Quando Virgulino passou pelo portão da fazenda notou algo de estranho. A porta da despensa arrombada, a parede da pequena casa tinha diversos arranhões que parecia ter sido feitos por alguma fera violenta, o Paiol parecia ter sido vítima de algum atentado. As paredes de bambu estavam quebradas e sem sustentação o telhado veio abaixo. Olhei em direção de onde era o curral e tudo o que viu foi um amontoado de madeiras e entulhos no chão, tudo estava destruído. Chegando mais perto do Paiol notou debaixo dos cacos de telha de amianto o que deveria ser a causa daquela destruição. Uma das vacas estava morta ali embaixo. Olhando para o morro acima no escuro, notou as estacas da cerca arrancadas e mais adiante estava outra vaca morta enrolada em arame enfarpado da cerca, olhou bem para o corpo. Tinha as patas quebradas viradas ao avesso de forma nada natural.
-Seja o que aconteceu com elas, foi exatamente o que aconteceu com Thor. – pensou Virgulino.
Olhou ainda mais pasto acima. Mais duas vacas mortas, subiu até a aba do morro onde ele virava em direção ao terreno vizinho, mais duas, três. Todas as vacas estavam mortas.
Virgulino voltou para a casa grande. Abriu a garrafa de café e botou no copo. O café estava frio. Lembrou de olhar pela primeira vez em direção a cratera. E viu algo se mover no escuro.
Foi até o quarto e pegou a espingarda. Não fazia ideia do que tinha visto mas certamente ir armado era uma boa ideia. Passou pelo disjuntor da sala e acendeu as luzes externas que iluminariam pelo menos até metade do caminho. Partiu como uma bala em direção a cratera, quando passou pela última lâmpada incandescente no alto de um poste madeira viu a coisa que o assustara.
Um ser alto, cujo a distância só dava pra ver a silhueta no escuro, um enorme cabeção do qual saíam dois chifres. A coisa andara para um lado e para o outro como se sua missão fosse proteger o buraco. Quando virou a esquerda em sua marcha macabra um rabo longo surgiu na contra luz ao fundo e carregava consigo uma espécie de lança como um tridente.
- É o diabo. – disse uma voz de criança que vinha de trás de Seu Virgulino. Era a voz do filho morto há tantos anos.
- Aquilo é o Demônio pai, Ele não quer que ninguém chegue perto do buraco.
O garoto que olhava em direção a Virgulino tinha o corpo do filho, mas definitivamente não era ele. A cara aterrorizante lhe tirava completamente o semblante de uma criança inocente.
- vai embora, VAI EMBORA DAQUI. – nem mesmo a voz agora se passava por uma criança, era um grito grosso e metálica que Virgulino jamais ouvira na vida.
Virgulino correu, correu mais do que a idade lhe permitia. Entrou na velha Brasília e sai da fazenda, só com ajuda de deus teve coragem de descer para abrir o portão e em seguida acelerou estrada abaixo, deixando o portão escancarado.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Noites Nubladas
HorrorQuando um meteorito caiu em uma pequena cidade no norte de Minas Gerais, moradores locais começaram a presenciar acontecimentos macabros.