capítulo 11

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Gwyn

A sensação de voar era inebriante. Eu me sentia tão livre e segura, era como se eu estivesse acima de qualquer perigo. A não ser que o Azriel me solte, aí eu teria um perigo em tanto.

Desviei meus olhos da paisagem abaixo e encarei o encantador das sombras. Minha mente vagou para hoje mais cedo, quando encontrei a família paterna dele. Como era possível ele ser tão parecido - fisicamente - mas tão diferente deles? Azriel teria uma boa justificativa para ser uma pessoa má. Mas...ele era bom.

O mesmo se encontrava tão leve que eu não queria mencionar o ocorrido. Não queria destruir aquela leveza.

- Admirando a paisagem, sacerdotisa? - Sorri sarcasticamente para seu tom convencido.

- O termo correto seria "julgando", mestre espião. - O mesmo soltou uma risada baixa. - se eu fosse você não zombava, todos os homens que pisaram nessa terra deveriam temer o julgamento de uma sacerdotisa.

- E qual seria o meu julgamento?

- Você vai pro inferno. - Cruzo os braços e desvio meus olhos para a paisagem abaixo. Me remexi quando senti algo no meu peito vibrar com o som da gargalhada dele.

A vista era tão linda. Eu queria ter um pegasus ou qualquer outra criatura que voasse - um pegasus de preferência- para poder acompanhar meus filhos quando os mesmos pudessem voar.

Eu ficaria tão deslumbrante em cima de um pegasus.

Contive um grunhido quando a lembrança de mais cedo voltou. Eu estava com um péssimo pressentimento sobre eles. Eles são problemas e agora sabem que eu estou grávida.

Aqueles morcegos deformados não chegariam perto dos meus bebês.

E por alguma razão, eu sinto que preciso procurar o sobrinho do Azriel. Eu não sei nada a respeito dele, mas tem essa voz dentro de mim sussurrando que eu tenho que o achar.

Mas como eu vou fazer isso?

- Quer me contar alguma coisa, Gwyn? - Me sobressalto quando sou tirada dos meus pensamentos. Tinha esquecido que ele estava aqui.

Aquela leveza sumiu, dando lugar a seriedade e preocupação.

- Não. - Minto. - Não quero te contar nada.

- Eu nem preciso das minhas sombras pra saber que você está mentindo, Berdara. - Reviro os olhos com o seu tom repreendedor. - O que está escondendo de mim?

Uma parte das sombras fofoqueiras, estavam em minhas mãos como se tivessem me incentivando a contar. A outra parte, estava me olhando por cima do ombro do Azriel, esperando pacientemente eu revelar o que tanto me aflige.

- Te conto depois, pode ser? - A carranca dele se aprofundou. - No momento, não estou com cabeça pra isso.

- Foi tão sério assim? - Mordi os lábios. Pra ele vai ser, eu acho.

- Isso vai depender do seu ponto de vista. - Dei de ombros. - No meu, não foi nada demais. - Acrescento quando vejo o mesmo abrir a boca para debater. - Depois, Az.

O mesmo suspira cansado, e ali eu soube que ele se rendeu. Usar o apelido dele nunca falha.

Acariciei de leve as sombras que estavam em minha mão. Elas eram tão fofas e aconchegantes.

- Elas parecem decepcionadas comigo. - Sussurro franzindo a testa.

- Não estão decepcionadas com você. - Encaro Azriel. - Estão decepcionadas com elas mesmas.

Segunda chanceOnde histórias criam vida. Descubra agora