Capítulo I

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  Meu corpo se arrepia e sinto o edredom pesado ser jogado por cima dos meus ombros. Eu me encolho e me aninho mais perto do peito frio de mármore.
— Deve ser bom nunca sentir frio. — Eu digo baixinho. — Ou precisar ir no banheiro, ou comer.
Um riso soprado escapa dos lábios de Boun e ele se aproxima, procurando meu ouvido.
— Tem uma coisa de que eu sempre preciso, Prem.
Eu ergo meus olhos, o quarto escuro deixando seu rosto bonito quase invisível.
— Do que?
— De você. Eu sempre preciso de você.
Eu reviro os olhos e cubro minha cabeça.
— Você poderia me substituir rápidinho se quisesse.
Minha voz sai abafada. O grunhido de Boun está perto demais.O edredom voa de cima da minha cabeça, meu corpo encolhido na cama. Boun agora está em cima de mim, e tenho medo de ele fazer algum barulho que vai fazer com que minha mãe e P'Don acordem.
— Não vou fazer barulho. — Ele sibila.
Eu me apoio em seus ombros e ele se senta, me puxando para seu colo de forma firme.
— Eu também não vou.
— É bom mesmo, ou eu vou substituir você rápidinho.
Eu fecho a cara e ele se perde na curva do meu pescoço, deixando um beijo frio e molhado ali.
— Deus, eu amo seu cheiro.
Dou uma risadinha quando seus lábios sobem pela minha orelha.
— Sua língua não deveria estar queimando agora? Falando o nome de Deus quando é um...
Ele se afasta e olha para mim, os olhos vermelhos injetados.
— O que?
Eu mordo os lábios e acaricio seu rosto. As sobrancelhas grossas e escuras, seus cílios longos e seus lábios finos e cheios. Meu coração palpita no peito de forma descontrolada. Era sempre daquele jeito. Estar perto de Boun sempre me deixaria daquele jeito, mesmo que já fizesse algum tempo que estavámos juntos. Me impulsiono para frente e sinto suas mãos em minhas coxas. Seus olhos estão negros agora, a cor escarlate substituída pelos olhos escuros de desejo. Seu desejo por mim. Eu o beijo, e antes que eu tome fôlego, sua língua pede passagem e encosta na minha. Enrosco meus dedos em seus cabelos e me aproximo mais de seu corpo, como se quisesse estar mais perto. Boun se afasta e eu solto um grunhido em forma de protesto.
— Minha língua está queimando, Prem?
Eu poderia dar um soco nele, tirar aquele sorrisinho irônico de seus lábios.
— Está pensando em me bater? Eu gosto da ideia mas... — Ele se aproxima e sussurra em meu ouvido. — Teria que me deixar dar uns tapas em você também.
— Sua língua está mesmo queimando. — Eu digo tentando esquecer o que ele acabou de falar mas, meu corpo inteiro está quente com a ideia.
— Está?
— Sim, vem cá. Deixa eu ver.
Eu o puxo para mim de novo, sentindo o ar em meus pulmões voltarem e faltarem ao mesmo tempo enquanto ele encosta os lábios nos meus de novo.

                                                                                                    ...

Quando eu acordo de manhã, procuro Boun na cama mas tudo o que alcanço é a cama vazia e um bilhete.

Fui até a cidade, prometo voltar antes de você acordar.

— Mentiroso.
 Toda vez que Boun dizia que ia á cidade eu sabia que na verdade ele tinha ido até o hospital que ele sempre frequentava, para se alimentar. Ele dizia que agora era menos perigoso estar ao meu lado mas, eu sabia que ele gostaria de ter certeza que eu estava seguro. Boun nunca se perdoaria se algo acontecesse comigo, por isso eu estava sempre procurando abertura para tocar no assunto sobre ele me transformar. Sentia que a qualquer momento Brianna ou o mestre Guntachai, o pai de Boun, poderiam aparecer e me matar. Boun sempre conseguia fugir do assunto, muitas vezes se utilizando de sexo ou qualquer outra coisa que me fizesse esquecer sobre o assunto. Ele conseguia. Droga, era realmente difícil mas, eu ainda queria aquilo. Eu ainda queria ser como ele e ficar com ele.
  Estávamos no início das férias de inverno, e a todo momento eu sentia como se meus ossos fossem congelar. Faziam alguns meses desde o incidente na escola. Minhas cicatrizes já eram quase invisíveis. Boun se esgueirava pela janela do meu quarto toda noite para dormir comigo ou no caso, para me ver dormir já que ele não dormia. Ás vezes eu dormia na casa dele. Juntos estávamos pensando na melhor universidade que poderíamos ir. Boun queria ficar na cidade, talvez até estudar na universidade onde P'Don dava aula mas, eu queria ir pra longe. O motivo era óbvio: Se fosse pra eu me tornar um vampiro, que eu ficasse longe da minha mãe e do meu padrasto. Que eu pudesse lidar com essa parte nova da minha vida sozinho, sem perigo de machucar quem eu amava. Então sair ou ficar na cidade era na verdade uma decisão entre me tornar um vampiro ou permanecer humano.
 Quando desço as escadas, minha mãe está terminando de tomar o café da manhã. Suas unhas estão pintadas de rosa shock e seus cabelos estão soltos, sem nem mesmo um fio fora do lugar. P'Don estava de férias da universidade mas, ele não saia do escritório por conta das muitas reunião com reitores e com os professores para elaborar os planos de aula do próximo semestre. Isso era bom porque toda vez que ele esbarrava comigo dentro de casa ele soltava algum comentário sobre eu precisar decidir logo onde eu queria estudar.
— Quais os planos de hoje? Sair com Boun de novo? — Pergunta minha mãe.
— Não sei, acho que sim. Queria ir ao cinema, faz algum tempo que não vou.
— Podia ir sozinho, ou me esperar chegar que poderíamos irmos juntos. Só nós dois.
Eu olho para minha mãe enquanto encho uma tigela com leite. Minha mãe suspira e se senta do meu lado, suas pulseiras batendo no vidro da mesa.
— Prem, esse namoro está muito sério. Não quero que isso atrapalhe seu futuro, entende? Eu gosto muito de Boun, ele é um bom rapaz.
— Mas?
Ela fica quieta, seus lábios formando uma linha fina.
— Mas? — Eu torno a dizer.
— Ele não é meio velho pra você?
— Mãe!
— Eu só quero ter certeza de que está tomando a decisão certa.
— Boun está na minha vida agora.
— Já percebi isso.
— E ele não é... velho. Ele também vai para a universidade no fim das férias de inverno.
— Ele já sabe onde quer estudar?
— Não.
— E nem você.
— Eu vou me decidir até o fim das férias.
— Você quer dizer que Boun vai se decidir até as férias de inverno.
— Na verdade, ele quer ficar aqui. Talvez até estudar na universidade onde o P'Don trabalha. Boun quer estudar arte, ele é talentoso.
Minha mãe me agarra pelos ombros e me faz olhar para ela.
— Você é meu filho. Eu quero saber o que quer fazer e onde quer estudar, eu quero que pense no seu futuro, Prem. Vou te apoiar no que quiser mas você precisa me prometer que não vai ser influenciado pelo seu coração, entendeu?
Eu assinto devagar e ela me dá um beijo nas bochechas, deixando uma marca melequenta de batom.
— Preciso ir. Vou ficar no outro salão hoje, o dia vai ser bem agitado.
O salão estava com tantos clientes que a chefe da minha mãe tinha aberto outra franquia, e vez ou outra ela deixava minha mãe comandar o lugar sozinha como se fosse dona. Minha mãe apenas auxiliava as outras garotas enquanto cuidava do caixa. Ela estava toda arrumada hoje, o que significava que ela não iria mexer em nenhum cabelo.
— Tenha um bom dia, mãe.
Como meu sucrilhos sozinho na cozinha, enquanto escuto a voz de P'Don no andar de cima. Lavo meu prato e subo as escadas, tirando minha roupa e entrando no chuveiro. 
 A água está tão quente que observo a fumaça deixar o box todo embaçado. Quando fazia calor na Tailândia, era um calor insuportável mas quando o inverno chegava era ainda pior que o calor.
 Passo os dedos pelos meus cabelos agora escuros, os fios lilás inexistentes e antes que eu possa tirar o cabelo da frente de meu rosto, mãos largas e gentis fazem isso por mim. Boun está parado bem ali na minha frente, seu corpo tão nu quanto o meu. Sinto minhas bochechas queimarem e minha respiração ficar ofegante.
— Achei que estivesse com saudade. — Ele diz.
— E-eu estava mas, eu podia esperar até sair do banho pra... ver você.
— Eu estava com mais saudade.
— Você não tem vergonha nenhuma. — Eu digo, virando de costas para ele.— Você já viu tudo de mim, Prem Space. Até a parte mais assustadora, e não se assustou ou se escondeu. Agora eu estar aqui, nu com você dentro desse box te faz querer fugir? Você é muito peculiar.
Suas mãos massageiam a base de meus ombros e deslizam pelos meus braços. Me viro para olhar em seus olhos, e estão tão escuros que eu quase posso me ver refletido ali. Seus cabelos platinados estão úmidos e parece mais escuros, seus lábios estão tão vermelhos que me lembra uma porção de cereja. Boun sempre ficava mais lindo ainda depois de se alimentar.
— Eu já disse que não tenho medo de você.
Boun sorri e se aproxima, dividindo agora o chuveiro comigo, a água quente molhando nós dois. Passo a mão em seus cabelos molhados e fico na ponta dos pés para alcançar seus lábios.
— Mas eu tenho medo de você. — Diz Boun, com os lábios ainda nos meus.— Sou apenas um humano, Boun.
Eu estremeço quando minhas costas sentem a parede gelada. Boun me suspende com tanta pressa que meu peito arde quando sinto seu peito encostar no meu.
— Você é a minha perdição. Sabe disso, não sabe?
Eu mordo os lábios com força quando lentamente, Boun se empurra para dentro de mim. Finco minhas unhas em seus ombros e prendo minhas pernas ao redor de sua cintura para o sentir mais fundo. Ele procura meus lábios e me beija, e eu não sinto apenas desejo. Eu sinto amor. Eu me sinto amado e cuidado, mesmo que estejamos fazendo aquilo. No meu banheiro. Na minha casa.  

Quando descobri que gostava de garotos, eu ficava sempre pensando no sexo e como parecia algo doloroso. Poderia ser ruim, e eu tinha medo de que nunca fosse ter coragem de fazer aquilo com alguém. Será que o Prem de anos atrás estaria orgulhoso de mim agora? Boun havia aparecido e me mostrado que sexo poderia ser uma experiência incrível. As coisas com ele eram diferentes. Era estranho toda vez que minha mãe perguntava se estávamos nos cuidando, e tudo o que eu respondia era ''uhum'', quando eu não precisava fazer isso porque o meu namorado não era humano. Não era como se ele pudesse me passar alguma doença. As coisas eram diferentes para ele. Eu sabia que ele chegava lá mas, não era da forma humana habitual. Mas, eu sentia. Boun era um homem afinal de contas, e ele me desejava da mesma forma. Talvez até mais. Nunca me cansaria de continuar tendo essa experiência inumana com ele, e toda vez que ele estava dentro de mim eu pensava como seria fazer sexo com ele se eu fosse como ele. Minhas emoções seriam todas multiplicadas. Não conseguia imaginar que eu desejaria ele mais do que desejava agora. Toda vez que Boun dizia que me desejava mais do que eu o desejava, eu sabia que era verdade mas isso não anulava em nada como eu me sentia.
Eu começo a ofegar e Boun me segura apenas com uma mão, sua outra mão está apoiada na parede ao lado da minha cabeça. Minha cintura toda estremece quando eu explodo, deixando a água levar o vestígio do meu prazer. Com a mão que antes estava na parede, Boun toca meu membro e eu gemo alto demais por estar tão sensivel ali. Sua mão é fria, mas me toca com tanto cuidado porém isso não me impede de choramingar baixinho. Boun me solta e me coloca de pé, a parede é o único apoio que eu tenho para que eu não perca o equilíbrio. Seus olhos escuros estão me encarando, enquanto devagar ele se ajoelha de frente para mim e envolve meu membro com seus lábios frios. A água quente molha seus cabelos e os deixam bagunçados na frente de seu rosto, e eu os puxo para trás com um puxão leve e carregado de desejo.
— Eu vou... precisa parar. Não quero que tenha que...
Ele se afasta e substitui seus lábios por suas mãos.
— Acha que vou colocar pra fora depois? Quero seu gosto dentro de mim. Não estamos falando de pizza, Prem.
— Boun...
— Goza.
Suas mãos me soltam e seus lábios voltam a me tocar. Minhas pernas começam a estremecer e meu peito queima quando eu explodo pela segunda vez, com a voz de Boun em meu ouvido me pedindo para gozar. Não gozar pra ele mas, gozar na boca dele. Ele se levanta, passando a língua vermelha nos lábios e então me beija de novo, fazendo com que eu sinta meu gosto em sua boca.

Amadurecemos muito todos os dias quando se trata de tocar o outro, de dar prazer para o outro. Os dias que Boun ia se alimentar, eram os dias que ele mais passava dos limites quando o assunto era ficar perto demais de mim porque ele tinha certeza que não iria me machucar.

                                                                                                     ...

Terminamos o banho e saímos do banheiro vestidos. Boun me carrega nas costas enquanto eu mexo em suas orelhas pequenininhas. Ele me coloca na cama, e eu me deito esticando minhas pernas para que elas talvez voltem ao seu estado normal. Ele senta ao meu lado e acaricia meu cabelo e sorri. Observo enquanto ele se inclina e pega alguma coisa em seu casaco e me entrega. Eu me sento para olhar as duas passagens de avião em minhas mãos e meus olhos começam a lacrimejar.
— Achei que estivesse com saudade do seu melhor amigo. 
Estou sorrindo e o abraço pelo pescoço, olhando novamente para as passagens. 

Nós vamos para a Europa.

Bad blood - A Sequência de Sweet Blood • BounpremOnde histórias criam vida. Descubra agora