Capítulo 32

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Um som de porta sendo fechada me faz despertar. Desde que me tornei mãe, meu sono ficou bem mais leve. Um simples barulho de passos de pantufas me acorda. Noto que minha filha continua dormindo tranquilamente com o rosto enterrado em meu peito.

- Desculpa, não quis te acordar! - dou um pulo ao ouvir a voz de Oliver.

Bonnie resmunga palavras aleatórias, mas não desperta. Fecho os olhos e respiro fundo, controlando as batidas desreguladas do coração, devido o susto.

- Tudo bem! - digo. Então percebo onde estou e o que está acontecendo.

- Eu só vim pegar um travesseiro. - aponta para o armário.

Olho para o relógio e vejo que são quatro da madrugada.

- Fique aqui com ela, eu posso dormir na sala. - digo, já me levantando.

- Não! - sua voz é baixa, mas firme. - Pode ficar, Alice. - ele pega o travesseiro e caminha para a porta.

- Oliver! - chamo-o. Ele se vira, o rosto cansado pela viagem. - Eu não sabia que viria esta noite, se soubesse...

- Alice, está tudo bem! Não estou chateado, ok? - balanço a cabeça em concordância. - Boa noite!

Não tenho chance de responder, pois ele sai do quarto logo em seguida. Fecho os olhos e apoio a cabeça na cabeceira da cama. Sem conseguir dormir, levanto-me e vou até o banheiro. Lavo o rosto e fico observando minha imagem no banheiro por algum tempo.

Meu rosto está abatido. As manchas escuras ao redor dos olhos estão mais profundas e não há brilho no olhar. Em uma viagem aleatória, minha mente navega em algumas lembranças da infância. Uma época tão boa, onde minhas únicas preocupações eram ter que tomar banho e fazer os deveres da escola. Sorrio com tal pensamento.

Volto para o quarto e me sento em uma poltrona próxima à janela. O céu está escuro, sem estrelas ou a presença visível da lua. Não há uma viva alma na rua abaixo de nós. Junto minhas pernas em cima do assento e observo o balançar das folhas das árvores.

Há dias, venho pensando na proposta de Oliver. Analisando os prós e os contras de voltarmos, juntos, à Cambridge. De estar cara a cara com Gianna Walker novamente, após anos. Tenho certeza que nada mudou desde minha mudança. E tenho ainda mais convicção de que ela não aceitará a Bonnie como neta.

Em compensação, isso terá que acontecer, de uma forma ou de outra. Não poderia ficar prorrogando tudo em minha vida. Já tinha provado das consequências desse tipo de atitude. Não cometeria a burrice de fazê-lo novamente.

Por essa razão, mando uma mensagem para Anthony, pedindo para que ele trouxesse, assim que acordasse, as malas que tinha feito na noite anterior, antes de nos encontrarmos com nossos amigos. Achando que ele estava dormindo, e que não veria a mensagem agora, coloco o celular de lado, mas ele vibra poucos segundos depois, com uma resposta do meu amigo. Isso me deixa alerta.

Coloco a pantufa emprestada de Jully e saio do quarto. Desço os degraus em silêncio. Ao chegar no primeiro andar, percebo que a porta de uma das salas de lareira se encontra fechada. Onde provavelmente Oliver está dormindo.

Continuo meu caminho até o térreo. Entro na sala de estar, fecho a porta atrás de mim e ligo para o meu amigo. Ele atende no segundo toque.

- Oi, Ali! Tudo bem por aí? - pergunta com certa preocupação.

- Oi, Thony! Está sim! - sento no sofá. - O que aconteceu? Por que está acordado uma hora dessas?

- Como assim? Você também está acordada. - tenta desconversar.

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