Capítulo 5 - Bruno Garcia

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A porta de sua casa foi aberta pelo Michel enquanto Heitor me levava nos braços para que eu não forçasse o pé machucado. Achei um tanto exagerado mas não quis comentar nada até para aproveitar o momento de ter os seus braços me envolvendo e me protegendo.

Meu namorado... O homem que eu amo...

Suas palavras continuam retumbando dentro de mim como um eco e tudo que eu mais quero é estar a sós com ele e saber o que aconteceu para que ele saísse tão transtornado de manhã e voltar tão decidido no final do dia. Precisava colocar minha cabeça em ordem após tantas emoções, precisava descansar e precisava resolver tanta coisa...

— Quer que eu traga roupas para você, Bruno? — Daniel perguntou da porta enquanto Heitor me acomodava delicada e confortavelmente em seu sofá — Se quiser eu trago.

— Eu posso ajudar com isso — Michel se prontificou e vi o Dani ficar corado — Claro, se não for invadir seu espaço, Bruno. Sei que você não vai muito com minha cara...

— Eu gostaria sim, e, Michel — Ele me olhou com as sobrancelhas altas — Se você é amigo do Heitor, podemos ser amigos também — Ele deu um sorriso largo — Mas nada de selinho no meu namorado, entendeu?

— Ih eu tenho mais tempo de casa do que você, tu chegou agora e já quer sentar na janela — Ele cruzou os braços divertido.

— Ele senta muito melhor que você, Michel — Heitor falou levantando uma das sobrancelhas e meu queixo caiu no processo — Escute o que o Bruno diz, nada de selinhos de agora em diante.

— Vou sair fingindo que não ouvi a primeira parte, já basta você junto com a minha mãe contra mim.

Rimos todos e eu entreguei as chaves para o Daniel ir pegar umas roupas para mim junto com o Michel. Foi bom quebrar um pouco o clima que tinha ficado desde que tudo aconteceu. 

Só nesse momento eu parei para observar o apartamento de Heitor. É bem a cara dele, nada muito exagerado, porém, tudo muito certinho e organizado: sofá grande, tv, alguns livros de medicina na mesa de centro, cozinha, banheiro e o seu quarto.

— Está confortável?

— Sim, tá ótimo.

Heitor se aproximou beijando minha boca e deixou uma mão no lado do meu rosto e a outra me analisando.

— A gente vai encontrar o desgraçado que fez isso com você.

— Melhor você não se envolver nisso, Heitor. Nem eu sabia que ele poderia ser tão perigoso.

— Eu não vou deixar que alguém machuque você e fique impune, amor.

— Amor... — Sorri gigante.

— Eu amo você, Bruno. E não tem a ver somente com ontem. Na verdade, eu já sentia algo por você quando só podia te ver da janela e quando finalmente ficamos juntos eu tive a absoluta certeza que é você o cara que eu sempre busquei.

— Tive medo de te perder... — Não queria tocar no assunto, mas precisava entender o que aconteceu.

— Você não vai me perder, eu sempre estarei com você enquanto você me quiser ao seu lado. Eu só não estava contando que você era tão ligado no carnaval...

Heitor me contou sua história e todo o seu trauma com o carnaval e sua horrível infância com sua mãe. Por mais que eu não ache justo que ele tenha me colocado nesse lugar, eu entendo o que o motivou a ter aquela reação quando soube que eu sou coreógrafo de escola de samba.

 Fiquei ainda mais admirado com a capacidade de D Lourdes de se reinventar em meio às adversidades. Aquela mulher é um fenômeno na Marquês de Sapucaí e também uma força da natureza no quesito mãe. Uma pena que eu não conhecia o Michel, seu filho, porque quando me envolvi com a escola já havia acontecido o falecimento de sua irmã e, com isso, o afastamento total dele do barracão.

Paixão de CarnavalOnde histórias criam vida. Descubra agora