Capítulo XII

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Quando minha mãe decidiu se mudar, eu havia odiado a ideia. Tudo aquilo fazia algo dentro de mim se retorcer e queimar. A escola nova, o professor. E não era só isso, eu havia aceitado a concepção de felicidade da minha mãe envolver outra pessoa, mas eu também fui egoísta por um bom tempo para odia-lá por não aceitar que apenas nós dois, eu e ela contra o mundo, bastasse. Fosse suficiente. Mas, em algum momento - que não lembro qual momento foi esse. - eu havia sido incluído. Eu tinha me sentido incluído. Aquela era minha família. Aquela agora era minha casa, minha escola, meus novos amigos. Comecei a pensar que todas as escolhas que eu fui guiado a tomar, me levaram até Boun. Aquele agora era meu lar. Mas meu lar agora estava despedaçado. Em chamas. Pisei em um primeiro degrau da escada e a madeira se rompeu, desabando junto com o teto, causando um estrondo e quase minha morte. Boun é rápido o suficiente para me afastar e me proteger enquanto a madeira podre e queimada desaba em cima de nós dois. Boun recebe a maior parte das madeiras em suas costas. Estou escondido em seu peito e escuto alguém gritando e chorando ao mesmo tempo. Só depois que Boun se afasta e me olha que eu vejo que sou eu.

Os bombeiros começam a entrar em fila dentro da minha casa em pedaços e Boun me tira do caminho.

As lágrimas quentes e violentas escapam dos meus olhos uma atrás da outra, como se eu fosse me afogar a qualquer momento. Estava doendo. Estava doendo como o inferno.

- Minha mãe... P' Don. Eles poderiam estar mortos... eu poderia estar morto.

Minha voz sai engasgada e minha garganta arde pelos gritos estridentes que eu dei.

- Eles estão bem, está tudo bem. - Boun diz, acariciando meus cabelos.

- Não... - eu digo baixinho. - Ela está me tirando tudo. - Eu olho para Boun, sua imagem embaçada por conta dos meus olhos marejados. Mas ainda tão... tão bonito. - Quanto tempo até ela me tirar de você?

Eu me afasto dos seus braços, ignorando seu olhar indecifrável. A ponta de meu sapato se prende em um pedaço de madeira e eu tropeço, minhas mãos atingem o chão queimado e cheio de fuligem. Os joelhos da minha calça agora estão sujos e só então eu percebo o que me fez tropeçar. É a moldura de um quadro. Boun já está ao meu lado, cobrindo sua mão com a minha, que toca a moldura do quadro. A pintura está destruída.

As palavras de Boun, no bilhete que ele havia deixado junto com o quadro quando havia me entregado, de repente me cortam o peito como navalha.

É a nossa promessa, não vou quebrar.

É a nossa promessa, não vou quebrar...

Brianna estava destruindo meu mundo de dentro pra fora. Quanto tempo até ela destruir a única coisa que ainda importava pra mim?

Romeu entra no cômodo destruído e estica a mão para mim, para que eu me levante. Boun imita o mesmo movimento e eu fico olhando para as duas palmas pálidas estendidas pra mim no meio do caos do lugar que eu chamava de lar.

...

- O cheiro de Brianna sumiu há alguns quilômetros daqui - Romeu diz, estendendo um mapa velho à sua frente. Ele não tinha google maps?

- Romeu é um cara velho e excêntrico, Prem. - Diz Boun, encarando o vampiro de cabelos escuros.

Eu ainda estou em completo choque mas meus lábios se repuxam um centímetro, ameaçando um sorriso.

- Aí está. - Diz Boun tocando uma de minhas bochechas. - Te ver chorar se tornou uma das piores coisas da minha existência.

- Qual é a primeira?

- Minha irmã querer roubar o motivo da minha existência. - Ele sussurra, tocando uma de minhas bochechas com os lábios. Ele se afasta e me olha, segurando meu rosto com suas mãos gélidas, como se eu fosse a coisa mais importante do mundo. - Eu não vou deixar nada acontecer com você.

Bad blood - A Sequência de Sweet Blood • BounpremOnde histórias criam vida. Descubra agora