Capítulo 7

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Passamos a viagem toda em silêncio, ouvindo apenas o vento que batia com toda a força nas janelas entreabertas. Percebi várias vezes que Pheter me olhava pelo canto do olho, me observando toda vez em que me encolhia de frio no banco. Ele passou a mão no banco de trás sem tirar os olhos da rua e me entregou sua jaqueta de couro preta, a vesti e agradeci com o olhar.

O carro diminuiu a velocidade parando em frente a minha casa, a pequena construção de paredes amarelas e janelas brancas é pouco iluminada pela fraca luz do poste, o pequeno gramado verde é separado ao meio por um estreito caminho de pedras que ia da calçada à porta de entrada, e no canto a direita um grande portão branco da garagem obtém um caminho acimentado para o único carro da família, um antigo civic cinza.

- Obrigada pela carona, foi muito gentil da sua parte. - Confessei sentindo que talvez me arrependeria mais tarde. Desfivelei o cinto e abri a porta, Pheter joga seu corpo no meu colo e fecha a porta antes mesmo de eu pensar em colocar as pernas para fora.

- Era só dizer pra eu ficar.

- Você não ficaria. - Não mesmo. Olho para ele e seu olhar encontra o meu. - Me desculpe por hoje, não sei porquê tive aquele comportamento. - Ele diz quase aos sussurros se encostando no banco e entrelaçando os dedos atrás da nuca, encarando a rua. A sombra do teto do carro deixa seus olhos na escuridão, sua boca é apenas uma fina linha preocupada.

- Deve haver alguma explicação.

- Não sei, acho que estava tentando proteger você.

- Me proteger do quê ?

- De se apaixonar por mim talvez. - Solto uma breve risada seca, Pheter muda de posição no acento demonstrando estar incomodado.

- Me apaixonar por você, qual o problema nisso ? - Pergunto baixinho, mais pra mim mesma do que pra ele, mordo o lábio.

- Por que isso provavelmente te colocaria em risco, - responde ele em um tom preocupado - eu estar apaixonado por você já muda muita coisa.

- Muda exatamente o... espera, você disse que está apaixonado por mim ? - Gaguejo, sento ereta no banco olhando fixamente para o asfalto a minha frente, um arrepio eriça meus fios da nuca, por algum motivo não consigo olhar pra ele. Apaixonado por mim?, pensei.

- Sim, desde a primeira vez em que te vi senti uma necessidade insana de te tocar, de sentir seus lábios, - ele suspira fundo - não sei o porquê, eu só sinto que devo estar ao seu lado, te proteger, mas é perigoso demais.

- Perigoso ? O que tá acontecendo Pheter ?

- Não posso te contar ainda. - Ele se volta pra mim e eu o encaro, seus olhos estão quase negros de tão dilatados.

- Se é tão perigoso assim porquê me disse? Pra me deixar curiosa ou com medo? Pra me afastar? Agora que eu sei que você gosta de mim quer que eu me afaste só porque está dizendo que é perigoso? Pois eu posso enfrentar o perigo se for necessário.

- Não é nada disso. Bem, em parte pelo menos. Eu esperava que se eu te dicesse que é perigoso e não sei o que você se afastasse.

- Desista. - Resmungo cruzando os braços na frente do corpo.

- Você fica linda quando está brava, suas bochechas ficam vermelhas. - Ele diz com um sorrisinho. Meu rosto esquenta ainda mais com ele se divertindo com a situação. Com uma das mãos ele acaricia meu rosto me fazendo relaxar um pouco. Chega mais perto olhando meus lábios mas rapidamente o afasto.

- Esqueça, não vou te beijar. - Quase me arrependo de ter dito isso mas me mantenho firme.

- Tudo bem. - Responde ele com um sorriso malicioso, seu dedão acaricia meus lábios e depois minha bochecha corada. Me inclino devagar com os olhos fechados pronta para beijá-lo. - Achei que tinha dito que não me beijaria. - Sussurra no meu ouvido. Meu rosto queima ainda mais.

- E não vou. - Assegurei abrindo a porta do carro e saltando pra fora. Meu Deus como sou fraca! - obrigada pela carona. - Agradeço e bato a porta do carro, caminho até a entrada da casa e após entrar a tranco atrás de mim sem olhar para trás.

Sigo para o meu quarto, separo meu pijama e vou para o banho. Deixo a água quente cair nas minhas costas, aliviando o clima frio daquele dia. Após terminar, me seco, coloco o pijama e penteio meu cabelo, prendendo-o à uma trança lateral. Programo o despertador para 06:00hrs e me deito na minha cama confortável puxando o cobertor até o queixo. Fico encarando a jaqueta de Pheter que deixei pendurada na porta do guarda roupas. Eu sentia algo por ele, diferente, forte, intenso. Mesmo ele ter me tratado daquele jeito eu queria ficar ao lado dele, saber mais sobre ele, senti-lo. Quase como uma obsessão. O que seria? Estou ficando maluca? Estaria eu apaixonada pelo bipolar do Pheter? Ele me parece problemático, louco.

O sono chega pouco depois e acabo sonhando que estou no meio de uma floresta, sendo devorada por lobos gigantes.

Toca do Lobo (SEM REVISÃO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora