A Cabana

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"Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou."

- Apocalipse 21:4 -



Interior da Paraíba, 10 de Maio de 2035.

O silêncio quebrado por um cantar de um bem-te-vi junto ao dia ensolarado, pintado por um céu azul, poderiam ser exatamente o fundo de um dia alegre e animado, porém a energia que pairava sobre o ar daquele dia era de tristeza e desolação. Assistir o caixão com o corpo de sua mãe descer a sete palmos abaixo da terra foi responsável por iniciar uma dor fina e aguda em seu coração. A dor da perda. A dor da falta. A dor da saudade. Aos poucos aceitar que perdeu para sempre a única pessoa que te enxergava na Terra, era algo triste e dolorido de reconhecer.

Não havia mais ninguém ali além de Juliette e Sarah, apenas as duas mulheres prestigiavam os dois homens preencherem o buraco com terra. Não havia mais ninguém que se importasse.

Juliette se afastou de Sarah, o arcanjo observou por alguns segundos Juliette caminhar por aquele chão de grama verde e sentar em um dos bancos de cimento. O olhar castanho estava preso na movimentação da pá que enterrava sua mãe, nos blocos que terra que aos poucos cobriam a madeira do caixão envernizado.

 O frio gélido do sentimento de perda refletiu sobre Sarah fazendo as penas de suas asas se arquearem. Sarah caminhou até Juliette, seus passos eram lentos até a morena, sabia que sua humana sofria com a perda, mas ao mesmo tempo compreendia que aquele era um sentimento necessário para cerrar aquele ciclo de luto e despedida. O arcanjo então, apenas sentou ao lado da humana, seus dedos brancos deslizaram sobre o banco e seguraram a mão de Juliette, como uma reação automática ao toque de seu anjo, Juliette recebeu bem aquele contato, entrelaçou seus dedos entre os de Sarah e no mesmo instante suspirou pesado. Ela não estava sozinha. Diferente de todas as outras vezes que passou por algo pesado, triste e doloroso e precisou aprender a lidar com sua dor sozinha, daquela vez ela não estava sozinha, não mais. 

O calor de Sarah aqueceu sua mão, seu corpo, seu coração, sua alma. Seu anjo estava ali para ela e tal conclusão fez um aperto se formar em sua garganta, sentiu seu queixo tremer e sua visão embasar com as lágrimas que se juntaram ali. E então ela chorou, o choro que esteve segurando por tanto tempo, o choro que ninguém nunca escutava, o choro que ninguém nunca escutou. 

O soluço alto fez Sarah se por em alerta, puxou a menor para si e a confortou contra seu peito a apertando em seus braços. O beijo casto e carinhoso que depositou no topo da cabeça de Juliette fez a morena suspirar mais uma vez, finalmente ela tinha alguém ali, alguém que a enxergava, que lhe escutava, que a sentia. Alguém que se importava.

O resto da manhã se passou em silêncio. Após o choro, Juliette continuou deitada contra o peito de Sarah, o aconchego que sentia nos braços da loira não se comparava a qualquer outra coisa. O choro já havia cessado, porém o suspiro sentido ainda era algo presente. As duas mulheres, ali sentadas sobre o banco do cemitério, debaixo da sombra de uma figueira, admiravam a sepultura de sua mãe agora já pronta, observou a lápide com o nome e as datas de nascimento e óbito. Por alguns minutos se permitiu pensar em como sua mãe estaria agora, no céu, com sua irmã, feliz e livre de todo sofrimento na Terra. Agora ela estava bem, estava livre. 

:- Eu não tenho mais ninguém Sarah, ninguém. - o sussurro da morena cortou o silêncio daquele lugar mórbido. - Meus pais morreram, meus irmãos nunca mais me procuraram e logo não terei mais você.

7 VIDAS POR VOCÊ - SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora