Capítulo 53

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Chego à casa do Oliver pouco antes das seis da tarde. Paro o carro em frente ao portão de acesso de pedestres, mas permaneço dentro do veículo por mais uns dois minutos, juntando coragem para sair. Por fim, respiro fundo e saio.

A rua tranquila está um pouco silenciosa. Ao longe, escuto um cachorro latindo, mas o barulho logo cessa. Um pássaro canta daqui, é respondido dali, mas nada além disso. Apenas a tranquilidade e o silêncio. Quem diria que isso seria possível em Londres!

Olho mais um pouco ao redor e percebo que eu realmente gostaria de viver ali. Seria a realização de um sonho. Do nosso sonho.

- Olá! - olho para o lado, assustada. - Não queria te assustar.

Um menino, que aparenta ser um pouco mais velho que Bonnie, ri da minha reação.

- Meu nome é Alexander Otto. Moro na casa ao lado - aponta para residência parecida com a de Oliver.

- Ah! - abro um sorriso amigável. - É um prazer te conhecer, Alexander! Eu sou a Alice Gr... Apenas Alice.

- Boa noite! - uma mulher alta, de pele bronzeada e cabelo preto, aproxima-se de nós. Pelas feições de ambos, desconfio que seja a mãe de Alexander. Respondo a saudação. - É a nova vizinha?

- Er... - olho para a casa a nossa frente, antes de dar mais uma gaguejada. - Na verdade, ainda não - ela arqueia a sobrancelha. - Esta é a casa do meu noivo.

- Entendi! Mas então é questão de tempo para vir para cá - pisca. Eu assinto, sorrindo.

- Ele tem uma filha. Ela é mais nova do que eu e se chama Bonnie - arregalo os olhos. Como esse garoto sabe de todas essas informações?

- Alexander! - a mãe puxa sua orelha.

- Ai mãe! - ele esfrega a região. - Eu ouvi os dois conversando essa semana através do muro que divide nossas casas. Eu não estava bisbilhotando, apenas brincando próximo a cerca - dá de ombros.

Não resisto e começo a rir.

- Bom, talvez vocês se deem bem. A Bonnie é um amor de criança e ama fazer amizades.

- Legal! - sorri.

- Agora preciso entrar. Foi bom conhece-los - despedimo-nos.

Respiro fundo, mais uma vez, antes de entrar pelo portão de pedestres. Ao me aproximar da porta, escuto as gargalhadas da minha filha. Isso enche o meu coração de alegria, mas também de culpa. Como pude abandoná-la?

Ergo a mão para apertar a campainha, umas dez vezes. E se Oliver me colocasse para fora. E se ele estivesse irritado comigo por não ter aberto a porta das vezes que esteve lá, por ter abandonado nossa filha. E se ele desistisse do casamento, de nós...

- Não! - balanço a cabeça, mandando embora todas as dúvidas e medos. - Nada de medo! O Senhor é comigo.

Sem perder mais tempo, aperto a campainha. No mesmo instante as risadas de Bon cessam. Envergonhada e culpada por estar estragando um possível momento entre pai e filha, abaixo a cabeça, fitando minhas mãos unidas. Mas assim que a porta é aberta, meu olhar é atraído para os orbes verdes acinzentados que me fitam com surpresa.

De cara, consigo notar as manchas escuras profundas ao redor de seus olhos. E a grande culpada sou eu...

Penso em trezentas coisas para falar, mas a reação de Oliver me surpreende, calando qualquer tipo de desculpa. Ele fecha os olhos e suspira alto. Quando volta a me encarar, seus olhos estão marejados. Então ele abre os braços para mim. Imediatamente eu me jogo em seus braços.

Eu o aperto. Ele me aperta. Nossas dores sendo misturadas sem nenhuma palavra dita. Como pude escolher passar por tudo isso sozinha, quando meu lugar era aqui. Sempre foi aqui, ao lado do Oliver e da nossa filha.

- Que alívio ter você aqui, meu amor! - ele sussurra entre o meu cabelo. - Que alívio!

Sinto o seu coração bater forte e descompassado. Mas os ombros relaxam à medida que ele percebe que sou real. Que realmente estou aqui.

- Me perdoe por isso, Olie! Eu fui estúpida em não ter te escutado.

- Não diga isso! - ele nos separa um pouco, a fim de olhar em meus olhos. - Você não foi estúpida. Apenas não soube como lidar com essa situação. O importante é que agora você está aqui, e iremos passar por isso juntos - seu sorriso me fez querer beijá-lo, mas me recordo do nosso combinado. Apenas depois do casamento.

- Obrigada! Eu amo você! - aliso seu rosto com delicadeza.

De soslaio, vejo um movimento que chama minha atenção. Meus olhos são atraídos para outros orbes verdes. Desta vez, os da minha filha.

Bon está no colo de um senhor completamente desconhecido por mim, mas suas feições não me são estranhas. Minha filha me observa atentamente, mordendo o dedão com força. Ela não esboça nenhuma reação, mas ao me aproximar, um sorriso começa a aparecer em seus lábios. Um sorriso que derrete o meu coração.

- Mamãezinha! - diz, estendendo os braços para mim.

- Meu amorzinho! - pego-a no colo e a aperto tanto até que Bonnie reclame pela falta de ar. - Por favor, me desculpe por ter ficado distante todos esses dias. Eu te amo tanto, minha filha! Como senti sua falta!

- Nós também, mamãe! - ela enxuga minhas lágrimas. - O papai e eu oramos todos os dias por você! Ah, e o vovô também! - Bon olha para o senhor com um sorriso enorme.

Vovô?

Então tudo começa a fazer sentido. A semelhança entre os três é perceptível. Apesar de Oliver e Bonnie serem a cópia um do outro, ele também se parece bastante com o pai, mais até do que com Gianna.

- Alice - Olie se aproxima de mim, contornando os meus ombros com o braço. - Gostaria que conhecesse o meu pai, Octavio - o senhor dá um passo em nossa direção. - Pai, esta é a Alice, mãe da Bonnie, e minha noiva.

Sinto as bochechas arderem ao ouvir tais palavras.

- É um prazer finalmente te conhecer, Alice! Desde o momento em que nos aproximamos, o Oliver sempre falava bastante de você - olho para o meu noivo, sem compreender o que estava acontecendo.

- Amor, acho que não cheguei a comentar nada sobre isso, mas após me converter, o Senhor me ajudou a liberar o perdão - ele olha para o pai, um sorriso genuíno em seu rosto. - Escolhi dar uma chance para nós. Desde então, nos aproximamos e agora fazemos parte da vida um do outro de forma ativa. E confesso que foi uma das melhores escolhas que fiz.

- Fico tão feliz por isso! - seguro sua mão com força. Eu sabia muito bem como a ausência de seu pai biológico mexia com ele. Vê-los aqui, juntos, era algo incrível. Quase que um milagre.

Estava realmente feliz por ele, mas foi inevitável pensar em meu relacionamento com o senhor Charles. Será que um dia teríamos um relacionamento de pai e filha? Eu queria isso? Acho que a resposta é um pouco óbvia, mas será que ele quer isso?

Olie deposita um beijo em minha têmpora antes de sussurrar:

- Vai ficar tudo bem!

E é nisso que eu preciso e quero acreditar: vai ficar tudo bem!

>>>><<<<

Oi, gente!! Não prometi maratona, mas tentarei postar mais vezes, principalmente nesse período de carnaval. Vamos focar nas coisas do alto, pois a festa da carne vai rolar solta. A vigilância tem que ser redobrada. Infelizmente não irei ao retiro este ano 😕 Algum de vocês vai??

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Att.
NAP 😘

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