Capítulo 10

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 CAROL

Após algumas semanas, percebi que Rosa, Júlia e eu estávamos cada vez mais próximas. Compartilhávamos a maioria do tempo juntas, até mesmo os dias de folga. Era como se, aos poucos, Rosa e eu, estivéssemos reconstruindo os laços que o tempo havia desgastado.

Apesar de estarmos mais alinhadas, eu ainda sentia um turbilhão de sentimentos em relação a Rosa e até mesmo com relação a possibilidade de Julia ser ou parecer com nossa filha.  O amor que sentia por Rosa estava cada vez mais claro que  ainda pulsava forte dentro de mim, mas também havia uma barreira de receio e insegurança, como se estivéssemos dançando em um campo minado de emoções.

Em um determinado momento após nosso treino em que me sentia muito agoniada chamei  Thaisa e Daroit, minhas melhores amigas, para conversar:

- Carambaaaaaa! Porque você nunca contou isso pra gente? Tudo isso é tão pesado! Como foi ficar com tudo isso por todos esses anos, Cacá?

- Ai Thai! Eu evitava, pensar, sentir tudo que era relacionado a esse passado. Guardei, matei e procurei enterrar bem fundo tudo isso por todos esses anos.

- Cacá, eu sinto muito, mas você percebeu que seu passado voltou desenterrando isso tudo e falando um foda-se bem grande pra você, né? E pqp, uma filha...e a possibilidade da Jú ser essa filha. Meu Deus, tudo isso requer muita terapia.

- Eu bem sei, Tutu, eu bem sei. E ainda tem tudo isso de sentimento pela Rosa que me invade com uma intensidade avassaladora. E eu, tô com tanto medo de falar o que sinto, como me sinto e dela não sentir o mesmo. Medo de perder de novo o que a gente tá resgatando aos poucos sabe? Deu tanta merda no passado!

- É !! Só que vcs foram imaturas de não conversarem já naquela época e deu no que deu. Se vcs tivessem esclarecido, talvez vcs estariam juntas até hoje.

- Jura Tha, eu nem pensei nisso - Carol bufou e elas permaneceram em silêncio. Quem quebrou tudo isso foi Daroit.

- Eu acho que vc deve conversar com ela e abrir seu coração.

- Também acho. Se você não tentar nunca saberá - Carol revirou os olhos pra Thaisa.

Essa conversa com Thaisa e Daroit foi como uma catarse para mim. Finalmente, coloquei para fora todo o peso que carregava sobre os ombros, toda a incerteza e o medo que me sufocavam. Apenas falar sobre isso aliviou uma parte do meu tormento, mesmo que ainda houvesse um longo caminho pela frente.

Decidi que era hora de dar um passo adiante, tanto em relação aos meus sentimentos por Rosa quanto à possibilidade de Júlia ser nossa filha.  Tá... ainda não temos certeza, mas pra entender se ela é adotada, se tem algum segredo de família...mas ao mesmo tempo fico com medo de bagunçar tbm a cabeça dela, ela ainda é tão jovem. Era como se uma voz dentro de mim gritasse para que eu não deixasse o medo e a dúvida me paralisarem novamente.

Então, decidi ir até o quarto para conversar com Rosa. Quando entrei, encontrei-a cochilando ao lado de Júlia, como se estivessem aproveitando um momento de tranquilidade juntas. Aquela cena fez meu coração se aquecer, mas também me deu coragem para seguir em frente com o que precisava ser dito.

Quando estava prestes a sair, Rosa abriu os olhos e sussurrou um cumprimento. Aquela voz rouca e aqueles olhos sonolentos me deixaram ainda mais derretida do que antes. Era como se o tempo tivesse congelado naquele instante, só nós duas ali, compartilhando um momento de intimidade.

Tentei disfarçar minha agitação, mas Rosa percebeu minha expressão preocupada e me questionou. Engoli em seco, sentindo-me como uma criança prestes a admitir uma travessura.

- Oi, Cá!! - Aquela voz rouca, aqueles olhos pequenos devido ao sono me fizeram arrepiar, respondi toda derretida como sempre.

- Oi! Pode voltar a descansar. Eu não sabia que a Juju tava aqui.

- Ela quis assistir um filme, te procuramos para assistirmos juntas. Tbm tentei te ligar...

- Sem problemas. Eu tava conversando com a Thatá e Tutuzinha.

- Aconteceu alguma coisa? Tá com uma cara de preocupada. - Engoli a saliva e acredito que fiquei branca. Respondi gaguejando. Como me sentia tão covarde pra isso? :

- Eu, eu...

- Você? - Respirei fundo e segui.

- Eu, queria conversar com vc. Você aceita jantar comigo? - Nesse momento percebi que Rosamaria arregalou os olhos e antecipei:

- Caso não queira, sem problemas, não é nada de...

- Claro que aceito - ela me interrompeu e me pareceu feliz?

 Aquilo me deu um pequeno raio de esperança de que talvez, apenas talvez, as coisas pudessem se resolver entre nós.

No entanto, mesmo com esse lampejo de otimismo, ainda me sentia insegura. Será que estava fazendo a coisa certa? Será que conseguiríamos superar todos os obstáculos que surgiriam em nosso caminho?

Essas dúvidas ecoavam em minha mente, mas por agora, eu apenas me concentrei na ideia de que talvez, apenas talvez, pudesse haver um final feliz para nós. E essa pequena chama de esperança foi o suficiente para me dar forças para seguir em frente.

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