A Laura foi uma das pessoas que mais sofreram ao longo da vida. E mesmo assim tinha um coração de ouro, tomara que todos tivessem um coração como o dela, o mundo seria sem dúvida um lugar melhor.
Mesmo a sofrer tanto ela ainda tinha espaço no coração para os outros e sofria quando não os podia ajudar.
Lembro-me dela andar muito stressada e ansiosa no final do terceiro período do ano passado. Estava sempre cansada e qualquer coisa a irritava. Achei que fossem os hormônios femininos então deixei estar e limitei-me a estar com ela. Foi muito irresponsável da parte dela e de quem a deixou por a escola à frente da saúde.
Quem é que se importa com quadro estúpido quando o nosso corpo literalmente diz:" para por favor estou cansado e não aguento mais". Eu sabia que ela era extremista, mas não tanto. Se eu soubesse ter-lhe-ia atirado os livros janela fora, mandando-a tomar banho, vestido o pijama, feito uma refeição em condições e ido dormir. Se ela não se conseguia concentrar-se nas aulas, podia ter pedido ajuda. Não precisa de andar a matar-se a estudar para ter boas notas.
Uma coisa que não sei se me devo preocupar ou ficar aliviado foi quando ela mencionou que por causa da escola andava a cortar-se menos. Preocupado porque de certo ela continuou a faze-lo só diminui-o a frequência com que o fazia. Aliviado por que ter diminuído o número de vezes com que o fazia significa que talvez ao poucos ela tivesse deixado de o fazer.
Ela era sem dúvida umas das melhores alunas sua turma e arrisco-me a dizer do nosso ano. Quem andou compara la aos outros é sem dúvida burra e ignorante. Além do mais se ela tirasse uma nota abaixo de noventa por cento não ia dececionar ninguém. Epá correu menos bem aquele teste, estava cansada, não entendeu bem a matéria, ficou nervosa iram compreender-se. Ela nunca precisou de colocar aquela pressão toda em cima dela.
Mas acho que Laura foi educada para isso. Na época da primária ela tirava sempre boas notas e estudava muito. E quando tirava por exemplo um suficiente os pais repreendiam-na ou até castigavam-na. Não era justo, mas nunca ninguém disse nada. Podia ver-se claramente nos seus olhos qua a Lau tinha medo de falhar e dececionar os pais. Magoava ver os seu olhar reprovador.
Nenhuma pessoa devia sentir que devia colocar os estudos à frete da própria saúde apenas para agradar os outros. A Laura não estudava tanto por ela mesma, fazia-o pelos pais, avós, tios, primos que esperavam demasiando dela.
Esse era uma das maiores fraquezas dela. Não saber dizer não. Ela fazia sempre a vontade aos outros. Mesmo quando não queria fazer sentia que era obrigação sua faze-lo. À medida que vou acabando de ler vejo que a Laura não tinha sentido de autopreservação, em parte, alias em grande parte por nossa culpa.
Duas passagens para o final e a cada uma que passava via-se que ela se ia perdendo cada vez mais. O tempo deterioro-a. Só espero que esteja finalmente livre e verdadeiramente feliz agora. Eu não queria que ela me deixasse, preciso dela. Mas a Laura passou a vida a sofrer e a pensar nos outros primeiro em vez dela. Fez muitos sacrifícios e já que não teve a ajuda que queria é melhor eu aceitar que ela está bem agora e que um dia a volto a ver. A saudade magoa e como ela disse o tempo só cicatriza, não vou esquece-la nunca. Ela foi a melhor pessoa que alguma vez apareceu na minha vida. E estou grato por ter feito, feito parte da vida dela. Amo-a muito e nunca vou deixar de amar. Só o gostava de ter dito mais vezes em vida.
"24 de novembro de 2022"
VOCÊ ESTÁ LENDO
As últimas memórias de uma adolescente morta
Novela JuvenilEnquanto tenta lidar com todos os sentimentos que vieram com a morte da melhor amiga, Pedro descobre que Laura deixou-lhe um diário um seis passagens que retratam o quão cansada e partida estava, levando por consequência a que se suicídasse. Um mis...