Capítulo 4

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CAROL

Olhando para Rosa agora,percebo o quanto ambas mudamos. A vida nos moldou de formas diferentes, mas aessência parece intacta. Percebi que nós duas já estávamos banhadas por lágrimas.

 Rosa olhou novamente para baixo e percebeu que ainda estava com a mão no meu braço, e me dei conta de que ainda tínhamos as mesmas sensações ao entrar em contato com a pele uma da outra.

"Eu não sei se consigo conversar sobre isso! E não acredito que você tem a cara de pau de não conseguir imaginar por que eu sumi!!" Respirei fundo e, pela primeira vez, me desvencilhei do seu toque, deixando mais lágrimas caírem e completei: "Toda vez que eu ouço seu nome, lembro do que você me fez. De como me senti e ainda me pergunto como teve tamanha coragem para isso!! Eu choro, grito, mas nada do que sinto ou faço é capaz de aliviar o grande vazio que sinto dentro do meu peito."

Rosa deixou um soluço alto escapar, tentou limpar as lágrimas que já inundavam seu rosto e embaçavam sua visão, e sussurrou: "Você fala como se a única machucada nessa história toda fosse você. Você me abandonou de um dia para o outro e eu juro que não sei o motivo!!" Pela primeira vez, ela aumentou a voz, explodindo com tanto sentimento acumulado. Mais uma vez, respirou fundo, procurando puxar o ar que parecia lhe faltar. Se aproximou novamente de mim, segurou minhas mãos, fez carinho nessa região e mais uma vez percebemos como nosso corpo ainda reagia ao contato. Ela completou: "Não adianta mais fugirmos de tudo isso, Carol. Me diz, por que você foi embora? O que eu fiz que até hoje eu realmente não sei?"

"Rosamaria, para de ser cara de pau, por favor?!"

"A única coisa que sei é que eu fui para casa te esperar naquela noite e você não apareceu. Eu acordei no dia seguinte, com uma dor de cabeça horrível. Lembro que cheguei em casa, tomei um banho, tomei um chá que minha prima me deu e acabei apagando. Acordei, perguntei para minha prima se você tinha aparecido, ela disse que não. Daí eu fui para sua casa e a casa estava vazia. Olha nos meus olhos, por favor, é isso que eu sei e lembro daquele maldito dia."

Comecei a andar de um lado pro outro. Coloquei a mão na nuca, sentindo como se fosse desmaiar a qualquer momento. Tudo estava muito errado, as versões não estavam batendo, mas ao olhar nos olhos dela, tive a certeza de que ela dizia a verdade.

"Não é possível que você não se lembre que me traiu com sua prima, Rosamaria!!" explodi.

"O quê? Nunca! Do que você tá falando, pelo amor de Deus?!"

Parei, sentei na cama e comecei a chorar incansavelmente.

"Carol, me fala do que você tá falando? Eu nunca te trai! Por que você não foi me ver naquela noite? Por que foi embora? Fala comigo, por favor?!"

"Eu fui te ver. E te vi na cama com sua prima. Por isso eu fui embora. Eu achei que você tinha me traído. Você tava nua e ela também, e ambas estavam juntas na sua cama."

"O quê? Não!! Eu não te trai! Ela disse que você não tinha ido e eu acordei sozinha na cama." Percebi que Rosa ficou desesperada, várias coisas passavam pela minha cabeça. Agora ela sabia por que eu tinha ido embora, e eu sabia que ela não tinha me traído com sua prima. Ela seria incapaz de fazer isso e eu também percebi que havia cometido o pior erro da minha vida.

"Carol, olha pra mim? Caramba!!! Por que demoramos tanto para resolver essa confusão? Eu não te trai! Acredita em mim, por favor?"

Ergui meus olhos e, mais uma vez, me aprofundei na imensidão daqueles olhos  e tive a confirmação do que eu mais temia: tudo foi uma armação.

"Rosa, você disse que quando chegou tomou um chá fornecido pela sua prima e que apagou, certo? Que ao acordar estava com dor de cabeça, perguntou por mim e ela disse que eu não tinha aparecido!"

"Isso, exatamente isso! E você disse que foi e que eu estava dormindo com ela." Rosa respirou fundo e a ficha caiu: "Aí meu Deus!! Ela armou tudo isso, Carol!!!"

"Sim! Eu acredito em você e aquela vaca nos separou. Eu sinto muito por tudo isso. Se nós tivéssemos conversado... Se eu não tivesse ido embora..."

Nesse momento nos abraçamos, as lágrimas se misturaram. Eram tantos sentimentos juntos e, ao mesmo tempo, o alívio por estarmos finalmente entendendo tudo. A mágoa ainda estava ali, mas pela primeira vez em vinte anos, havia também uma chance de cura.

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