18 de fevereiro de 72,
Ao meu lado direito uma luz radiante ilumina o quarto, se tratava do sol nascendo perante a cidade. Mesmo com horas tendo se passado o meu coração ainda batuca na mesma intensidade do Olodum e em forma de um ritmo baiano um calor quase que insuportável arrepia todo o meu corpo me deixando ansioso. A qualquer momento Caetano acordaria. Tento não pensar com antecedência, focando na respiração do baiano contra meu peito. Assim como o meu, seu coração também bate rápido.
Observo cada detalhe do seu rosto adormecido. Os seus lábios semiabertos soltam fagulhas que bruscamente atingem minha pele, seus cabelos cor de mel se encontram bagunçados e uma leve brisa afetada pela maresia os balançavam como ondas de Ipanema, sua pele que antes era morena está empalidecida pela falta de sol no céu de Londres. O encaro tão profundamente que acho que memorizei suas expressões, e é enquanto faço esse contato que ele abre os olhos, é sorrindo e ainda meio aluado com o tão recente acordar que ele diz:
- Bom dia, Chico.. não sabias que tu acordava tão cedo assim. - viro minha cabeça em direção a um relógio do lado da cama, mal eram cinco da manhã.
Rio, enquanto ele se senta na cama se espreguiçando, os seus olhinhos estão apertados e é completamente óbvio que ele ainda está com sono, Caetano boceja enquanto olha para mim mechendo nos cabelos:
- Ontem eu disse que te levaria a Salvador né? Promessa é dívida. - com um salto ele se levanta da cama repentinamente disposto - Acho que Bethânia já está de pé, eu vou me arrumando enquanto tu toma um café com ela.
Só concordo com a cabeça, coloco a minha camisa e saio do quarto. Vou andando com um passo lento pelo corredor até então chegar na cozinha. Lá a baiana estava sentada com um jornal na mão lendo atentamente as manchetes, me sento ao seu lado pegando uma xícara por cima da mesa e pondo uns dois dedos de café dentro:
- Bom dia Bethânia. - falo dando um gole da bebida escura e aromática.
- Bom dia Chico! - ela fala extremamente animada para alguém que acordou tão cedo - Cadê Caê?
- Se arrumando, ele disse que me levaria a Salvador hoje. - Acaricio os meus cabelos, tentando arruma-los.
Ela arregala os olhos me olhando surpresa mas logo dá de ombros e continua a focar no seu jornal. Tomo umas duas xícaras de café antes de Caetano retornar com seus cabelos molhados e todo bem vestido:
- Bom dia meu povo! - ele fala de um jeito quase que teatral.
Toco em seu ombro sem saber o que falar e volto ao quarto bem rapidamente. Em questão de minutos tomo um banho, confiro meus cabelos e com um suspiro volto ao cômodo.
Vou andando e me ponho ao lado de Caetano. O seu cheiro de Lancaster pode ser cheirado de qualquer canto da sala, desfalcando até mesmo o próprio cheiro do café:
- Já tá pronto? - ele fala não conseguindo conter os seus olhos, ele me observava de cima abaixo tão atento que posso jurar que estou corado.
- Tô sim! E aí, vamos? - ele pega meu braço me guiando pelos corredores da casa e depois de passar por umas duas ou três portas chegamos a um cômodo que desconheço, a garagem.
Lá se encontra um Opala prateado intocado, mesmo não entendendo muito de carros posso dizer que esse havia sido recentemente comprado e esse seria a sua primeira volta, Caetano me observa de um canto qualquer, acho q ele espera que eu diga algo:
- Comprei para meu pai de presente, ele sempre quis um carrão desses. - ele diz rindo apontando para o opala - Tô morrendo de vergonha de pedir mas.. sou horrível no volante. Que tal tu ir dirigindo enquanto eu digo o caminho?
- Ah, pode ser sim. - falo me lembrando que nem carteira de motorista o baiano tinha.
Entramos nos dois e saímos pelas ruazinhas de pedra de Santo Amaro. Tomando distância da cidade conseguimos ver uma paisagem de dunas e morros, de vez em quando passamos por uma cidadezinha menor. Não nego, cheguei a me perder uma ou duas vezes no caminho isso por causa de Caetano que as vezes trocava as direções no mapa mas, mesmo com essas complicações, chegamos a Salvador relativamente rápido, umas duas horas de caminho pelo que me recordo. Durante todo esse percurso fomos cantando, conversando e brincando tanto que nem cheguei a ver o tempo passar.
Abro a janela do carro, o dia era quente mas mesmo assim gostoso. Estávamos próximo ao Pelourinho, questão de duas ruas a cima, em tempo isso seria uns 10 minutos, foi isso que diz o baiano me indicando em que direção seguir.
A distância já conseguia ver as casinhas e, em questão de segundos a explosão de cores nos atinge. Olho para Caetano boquiaberto, nada no Rio de janeiro era igual aquela vista, só antes visitada por mim em fotografias e filmes de cinema. Com isso começo a me animar.
Não sabia bem o que dizer, fiquei curioso, perguntando mil coisas todo empolgado. Não sou muito de perguntar mas aquilo despertou algo enorme em mim:
- Mas elas são assim mesmo? Bonitinhas né? Todas coloridas dá até uma alegria no lugar. - Digo com um ar curioso enquanto o baiano me olha rindo e aponta um local para estacionar o carro.
- Pra conhecer tem que andar né? - ele fala sorridente saindo do Opala.
O acompanho e posso jurar que subimos e descemos aquelas ruas umas três vezes. Tudo naquele lugar é quase de um tom mágico que eu nunca vi antes, só consigo pensar que é por isso que Caetano é o grande poeta que é, seria impossível que tirasse sua inspiração de outro lugar. O calor naquele ambiente aumenta cada vez mais com o aproximar do meio dia e posso sentir que junto dele meu amor pela Bahia vai crescendo com o batuque do meu peito.
A cada casinha colorida fico mais impressionado tudo é tão maravilhoso que sinto vontade de dançar, mesmo não tendo nenhuma sincronia com os pés. O baiano sempre se põe a minha frente e com frequência ele se vira para ter certeza que não me perderá de vista, em algum momento do caminho ele para bruscamente em frente de uma igreja em mais um dos largos do Pelourinho, me ponho novamente ao seu lado. Caetano me encara no fundo dos olhos, a esse ponto acho que me olhar é seu passa tempo favorito. Em mim ele vê algo que o faz rir, não um riso convencional. Mas um real, o mesmo riso infantil de uma criança quando ganha um brinquedo novo:
- Tá vendo Chico? É por isso meu nego, que quem vem a Bahia nunca mais quer voltar!
Nota do autor:
OI PESSOAL!!!!
Agora são exatamente 1:18 da manhã e enquanto escrevo isso uma imensidão de coisas acontece em minha volta. No meu fone eu escuto uma música da gal bem baixinha, tão baixo que as vezes o batuque do desfile de carnaval na tv me torna incapaz de escutar oq diabos a Gal tá cantando. Além disso tem um bicho fazendo zoada do lado de fora da janela e acho q se ele não parar em um segundo eu me jogo. E foi nesse caos da madruga q eu acabo de escrever esse capítulo.
Alguns poucos capítulos tem dedicatória mas me sinto na obrigação de acrescentar uma nesse aq. Primeiramente dedico a minha co-autora que fez a playlist que eu tô escutando ( a playlist de MPB mais triste q eu já vi na vida ) obrigada por essa depressão Belle. Tbm dedico a uma leitora que vem acompanhando essa fanfic e foi um doce comigo!!! ( Tô com preguiça de ver seu @ mas você sabe que eu tô falando contigo!!) Pessoas pelo amor de deus falem comigo no TikTok, to precisando de feedbacks pra me motivar a escrever, sou extremamente desocupada nos feriados ent PVR FALEM COMIGO, JURO Q SOU LEGAL!!!
espero que tenham gostado e só pra não perder o costume VAI CORINTHIANS!!!!
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A gente vai levando
FanficChico,um jovem cantor, acaba por ordem do destino ou culpa de Nara conhecendo Caetano, recém chegado da Bahia para acompanhar sua irmã, Betânia, convidada pela própria Nara para substituí-la no espetáculo "Opinião",grande sucesso no Rio de janeiro d...