Capítulo 10

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Não tive uma boa noite de sono. O beijo que demos não saía dos meus pensamentos, cada toque, cada aperto, cada arfar... Suspiro ao perceber que estou novamente pensando nele. Eu sabia que Dylan iria me evitar e ler o pequeno bilhete que ele deixou, me fez ter essa certeza.

"Fui à cidade pegar os livros para serem repostos na livraria. Não tenho hora para voltar, então se quiser sair às oito, fique à vontade. Só deixe as chaves perto do vaso pequeno em cima da mesinha do lado de fora. Dylan."

Bem objetivo, não? Agradeci o dia ter passado rápido hoje, às oito horas, quando vi que ninguém mais viria a livraria, deixei a chave perto do vaso e voltei para casa carregando minha pequena mala. Uma leve tristeza me invadiu assim que entrei pela porta. A casa estava escura e fria, ao contrário da livraria que era iluminada e aconchegante. Ou será que era Dylan que a tornava assim?

— Tia? – chamei por ela, mas não tive reposta. É claro que eu não teria.

Então apenas subi para meu quarto e antes de dormir, observei a livraria. Eu já havia me acostumado a "morar" lá. Os dias seguintes foram iguais. A livraria estava cheia, alguns alunos conhecidos falavam comigo e Dylan mal conseguia me encarar direito. A não ser pelo dia tão esperado da reunião dos alunos de 2014. Vi quando o pai de Dylan o dispensou mais cedo de seus deveres na patinação e ele meio sem jeito entrou na livraria.

— Você não vai para a reunião dos alunos? – perguntou tirando seu casaco e colocando em um cabide ali próximo.

— Vou. E você?

— Eu? Não – negou. – Vou ficar por aqui mesmo.

— Por que não vai?

— Por quê? – ele repetiu minha pergunta piscando os olhos. – Não me sinto à vontade no meio de multidões.

— Ah... – murmuro.

— Pode ir para casa, eu cuido das coisas por aqui.

— Mas meu expediente ainda não acabou.

— Não se preocupe com isso. Você pode compensar outro dia – falou gentil.

Essa foi a maior conversa que tivemos depois do nosso beijo. Ele passou por mim indo até à pia, preparando uma xícara de café. Percebi a tensão subir entre nós e resolvi ir logo embora. Ele nem conseguia olhar para mim direito. O que eu ficaria fazendo ali? Peguei meu casaco e saí. No entanto, dois minutos após começar minha caminhada, vi a luz da lanterna. Travei meus passos olhando para trás, já sabendo quem era. Foi impossível não sorrir ao vê-lo ali, com seu rosto envergonhado como se estivesse se perguntando se estaria fazendo a coisa certa.

— Posso te acompanhar até sua casa? – ele falou acanhado, ficando ao meu lado.

Afirmei. Resolvi não falar nada apenas aproveitar o momento. Dylan parecia inquieto, era como se ele quisesse me dizer alguma coisa, mas lhe faltava a coragem necessária. E meu coração ansioso resolveu respeitar. Lembro da história que Luna me contou e da lenda contada por ele. Talvez fosse difícil para ele entender os sentimentos que sentia. Talvez ele não soubesse direito como lidar com isso.

— Chegamos – ele avisou me trazendo de volta.

— Obrigada por me acompanhar. — Vi o sorriso se formar em seus lábios carnudos.

— Boa noite – diz e dou um passo quando ele se prepara para ir.

— Tem certeza de que não vai à festa?

— Tenho. Acho melhor ficar por aqui mesmo – afirma e suspiro.

— Então, boa noite. – Eu me despeço vendo-o se afastar.

Até Que O Inverno AcabeOnde histórias criam vida. Descubra agora