Epílogo

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As ruas do Rio de Janeiro ganharam outras cores, outra movimentação e outro ritmo. É o carnaval que já acontecia nas ruas, bloquinho, folia e alegria. E não é diferente na minha comunidade. Às 19h chegamos na minha antiga casa na Tijuca onde me criei. Assim que estacionou o carro Heitor me olhou com semblante preocupado.

— Tem certeza que ele não vai falar merda por causa do que eu disse para ele no hospital?

— Tenho, fica tranquilo — menti descaradamente.

Eu não fazia ideia como meu pai se comportaria com a presença de Heitor na nossa casa como meu namorado. A verdade é que nunca apresentei ninguém em casa justamente por saber que meu pai falaria mil e uma besteiras e muito provavelmente espantaria qualquer um que eu apresentasse. Mas hoje é diferente. Ele já conhece o Heitor, que por sinal salvou sua vida, não será uma novidade para ele. Pelo menos é nisso que eu estou me apegando para romper mais essa barreira com meu velho. A ideia desse jantar só poderia ser de uma pessoa: Dona Maria Garcia. Minha mãe reclamou mais que tudo por eu ter ficado tanto tempo sem ir lá que me intimou a levar o Heitor em casa para um jantar e eu resolvi aceitar por me sentir culpado em não contar para ela o que aconteceu e por não conseguir outros argumentos em tempo hábil.

Atravessei o portão na frente e andei pela garagem, chegando até a porta ao fundo. Antes mesmo de eu bater na porta minha mãe já abriu e veio em minha direção me dando um cascudo antes de me abraçar.

— Ai dona Maria!

— Seu filho de uma rapariga!

— Eu sou seu filho, esqueceu?

— Oh! — Ela pôs a mão na boca — A rapariga sou eu, né?

— Benção, mãe — abracei ela rindo — Como vai a senhora?

— Eu tô aqui meu filho, entregue à Deus e à língua do povo!

Heitor deu uma gargalhada atrás da gente chamando a atenção da minha mãe.

— Você não está escapando, meu Noro, você também está entregue à língua do povo — Ela o abraçou com carinho.

— Noro?

— Bruno não te falou? Eu me recuso a ter genro. Eu tenho noro.

— Gostei dessa. Como vai a senhora?

— Melhor agora, meu filho. Agradecida a Deus por você ter entrado na nossa vida, e agradecida a você por querer ficar nela.

Vi Heitor marejar segurando a emoção. Eu bem sei como ele deve estar se sentindo com o carinho da minha mãe, sendo que ele perdeu a megera da mãe dele há tão pouco tempo.

— Vamos entrar, cadê o papai — falei entrando e encontrando meu velho na sala assistindo tv — Benção, pai. Pensei que ainda estivesse na cadeira — comentei com ele sentado no sofá.

— Se você viesse aqui me ver como prometeu, saberia da minha situação.

— Ele pediu a benção seu traste — Minha mãe ralhou com ele com as mãos na cintura enquanto Heitor parou ao meu lado me dando apoio.

— Deus te dê juízo porque vergonha você não tem mesmo.

— Boa noite, Sr João

Heitor estendeu a mão para meu pai e eu travei no lugar nesse momento, esqueci até como se respira. Olhei de relance para o Heitor que estava firme, embora eu pudesse ver a sua expectativa na reação do meu pai que, surpreendendo a todos, o cumprimentou firme e juro que pude ver o vestígio de um sorriso no canto de sua boca.

— Como vai, doutor? Tô tomando os remédio direitinho, viu? Não falho com nenhum. Até coloquei o despertador no celular para não me passar na hora.

Paixão de CarnavalOnde histórias criam vida. Descubra agora