Capítulo 4 - Heitor Duarte

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Bato a porta da minha casa com força, como ele pode fazer isso comigo? Como Bruno pode mentir para mim? Bato no meu peito com força, parecia que essa dor me rasgaria de dentro pra fora. Como podemos nos enganar com uma pessoa, ao ponto de ser permitido nos machucar.

Bruno mentiu para mim, ele não era somente um coreógrafo, ele era a porra de um bailarino de uma escola de samba, de uma porra de carnaval. Eu não poderia me sentir tão humilhado como me senti naquele momento.

A noite maravilhosa e feliz que tive em seus braços poucos minutos atrás se transformou no meu inferno pessoal. Lembro-me do meu sorriso bobo quando me olhei no espelho, a sensação de ter encontrado a parte que me faltava. O sorriso que compartilhamos os toques, o beijo e as carícias tudo morreu quando vi aquela fantasia.

Aquela maldita fantasia.

E internamente quando perguntei o que era aquilo, rezava para que fosse uma mentira, me recusava a acreditar nos meus olhos. Como fui fraco chorar me desesperar na frente dele.

Para minha sorte, eu sou cirurgião chefe, liguei e informei que não poderia ir trabalhar hoje e pedi para remarcar as cirurgias eletivas para amanhã, e as urgentes para outro cirurgião no plantão de hoje. Não conseguiria colocar um osso no estado em que estou. Meu celular toca no meu bolso.

— Não tenho humor para você hoje, Michel. — falo brusco.

— Calma cara, o que houve? — Ao sentir-me sério, Michel se preocupou. Ele sempre se preocupa demais com os outros.

— Nada. Não aconteceu nada, apenas não quero ver e falar com ninguém — desligo o celular na cara dele.

A dor era uma cadela, uma maldita cadela, como não vi o que estava na minha frente? Um coreógrafo de carnaval. Bruno era exatamente como minha mãe. Passei a minha vida toda fugindo de caras como Bruno, caras que amam essa porra. Tiro minhas roupas e me jogando debaixo do chuveiro implorando para que a água levasse tudo de mim.

Levo um susto quando a porta do meu banheiro é arrombada por Michel. O infeliz estava ofegante e soprando raiva pelo nariz.

— Que merda foi aquela de desligar minha cara, porra? — fico no mesmo lugar o encarando sem reação — Que filho da puta é você por não atender a merda da minha ligação, seu bosta?

Michel me dá às costas, o sigo não entendendo sua explosão, e do por que ele está assim. Visto-me com calma, não estava com tempo para discutir com ele hoje. Quando termino vou à sala para ver onde ele se meteu.

— Você arrombou a minha porta caralho! — Ele sai da cozinha com meu pote de sorvete na mão — Larga isso seu capeta! — Tento tomar meu sorvete mais ele corre para trás da ilha da cozinha.

— Por que você desligou na minha cara? E nem vem com essa de não quer ver e nem falar com ninguém. Eu não sou ninguém. SOU SEU EX- NAMORADO E TENHO TODO O DIREITO DO SORVETE — Tampo meus ouvidos por ele está falando alto demais.

Bufo me jogando na cadeira, ele recolhe outra colher, estávamos de frente um para o outro. Ele me entrega a colher, o encaro com raiva, não gostando da minha porta que está ao chão.

— Você vai pagar o conserto — Tomo a colher da sua mão, enfiou no pote de sorvete de açaí. Bufo indignado.

Observo ele pegar seu celular e digitar rápido, ele vibra na sua mão, ele volta a digitar novamente, sorrir sacana e enfim guarda no bolso da sua calça.

— Marcos estará aqui em meia hora — Ergo um olhar incrédulo.

— Quanto número de caras que fazem isso você tem? — Ele dá de ombros — Por que semana passada foi de um entregador, mês passado de um eletricista, um mecânico, corretor.

Paixão de CarnavalOnde histórias criam vida. Descubra agora