Capítulo IV

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Acordo com Fluke me encarando, as bochechas infladas como um bebê mal humorado. Eu e Boun - na verdade só eu - adormecemos no sofá. Boun se espreguiça de uma forma exagerada e eu sinto vontade de dar risada.
— Achei que tinhamos entrado em um acordo. — Diz Fluke.
Ohm sai do banheiro com uma toalha pendurada no ombro. Ele não sabe o que está acontecendo, ou não vê grande coisa naquilo se aproximando de Fluke e plantando um beijo inocente em seu pescoço.
Fluke se vira e de repente o assunto eu e Boun está totalmente esquecido.
Nós dois nos esgueiramos para o quarto e começamos a organizar nossa mala. Nosso voo sai de madrugada, o que nos dá algumas horas para aproveitar mais um pouco de Londres. Ligo para minha mãe assim que terminamos o café, e também mando algumas fotos pra ela da viagem. Ela passa mais tempo conversando com Fluke do que comigo. Almoçamos em um bistrô, e a comida é tão boa que sinto vontade de embalar tudo e levar pra Tailândia comigo. Vamos até o Big Ben e é tão bonito de perto. O museu do Sherlock Holmes está em reforma, e eu fico tão triste que Boun cochicha em meu ouvido que vamos voltar um dia só para eu visitar o museu.
Depois passamos o restante da tarde deitados na grama da parque mais famoso de Londres. O sol é quente mas de uma forma boa. Eu e Fluke tiramos muitas fotos, e tagarelamos tanto que Boun e Ohm escolhem nos deixar sozinhos para comprar sorvete.
— Gostou de Londres? Boun pareceu se encaixar muito aqui.
— Sim, aposto que ele já conhecia Londres mas numa versão mais antiga.
— O que?
Eu mordo minha língua e sinto meu rosto começar a queimar. Solto um pigarro e puxo um punhado de grama.
— Acha que eu seria um bom médico? Os olhos de Fluke estão brilhando.
— Nunca pensei em você como médico mas talvez funcionasse. Você é cuidadoso e paciente, e sempre cuidou de mim todas ás vezes em que eu estive doente. Talvez desse muito certo.
— Você tá conversando demais com a minha mãe, tá até falando como ela. Eu já tenho uma mãe, não quero outra. Eu gosto do meu melhor amigo, ok?
Fluke me abraça e ele é tão miúdo que cabe certinho em um abraço.
— Obrigado por ter vindo, eu já estou com saudade.
— Não tá não, tá doido pra ficar sozinho com seu amado noivo.
Eu faço barulho de beijos e Fluke me empurra, me soltando.
— Você é o traidor aqui, não aguentou ficar duas noites longe do seu amado.— Foi sem querer, eu estava sem sono.
— Idiota.
Eu o abraço de novo e ele se esperneia um pouco mas acaba deixando.
— Não demore para retribuir a visita, ok? Sinto sua falta, Fluke.
— Eu também sinto sua falta. — Ele se afasta e me encara sorrindo. — Não vou demorar, sua mãe sente falta dos pratos que eu cozinho.
Eu solto uma gargalhada e sinto uma pontada no peito, e a ideia de que aquela vai ser a última vez que estou abraçando meu melhor amigo me atinge. Talvez da próxima vez que eu e Fluke nos visse, eu iria estar querendo enfiar meus dentes em seu pescoço. Eu fecho os olhos e me concentro naquele momento.
Boun e Ohm estão de volta. Boun carrega quatro tipos diferentes de sorvete e eu o olho sem entender.
— Não sabia de qual você gostava. Fluke e eu olhamos um para o outro e começamos a sorrir.
— Ele é sua alma gêmea. — Ele cochicha.
— Não é não, nem sabe meu sabor favorito de sorvete.

Esperamos o sol se pôr. Ohm nos disse que era uma tradição, turistas deveriam ver o sol se pôr em Londres, que daria sorte. A primeira vez que Ohm viu o sol se pôr em Londres ele conheceu Fluke um tempo depois. Sorte. Talvez seja um pouco de sorte que eu precisasse. Sorte para que a irmã e o pai vampiros do meu namorado vampiro não me matassem. Sorte para que minha mãe (que era muito humana e podia ser pior que um vampiro se quisesse) não ficasse tão brava comigo quando eu sumisse do mapa só por decidir ficar ao lado do Boun. Sorte, eu precisava de sorte para que Boun me transformasse. Era agoniante pensar que a qualquer momento eu poderia pegar alguma doença e morrer.

''Eu iria até o meu pai.''

Não parecia justo para mim e nem para ele. A única opção era me transformar.
— Isso não é uma opção. — Boun sussurra no meu ouvido.
Observo os raios solares se perderem no meio das árvores, a brisa é quente e sacode meus cabelos escuros.
— Você não quer viver sem mim e eu não quero viver sem você, a única opção é me transformar. — Eu digo baixinho.
— Porque está fazendo isso comigo? — Ele pergunta, os lábios frios em meus cabelos.
— Eu não vou perder você.

Bad blood - A Sequência de Sweet Blood • BounpremOnde histórias criam vida. Descubra agora