— Está escuro – ele disse desviando o olhar e se posicionando ao meu lado timidamente. – Pode ser perigoso.
— Minha casa é bem perto – digo ainda sem reação.
— É só por precaução. Está escuro e deserto aqui fora. – Repete dessa vez mais firme. Respiro fundo olhando para frente e volto a andar. – Olha, mas cedo lá no restaurante... O que eu disse... – Dylan parecia procurar as palavras certas para dizer o que queria. – É... Não quero que se sinta incomodada com isso.
— Não me sinto... Estou bem. – Minto sabendo que meu coração estava bastante estranho em relação a ele, após sua confissão. – Está no passado como você disse, não é?
— Pois é – balbuciou.
Continuamos nossa caminhada um pouco distante um do outro. Eu estava cada vez mais perto de casa, mas desejava que o caminho se estendesse um pouco mais.
— Você desenha muito bem. – Ele iniciou novamente me pegando um pouco de surpresa. Dessa vez ele estava puxando assunto. Olhei para minha mão.
— É de Henna.
— Posso ver mais de perto? Não tive uma oportunidade lá no restaurante.
Após minha confirmação com a cabeça, Dylan se aproximou devagar apontando a lanterna para o desenho na minha mão. Um leve sorriso se formou em seus lábios, me deixando maravilhada.
— Lembro dos desenhos que fazia no colégio. Já eram bonitos antes, mas agora ficaram melhores. – Ergui minhas sobrancelhas com sua fala.
Não lembro de algum dia ter mostrado meus desenhos a alguém.
— Como assim?
— Oi? – ele levantou os olhos encontrando os meus. Estávamos tão perto que pude sentir sua respiração pesada em minha bochecha. Rapidamente ele se afastou, voltando a sua posição. – Desculpe — pediu voltando a andar e o acompanhei.
— Como sabe dos desenhos? – questionei curiosa.
— Você costumava deixar o caderno aberto quando terminava algum desenho.
— Deixava?
— Sim – afirmou e suspirei sem recordar.
— Acho que eu era bastante desligada no colégio.
— Um pouco, talvez – ele concordou com certo riso.
— Você está rindo, é? – Empurro-o com meu ombro, percebendo-o retrair um pouco. Alguns segundos depois volto a falar. — Eu comecei a desenhar depois que meus pais morreram.
— Eu sei – ele disse e respirei fundo lembrando-me daquela época.
É claro que ele sabia, todos sabiam. Os alunos ficaram sabendo da minha tia ser acusada da morte de meus pais e começaram a me chamar de assassina. Ninguém queria estar perto de mim, todos zombavam e desenhar me fazia esquecer deles. Só com o tempo é que as acusações foram esquecidas. Depois disso, pude fazer colegas e uma amiga, que logo após o término do colegial, não fui capaz de manter contato.
— Foi difícil, mas você se saiu muito bem.
— Eu não teria tanta certeza – digo pensativa.
Em poucos minutos, estava em casa. Me despedi de Dylan com um breve aceno e voei para meu quarto. Do alto de minha janela vigiei Dylan em seu caminho de volta à livraria. Um sorriso tímido apareceu em meu rosto e suspirei.
— Por que está sorrindo para a janela? – tia Emma questionou me assustando.
— Que susto, tia! Não é nada – digo fechando as cortinas.
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Até Que O Inverno Acabe
RomanceE se sua paixão nos tempos de escola fosse capaz de dominar seus traumas? Até Que o Inverno Acabe, conta a história de Lisa e Dylan. Ambos tiveram uma fase difícil na infância, mas Lisa Adams foi capaz de deixar para trás um passado doloroso enquant...