1.1. O Mago Lendário no Muquifo

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O olho continuou lá. E continuaria até que fizéssemos alguma coisa.

Eu estava, sim, considerando que éramos nós. Contra a minha vontade, é claro.

— Maluco, eu só quero saber se essa porra desse mago vai fazer alguma coisa contra esse olho aí! — gritou Barba, acabando com nosso disfarce. 

— Olha, na experiência que tenho de vida — o draconato começou, a voz bem mais baixa que a explosão do timbre do anão. — posso dizer que esta magia não é...

— Meu irmão, eu não quero saber de porra nenhuma não. Ou cê vai meter a mão no olho ou eu vou voar em todo mundo aqui dentro! 

A este ponto, nosso som era maior do que a música anterior. Fui conferir o outro grupo virando a cabeça e, obviamente, eles perceberam nossa presença. Na verdade, não só nossa presença como nosso assunto. O idoso virou-se para nós com um olhar cerrado:

— Olho?!

Então, estalou os dedos. O olho explodiu, irradiando um som gosmento no metal da armadura. Foi impressionante. Exibido, sim, mas impressionante. 

Em seguida, levantou-se, expondo suas vestes. Então, reparei melhor na nossa inferioridade em relação a ele. Havia algo de familiar nos cabelos alvos, nas rugas fundas e na barba emoldurando o queixo. Suas vestes comportadas, com detalhes em ouro, o que incluía um enorme olho segurando as camadas de túnica que serviam de cobertura para as calças, passavam a impressão de alguém viajado, no mínimo. Aliado a espada de bainha desenhada e empunhadura com cabeça de leão, ficava difícil não relacioná-lo a alguém com uma vivência extraordinária. Só que era tão inesperado que um homem como aquele estivesse num lugar como aquele que perdi um tempo observando antes de confirmar se o conhecia ou não.

— Agradeço o aviso — disse, empostando a voz e erguendo o peito. Para alguém com sua idade, impressionava a imponência que conseguia conservar.

— Não foi nada, achei importante que meus amigos aqui avisassem o senhor do problema à sua espreita — respondi, bate-pronto. 

Atrás de mim, ouvi um sussurro me chamando de cuzão. Acredito que tenha vindo do drow.

— Cê é mó dois papo, hein, doidão — Barba comentou, cruzando os braços.

— É, Barba, já tô vendo que esse cara aí vai dar problema — seu amigo completou. 

— Eu entendo como funciona a dinâmica de um grupo — o senhor voltou a responder. — Não precisam se preocupar com quem me avisou. No fim, foi um trabalho coletivo. Mas, honestamente, vocês parecem ser um grupo bem novo. Qual o nome de vocês?

Eu não poderia dizer que faltavam apresentações naquele grupo, não me importava saber mais do que as funções de cada um e para onde poderiam me levar.

— Você não precisa se introduzir — virei, achando que se referia a mim, mas o homem apontava para Barba. — Você é o homem que bebe e toca ao mesmo tempo, certo?

— Barba. O Bárbaro. Exatamente.

— Acho que é do seu interesse saber que tem uma cidade aqui perto com um cara que tem a fama de ser o maior beberrão da região. Dizem que ele fica a noite inteira bebendo sem cair. 

— Faltou me conhecer antes de receber esse título e essa fama. Qual o nome dele?

Swarschnegger.

— E onde ele fica?

— Pedra Lascada. 

Pedra Lascada. É meu objetivo agora.

Quão despropositada uma vida precisava ser para que uma competição de bebida atraísse tanto? 

— E seu amigo? — o senhor continuou. Mais uma vez, o timbre me lembrou alguém famoso. — Consegue apresentá-lo?

Relatos de Um Viajante ChifrudoOnde histórias criam vida. Descubra agora