Sávio e Samira estavam nos fundos do quintal de casa, sentados em um banco de pedra que o avô tinha feitos a muitos anos. havia um enorme pé de mexerica, mas ainda não era época para estarem maduras. Nem se estivesse. Os irmãos não sentiam fome. A febre ia e voltava mas agora o que incomodava mesmo eram os enjoos, Samira tinha acabado de voltar do banheiro com ânsia de vômito.
Calado, pensativo e atencioso como sempre Sávio notou que alguém tinha chamado a mãe no portão, conversaram por alguns minutos, Sávio ouviu a hora que mãe esclareceu que o pai tinha saído pra trabalhar. Notou também que a conversa tinha um tom de tensão que incomodava a mãe dele. Minutos depois a mãe chamou por eles dizendo para eles trocarem de roupa porque iam ter que sair.
A mãe não disse mais nada e as crianças acharam melhor não perguntar. Vinte minutos depois eles chegaram ao poliesportivo da cidade. Lá dentro estava toda sua turma da escola e a professora Miriam.
Samira passou por uma colega, não era sua melhor amiga, mas uma garota legal.
- porque estamos aqui?
- porque eles acham que estamos doentes. – respondeu a outra menina.
Lá na frente Sávio avistou uma mulher de branco em uma mesa improvisada, ela estava fazendo exames de sangue nos jovens. A professora estava ao lado dela acompanhando tudo sentada em uma cadeira PVC.
Sávio puxou o vestido da mãe para chamar a atenção e deu um sinal de que queria ir até a professora.
No caminho, atravessando o grupo de colegas e suas pais, ele viu uma menina sentada no chão no canto do alambrado com a cabeça baixa e as mãos nos ouvidos. – é só sua imaginação, é só sua imaginação. – repetia ela.
- Tia, eu sei porque tá tudo mundo passando mal.
A mulher ficou surpresa, mas sem demonstrar muito ânimo respondeu:
- porquê?
- É a pedra tia, ela é venenosa. – disse ele naquele doce e inocente tom que só as crianças têm.
- Sávio, aquilo é um meteorito, uma pedra do espaço. – respondeu Miriam colocando a mão no rosto do rapaz e para ver se estava quente.
- Mas está vivo, eu sei. Ela fala comigo.
Miriam prendeu a respiração por um momento. Seria possível que o meteorito estivesse causando alguma doença.
- você está com febre, filho.
- lembra da aula sobre os animais. – o rapaz fez um movimento para tirar a mão da professora de seu rosto. – um porco-espinho usa seus espinhos como forma de defesa, para machucar seus predadores. Um escorpião usa o veneno da cauda, até mesmo o veneno das plantas e seus espinhos servem para evitar predadores, para garantir sua sobrevivência, certo?
A professora balançou a cabeça em silêncio.
- essa coisa, essa pedra é um ser vivo...ou deve ter um ser vivo dentro dela, seja o que for usa nossos medos para nos assombrar, nos contamina com algum tipo de veneno ou Radiação talvez. E faz de tudo para evitar que nós cheguemos perto dela.
A professora ficou um tempo olhando para o vazio, processando quais partes do pensamento do garota fazia sentido.
- Essa é a defesa dela.

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Noites Nubladas
HororQuando um meteorito caiu em uma pequena cidade no norte de Minas Gerais, moradores locais começaram a presenciar acontecimentos macabros.