00. există aceste terori.

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✦ PRÓLOGO:

― "tem esses terrores"


Newark, New Jersey.

2013.

A SALA ERA claustrofóbica.

De todos os detalhes que Frank podia notar todas as sextas-feiras à tarde ―- desde o tapete felpudo e negro ao vaso de rosas vermelhas de plástico na estante acima -―. Frank se sentia grande demais, muito controverso para alguém de sua estatura, para aquela sala e isto era o que mais o assolava.

-― E o sonhos? Têm sido os mesmos? -― Pergunta ela, erguendo seu olhar da caderneta onde anotava algo sobre Frank estar seguindo a medicação corretamente. Os olhos escuros sobre as lentes de grau fininhas.

Ele precisou de um tempo antes de responder. Só para se assegurar de que os sonhos e suas sensações sufocantes não voltariam.

―- Os mesmos. O tiroteio no restaurante, as mãos apertando minha garganta, a criança chorando. A fonte de sangue, as taças. O carro e- -― Frank sentiu-se engasgar, toda sexta-feira era isso. -― E o tiroteio.

―- O tiroteio no sonho que em você está no carro, você quer dizer? ―- A doutora balança solene a cabeça quando ele assente. ―- Não há nada mais nesse sonho que, segundo nossas outras sessões, você diz não fazer sentido com sua realidade, que possa ser uma resposta? Nada novo?

Frank começa a esmagar os polegares uns nos outros, espremendo-os nas palmas para se distrair.

―- Nada, Lindsey. Eu me lembro muito bem de cada um deles porque são sempre todos iguais. Toda noite as mesmas imagens e sensações; toda noite os mesmos terrores. Mas o carro, o carro é algo que eu realmente não consigo entender.

"Quero dizer, eu não digo como se esse fosse um tipo de resposta do meu inconsciente para a morte de Miles ou o divórcio com Jamia, porque tenho ele desde um tempo. Nove anos, exatamente. Eu sei que sou eu no carro, e- e é tudo muito real. E tem os barulhos, tem os disparos, os pneus cantando pela areia, as sirenes. Deus, eu estou tão amedrontado pelas sirenes, e- E eu-"

―- Frank. ―- A doutora o corta, objetiva. Seu olhar escurecido sobre ele, na poltrona; ele tem os dedos enroscados uns nos outros, o peito deixou de subir e descer tão rápido. ―- Respire fundo. Você está na minha sala. Você está seguro.

Respire fundo, Frank.

―- E eu sei que eu morro. Sou acertado pelas balas. O carro capota, eu engulo areia e sangue, e morro. Mas é no momento em que, sabe, estou escutando alguém que está no controle do carro gritar meu nome várias vezes enquanto estou sufocando de sangue e dor-

"É aí que eu começo a sentir as mãos fora do sonho. Eu acordo e as mãos estão agarrando e apertando a minha garganta. E eu alterno nos sonhos- vejo o teto do meu quarto, às vezes eu via o cabelo de Jamia, e aí eu via a areia, as sirenes e fogo. E o sangue, meu e das taças."

Respire fundo, Frank. Deixe as emoções virem até você.

A doutora vasculha algo numa gaveta abaixo, ainda sem tirar os olhos afiados de Frank. Põe uma caixa de lenços sobre a mesa, empurra-a para a frente e gesticula gentilmente, o que ele entende como um "pode pegar, se quiser".

―- E a noite do restaurante? Como esses sonhos têm relação? Onde começam e onde terminam?

―- Desde o restaurante, quando eu pude voltar a dormir, começavam com a cena inicial do nosso jantar. E pulavam para os criminosos até-Até Miles nos braços de Jamia. E eles repetiam, os disparos começavam de novo e de novo até ecoarem na minha cabeça. E eu mudava para o carro, como se os dois sonhos se fundissem.

BLOODLUST ➵ frerard.Onde histórias criam vida. Descubra agora