Querida Anne,
Será possível ficar ainda mais triste do que já estou?
Porque é que parece que todos estão irritados comigo?
Na escola os professores estão distantes e já não querem saber como me sinto, os meus amigos já nem tentam incluírem me nas coisas. Em casa todos parecem tão focados nos seus problemas que não tem tempo para me ajudar, eles nem querem saber como correu o meu dia. Sou assim tão insignificante que já todos desistiram de mim?
Tudo, tudo tem me assutado ultimamente. Eu vivo constantemente com medo. Ninguém liga, não importa o que eu tento fazer para pedir ajuda, ninguém me vê.
Sinto-me tão triste, sinto-me a morrer e não consigo parar.
Por favor, não me deixem. Eu não quero ficar sozinha, não quero que dessintam de mim, eu juro que tento fazer melhor, esforçar-me para ser menos eu.
Hoje na aula apresentei um texto que escrevi spbre a saúde mental. Não dei o meu nome a personagem principal mas usei como base para escrever as coisas queque tenho feito em mim mesma, do que sinto, do facto de estar sempre triste, de viver constantemente com medo e desconfiança, dos pesadelos, das tonturas constantes, das
dores de cabeça, contraturas, basicamente tudo aquilo que me ia na alma. Eu simplesmente transformei os meus sentimentos em palavras e formei um texto. Ultimamente tenho feito muito isso, e mostro os meus colegas. Estava com a esperança de que alguém me viesse perguntar como me sentia, se estava bem. Sabes quantas pessoas vieram, zero, nicles, nenhuma. Achava mesmo alguém viria, mas ninguém veio, nunca ninguém vem e sabes porquê? Porque não valho apena. Até a professora Sofia que disse que eu não devia escrever com esta seriedade toda me ignorou e mandou para o lugar, mesmo tendo respondido que escrevi o que me ia na alma. A Teresa disse que ficou tocada, e quando trocamos mensagens e eu expliquei-lhe tudo o que sentia na esperança de alguma coisa mudar, mas no dia seguinte tudo contínuo na mesma.Está tudo na mesma, nada muda as pessoas não mudam.
É como gritar no escuro, sabem que está lá alguém, mas recusa-se a ir ver. Talvez elas não sabem como eu me sinto, mas custaria muito vir perguntar? Todos estão tão focados em si próprios que se esquecem de olhar em volta. Há pessoas a morrer porque estão magoadas e ninguém, absolutamente ninguém se importa em ver se os outros estão bem a menos que essa dor os atinga.
Tudo se tornou difícil de suportar é como um comboio desgovernado que cada vez ganha mais e mais velocidade e que aos poucos vai saindo dos trilhos causando confusão por onde passa, até que eventualmente vai bater contra alguma coisa e destruir-se. Sinto me muito assim ultimamente.
Mas acho que arranjei uma maneira de lidar com a dor emocional. É bastante simples, tenho feito isto desde dezembro passado. Estava a ajudar a minha mãe a cozinhar, tinha a cabeça cheia de problemas desta vez devido a uma briga que tive com a minhas amigas, acabei por me distrair e cortei-me. Não foi um corte muito profundo, mas também não foi muito a superfície, é difícil de explicar digamos apenas que atingi a palma da minha mão com a faca. Doe um bocado, não vou mentir, mas quando aquela dor me atingiu, os problemas em que tanto pensava acabaram por se evaporo durante algum tempo já que toda a minha atenção foi para a ferida.
Desde então sempre que a dor emocional e os problemas se tornam demais para suportar faço pequenos cortes, arranho me ou bato com pés e as mãos nos moveis ou paredes. Por vezes até ponho as mãos no gelo da arca.
Eu sei que o que estou a fazer é errado, mas alivia-me tanto a cabeça. E eu consigo parar se quiser, suponho.
Além disso ninguém se importa com aquilo que sinto ou faço. Se o fizessem teriam achado estranho vomitar tantas vezes ao longo da semana.
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As últimas memórias de uma adolescente morta
Roman pour AdolescentsEnquanto tenta lidar com todos os sentimentos que vieram com a morte da melhor amiga, Pedro descobre que Laura deixou-lhe um diário um seis passagens que retratam o quão cansada e partida estava, levando por consequência a que se suicídasse. Um mis...