Aviso: Imagens do Pinterest
Querida Anne,
Eu não...não sei bem o que se está a passar comigo.
Não me consigo concentrar nas aulas, sempre que tento acabo cheia de dores de cabeça. Cada vez mais é me difícil manter a calma e controlar a minha mente, está sempre a vaguear em coisas negativas. Só se ouvem notícias más e sempre que as oiço atingem-me de frente. Começo a tremer, tenho arrepios de frio e de calor, fico maldisposta e parece que vou vomitar, começo a pensar em todos os cenários negativos, fico semanas com aquilo na cabeça e por vezes desato a chorar. Apetece-me desesperadamente fugir desta realidade, ira para uma onde não existam problemas. Um lugar seguro onde só haja paz, alegria, tenhamos todos mesmos direitos, não haja pessoas más ou doenças, fome ou perigo, onde não haja guerras, poluição e desiguale. Uma utopia igual aos mudos de fantásia que leio nos livros. Onde o bem permaneça sempre. É irreal e sei que não vai acontecer, pelo menos não por agora, mas espero que no futuro quando as pessoas aprenderem com os erros... decidam fazer melhor.
Mas não por isso que te estou a escrever. Por mais que os problemas do mundo me atormentem, há outro que me tem feito sentir muito mal. Sinto-me tão excluída na escola.
Provavelmente trouxe isto para mim ao isolar-me tanto, mas doi tanto ver os meus “amigos” a divertirem-se sem mim.
A verdade é já desde o jardim de infância que era sempre o elo mais fraco do grupo. Fazia sempre aquilo que queriam apenas para que brincassem comigo, não importava se não o queria fazer ou era humilhante convencia-me sempre a fazê-lo com ameaças de que deixaria de ser meus amigos ou explulsarem-me da brincadeira.
Quando foi para a primária foi a mesma coisa vinha de um infantário diferente então era a única que eles não conheciam... chorei muito durante esses anos, era muitas vezes gozada e posta de parte nas brincadeiras então recorria a mentira para me proteger, coisa de que me envergonho muito, pensei que a coisa ia mudar quando a minha suposta melhor amiga foi para lá, mas só pioraram. Foi bom durante as primeiras semanas, depois ela afastou-se e fiquei outra vez sozinha. A forma como ela agia na escola com os nossos amigos era diferente da maneira como agia comigo quando estávamos juntas fora da escola. Isso chatiava-me muito. Não foi fácil integra-me acho que nunca o fiz verdadeiramente, era sempre diferente dos demais. Era raro convidarem me para as brincadeiras ou para as danças que faziam. Acho foi assim que eu comecei a excluir-me.
O Pedro foi a única coisa de bom que retirei dai. Eu fui para aquela escola sozinha, os meus outros amigos foram para outras escolas, então nos primeiros dias eu andava perdida no meio daquele novo ambiente. Na segunda semana de aulas ele veio ter comigo durante o recreio, tinha me esquecido do meu lanche em casa e tinha estado a chorar porque tinha saudades de casa, (e também porque estava com fome, mas estava com muita vergonha e medo de pedir comida a alguém e só o leite da escola não me enchia), então ele sentou-se ao meu lado no banco e deu-me um lenço para limpar as lagrimas da cara. Era bastante tímida então tive medo de ele gozar comigo por estar a chorar, mas ele nunca disse nada a respeito, apenas ofereceu me um lenço, apresentou-se e perguntou-me porque estava a chorar e não a brincar com os outros. Contei-lhe acerca da situação do lanche e do facto de não conhecer ninguém. O Pedro sempre foi o melhor amigo que alguém podia ter. Depois de ter dito aquilo, puxou a lancheira e tirou de lá um pacote de bolachas de chocolate, as minhas favoritas e deu-mas. Recusei-as em primeiro, mas ele foi bastante convincente então acabei por come-las. Ele apenas ficou ali a conversar comigo enquanto comia, foi bastante divertido, principalmente porque no final da conversa ele deu-me a minha primeira alcunha: Cookie. Em seguida pegou me na mão e foi apresentar-me ao resto da turma. Tornamo-nos inseparáveis desde esse dia.
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As últimas memórias de uma adolescente morta
أدب المراهقينEnquanto tenta lidar com todos os sentimentos que vieram com a morte da melhor amiga, Pedro descobre que Laura deixou-lhe um diário um seis passagens que retratam o quão cansada e partida estava, levando por consequência a que se suicídasse. Um mis...