta, tudo estava quieto, não havia nenhum barulho e tudo isso junto causava um grande incomodo na morena. Juliette ergueu a cabeça do peito de Sarah e ao encarar a loira, percebeu que a mesma dormia, parecia estar em um sono profundo, o que era estranho já que o arcanjo nunca adormecia. A morena encarou Sarah por alguns segundos, observou se ela respirava e se sentiu mais aliviada ao assistir seus pulmões inflando.

:- Sah... - chamou em um tom baixo e sacudiu o corpo da loira levemente, porém não houve respostas. - Sarah? - tenta mais uma vez, mas a loira não reagiu, nem um simples gestos, parecia estar em outro mundo. O corpo e membros de Sarah aparentavam pesados de mais, sem reações, mesmo que respirasse de forma ritmada.

Tudo aquilo parecia tão estranho, tão surreal, Sarah nunca dormia, por que agora ela simplesmente não acordava? Sarah estava sempre alerta a qualquer mínima emoção de Juliette e agora que a morena começava a sentir medo, Sarah não reagia, aquilo não estava certo. O mundo parecia parado. Parecia um grande transe o qual a morena se encontrava presa, um limbo obscuro e silencioso.

Juliette levantou ficando de pé ao lado da cama, encarou Sarah por alguns segundos esperando alguma reação e novamente não obteve nada, apenas a respiração pesada. Chamou o anjo mais uma vez e nada. Apenas mais uma vez o silêncio ensurdecedor.

Um assobio.

Um assobio vindo do fundo do corredor foi o responsável por fazer todo o corpo de Juliette se arrepiar, um frio gélido e torturante tomou e cresceu por sua espinha fazendo arrepiar os fios de cabelo em sua nuca. Seu corpo paralisou em terror ao ouvir aquele assobio que ela conhecia muito bem, uma música vaga e ecoante por todas as paredes, o assobio que sempre a alertava do horror que estaria por vir.