Obrigado.

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Comovido e preocupado com a história contada por Virgulino, Padre Antônio dirigia em direção a fazenda recanto das Gameleiras. A perna e a idade o dificultava muito, mas não deixava de dirigir. O fazia bem devagar, sendo uma cidade pequena isso não causava problemas no trânsito. No branco de trás uma cruz de madeira, uma bíblia e uma garrafa de água benta.

Quando chegou aos portões os encontrou escancarados como Virgulino os deixará mais cedo. As luzes da casa e os postes do caminho que subia o pasto estavam acesas. Quando estacionou e desceu do carro viu pela primeira vez o vórtice no céu, tinha um olho que estava extremamente em cima da fazenda.

Gritou pelo dono da casa. ninguém respondeu, nenhum cachorro latiu. Ninguém em casa concluiu o velho padre com certa raiva. - tudo isso foi a toa.

Olhou para o caminho iluminado pasto acima, deu alguns passos quando viu um porco morto no chão. Estava prestes a voltar para trás quando viu um movimento no celeiro.

Um jovem saia lá de dentro com uma lanterna e um galão na mão.

- Oi. - gritou mas o jovem andava decididamente sem se distrair.

- Oi, você é filho do Senhor Virgulino? - insistiu o padre.

- Vai embora padre. -disse o rapaz rispidamente.

Um certo clarão começava a surgir do vórtice em direção a cratera para onde Joréu se dirigia, era como um holofotes cujo os raios podiam ser vistos quando atravessavam uma fina poeira no ar.

- Crem Deus pai. - exclamou o padre virando para correr até o carro.

Vinte metros antes da borda da cratera Joréu olhou para cima e viu a sombra da moça enforcada vigiando a borda como um pitbull vigia um terreno.

- você não é real. É coisa da minha cabeça.

Correu por entre a Brachiaria com o pesado galão de gasolina nas mãos, pisou em falso e caiu torcendo o tornozelo.

- Eu não sou real. - gritou uma voz distorcida assombrada sua orelha esquerda. - mas o que você fez naquela noite foi bem real, foi cruel.

- chegaaaaa. - o homem levantou ignorando a voz, em três segundos pulou na cratera já abrindo a boca do galão mas antes de virar o líquido sentiu um empurrão nas costas.

- Não machuca ela. - gritou voz de criança.

Sávio acabou caindo por cima de Joréu, que quando olhou para o garoto tudo o que via era o rosto putrefato da falecida moça.

- Fica longe da pedra. - gritava ela.

Joréu lhe deu um soco empurrando o corpo de Sávio de lado. Quando o menino caiu sentiu o cheiro da gasolina entrar no nariz. O galão estava entornando.

Machucado pelo soco de Joréu, olhou para o fundo do buraco, agora pequenos filamentos azuis claros saíam de dentro do meteorito e dançavam subindo atraídos pela luz que vinha do vórtice no céu. Olhou para cima e viu Padre Antônio munido de crucifixo de madeira em uma mão e fazendo malabarismos com a outra que segurava uma bíblia e a garrado de água benta que com certa frequência jogava no buraco em direção a coisa.

Quando deu por si estava novamente pulando em Joréu que tentava espalhar gasolina mais próximo possível da pedra e seus filamentos que dançavam e levitavam em um ritmo alucinantes.

Ambos caíram quando Joréu tirou o isqueiro do bolso.

- sua vadia. - gritou Joréu empurrando Sávio com toda força. O garoto bateu a cabeça com força e sentiu tudo se esvair. Tudo ficou branco e ele ouviu pela última vez a voz de um anjo:

- Obrigada.

Padre Antônio largou todo o ritual de exorcismo que fazia e pulou na cratera para acudir o garoto desmaiado. Com muita dificuldade arrastou-lhe para cima, para longe da gasolina a tempo de olhar para fundo e ver Joréu acender o isqueiro.

Num segundo toda área encharcada pegou fogo, o fundo da cratera e o corpo de Joréu, que parecia gargalhar de felicidade, como alguém que finalmente conseguiu um determinado objeto, enquanto seu corpo era consumido pelas chamas.

Além do incêndio na cratera, agora havia luzes vermelhas e azuis vindas da estrada da casa grande. Era a polícia.

Noites NubladasOnde histórias criam vida. Descubra agora