O som da campainha tocando estava na lista das últimas coisas que Kohaku esperava ouvir aquela hora da noite, mas foi exatamente isso que ouviu e que a fez repensar por dois segundos se talvez estivesse apenas alucinando. Respirou profundamente enquanto ainda sentia lágrimas quentes percorrerem seu rosto caminho a baixo, mas após a reflexão concluiu estar no mundo real, colocou os pés no chão e seguiu até a porta, havia realmente alguém do outro lado de sua porta as quase cinco da manhã. A loira se moveu, sentiu que sua alma teve de arrastar o corpo nas costas para que chegasse até onde queria, os olhos arregalaram a medida que a porta revelou Gen, mal vestido e com uma expressão incrivelmente mais melancólica que a sua.
-Gen... Gen? -balbuciou, piscou duas ou três vezes antes de sentir que o fluxo de suas lágrimas aumentaram.
A garota estava hesitante de tudo, menos de correr e abraçar o amigo o mais forte possível, sentindo os braços do outro envolverem seu corpo apenas alguns segundos depois. Os dois ficaram assim por tempo suficiente para que Gen desistisse da ideia de desabar em lágrimas também, em vez disso apenas a abraçou, Asagiri passava a mão nas costas de Kohaku enquanto ela continuava choramingando lágrimas quentes que deslizavam por sua bochecha até encontrarem com o tecido da roupa de seu amigo. Esse intervalo de silêncio entre o abraço e a caminhada até a sala de estar da atriz durou apenas alguns segundos, mas foi longo o suficiente para os dois se entenderem caladamente.
Os dois amigos se moveram até o grande sofá na sala de estar luxuosa e espaçosa, o ambiente já era familiar para o mágico, tudo era graciosamente equilibrado em uma paleta cinza e marrom reconfortante, claramente o trabalho de decoradores profissionais, já que a atriz não parecia ter economizado tanto em deixar o cenário de sua casa a seu gosto. Por fim, respiraram o ar sombrio gélido da noite levemente perfumado pelo amaciante doce das almofadas, se entreolharam o quanto precisaram antes de começar.-Pode dizer Kohaku... -se pronunciou primeiro, engolindo a seco após isso.
A garota o ouviu abafado, soltou uma piscada lenta e suspirou na tentativa falha de soltar toda sua frustração junto ao ar.
-Acontece que Amaryllis e eu vamos ter que... Terminar... -explicou brevemente, como se cada palavra fosse uma pequena agulha perfurando a fina pele entre seus seios.
Asagiri piscou uma ou duas vezes, o suficiente para que sua mente retornasse a terra e ele sentisse seus pés encostarem o chão junto ao peso sobre suas costas que parecia aumentar.
-Como?... "Vamos ter"? -indagou desorientado, repetindo a mesma frase que ouviu sem muita expressão, a ficha talvez demorasse a cair.
-Os pais dela... -foi obrigada a pausar antes de suas lágrimas transbordarem de novo- Os pais dela descobriram...
Asagiri viu sua visão abaixar de repente, por algum tempo ele se sentiu fora de seu corpo, fora do controle daquela massa de carne e ossos fraca e desengonçada, tão fora de si que nem mesmo questionou esse fato.
-Kohaku... Eu sinto.... Muito mesmo! -pronunciou uma das frases mais inúteis e clichês que poderia pronunciar.
Mais uma vez, ele deixou que a sala fosse preenchida pelo silêncio, os olhos ardidos pelo cansaço, o corpo dolorido e a respiração pesada nem mesmo foram suficientes para que Gen recusasse se construir firme e forte na frente da amiga de novo como sempre fazia. Esse era o papel de Gen, como mentalista, como mágico, como amigo, independente do vazio que sentia, Kohaku viria primeiro.
-Ei... Ei Haku... -a chamou pelo apelido, segurando delicadamente o rosto da garota como se pedisse para ela manter a cabeça no lugar por alguns apenas mais alguns segundos.
O olhar dos dois se encontraram em um atordoamento violento, como se uma das maiores e mais violentas ondas do mar refletiam nos olhos azuis do garoto, enquanto as pupilas de Kohaku ainda pareciam perdidas nas cores do imenso céu da manhã.
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Mentalista Inconveniente
FanfictionNo meio das situações em que Tsukasa Shishio insistia em colocar Senku, ele acabou inconsequentemente em uma das brincadeiras de Gen Asagiri, um mentalista famoso que se atraiu por seu estilo, só não considerou que o desastroso caso (visto assim por...