Já era tarde quando Elijah finalmente tinha terminado de colocar seus pertences em sua nova casa. Era sua última chance e ele precisava de um novo ambiente para se inspirar um pouco. "Eu já te dei muitas chances! Essa merda que você faz simplesmente não vende! Faça uma música boa o bastante para estourar no mercado ou você estará fora!" foi o que seu produtor gritou na última discussão que tiveram. Elijah odiava seu produtor, e sua falta de vontade de mudar seu estilo apenas para vender discos deveria ser repensada se quisesse morar debaixo de um teto. Elijah vinha de uma era onde grandes músicos precisavam apenas de talento para conseguir vender seus discos, mas os tempos mudaram, e ele estava sendo deixado de lado para que "essa porcaria genérica e feita em larga escala" tivesse mais espaço. Frequentemente ele ligava o rádio para tentar conseguir inspiração, mas isso servia apenas para perder sua fé na música ao ver o que é que as pessoas realmente gostavam de ouvir.
"Eu não posso fazer esse lixo! Eu me recuso!" ele disse para si mesmo, mas depois de se estabelecer na nova casa e pensar a respeito, ele ligou o rádio novamente, sem muito ânimo. Elijah havia entrado no ramo da música com a esperança de que sua criatividade e expressão pudessem brilhar, mas depois de anos em turnês com uma banda e após a mesma ser dissolvida devido à falta de retorno, ele agora se via forçado a escrever músicas para as novas bandas adolescentes. Elijah desprezava a "nova geração" porque eles sofriam de uma incrível falta de criatividade e musicalidade, as mesmas qualidades que outra hora levaram tantos à fama. Ter alguém escrevendo uma música para você era motivo de vergonha em seus tempos, mas agora parecia até ser uma regra. O mercado musical era uma besta nojenta, ele pensou, mas ele já estava na indústria e não poderia parar agora.
Depois de horas de trabalho duro, Elijah se jogou no sofá, cansado e desmotivado. Cada músculo de seu corpo doía e pulsava com qualquer movimento que fizesse. Depois de alguns minutos de pensamentos vazios, Elijah se levantou para explorar sua nova casa. Sua agenda apertada o impediu de investigar a casa antes de sua compra, mas o produtor garantiu que a casa era perfeita e que o dono anterior era, assim como ele, um compositor. A casa até tinha um estúdio.
As paredes eram forradas de vermelho. Marcas de poeira estavam pela parede. Elijah pensou que eram ali que estavam os quadros e pôsters do antigo dono. Ainda haviam pregos ali. Estava bem claro que tudo que pertencia ao antigo dono foi removido rapidamente para que o novo dono pudesse se instalar. A casa era consideravelmente maior do que ele pensava (considerando quanto havia sido pago nela), e parecia ser maior no interior do que no exterior. Após andar pelos corredores, ele chegou em um grande e impressionante salão, com uma escada em espiral direcionada ao porão. Elijah chegou à conclusão de que o estúdio deveria estar ali. Ansioso para ver o local em que ele passaria a maior parte do tempo, ele correu em direção das escadas. Quando chegou ao destino, deixou escapar um gemido angustiado. As escadas pareciam ir a um lugar muito mais fundo do que ele pensava. "O estúdio deve estar no subsolo, não é possível!" ele presumiu.
Elijah começou a pensar o que teria feito o dono anterior ter desistido daquele lugar. Era simplesmente a casa mais incrível que ele já tinha visto, e ele não podia imaginar o que faria alguém sair. O produtor disse que o antigo dono tinha simplesmente "desaparecido". De acordo com a polícia, não havia qualquer sinal de arrombamento, então eles concluíram que o homem simplesmente foi embora e deixou tudo para trás. Por que ele teria feito isso, Elijah não podia nem mesmo desconfiar, mas não era como se ele quisesse contestar essa decisão. Cautelosamente ele desceu as escadas, agarrando o corrimão. O aço da escada era robusto e bem conservado, não emitia estalos ou vibrações quando se pisava nos degraus.
Assim que chegou ao fim das escadas, as luzes do salão acima de sua cabeça ficaram cada vez mais fracas até que ele não pudesse mais ver aonde estava. Depois de alguns segundos andando desorientadamente no escuro, ele chegou a um interruptor, e acendeu a luz. Era um pequeno e isolado quarto, com uma única porta vermelha bem à sua frente. Um arrepio percorreu a espinha de Elijah, mas ele logo se acalmou e se moveu em direção à maçaneta. A porta parecia chamá-lo para dentro do quarto, e depois de pensar a respeito disso por algum tempo, ele começou a ouvir notas fracas vindo de dentro daquele quarto. Notas bonitas, que ecoavam por algum tempo. Notas que pareciam ser de um instrumento de corda. "Alguém deve ter deixado um rádio ligado", ele pensou, mas então lembrou-se que nada tão bonito tocava no rádio há pelo menos uma década. Coberto de curiosidade, ele se moveu cautelosamente na direção da porta. Segurou a maçaneta dourada, e então se deu conta de algo: alguém poderia estar dentro do estúdio tocando o instrumento. Ele entrou, tomado pela fúria. Assim que viu o estúdio, no entanto, ficou mais calmo.
Era o mais belo e completo estúdio que ele já tinha visto. Microfones da mais alta qualidade, mesas de som e computadores enchiam o local. Os caras da empresa de mudanças provavelmente não sabiam da existência daquele quarto: era a única explicação para que tal equipamento ainda estivesse ali. Elijah fez um cálculo rápido e viu que ali deveriam haver várias dezenas de milhares de dólares em equipamento.
Depois de alguns instantes, ele se lembrou qual era a razão para ele ter entrado ali, e ficou espantado ao ver que a música tinha parado. O estúdio estava completamente vazio. "Cara, devo estar ficando louco", murmurou, e foi em direção à mesa de som. Para sua surpresa, o estúdio ainda estava gravando, como se o dono anterior tivesse ido embora antes mesmo que ele tivesse parado a gravação. Com a cautela que os vários anos de experiência haviam lhe dado, permitindo que ele conhecesse cada um dos botões e chaves, Elijah examinou o equipamento e parou a gravação. Decidiu que voltaria mais tarde para examinar melhor o estúdio para tentar descobrir alguma coisa, mas viu algo que chamou sua atenção.
Uma guitarra branca, bastante reluzente, e ainda conectada a um amplificador, largada no chão, perto de um banco caído. Elijah moveu-se rapidamente em direção a ela. A qualidade do instrumento era soberba, e mesmo parecendo ser um modelo de 50 anos antes, os trastes estavam completamente novos e as cordas não pareciam ser muito antigas, eram quase novas. Enquanto ele examinava cautelosamente o instrumento, percebeu algo de errado. Ele tinha ficado tão atraído pela beleza da guitarra, que demorou para notar que ela estava com uma corda a menos! Apenas 5 cordas, terminando na B. Ainda mais interessante, ela havia sido feita para ser uma guitarra de 6 cordas, afinal, havia um sexto espaço vazio no braço da guitarra. "Por que alguém teria tanto cuidado em fazer uma guitarra tão bonita para no fim deixar de colocar uma das cordas?" Ele se perguntava por que o antigo dono estaria tocando uma guitarra incompleta. E a parte mais estranha de tudo: era evidente que a guitarra havia sido derrubada, mas não apresentava arranhões ou coisa do tipo.
Elijah, cheio de dúvidas, decidiu pegar a guitarra. Quando sua mão estava bem próxima do braço, a guitarra pareceu reluzir ainda mais, como se estivesse implorando para ser usada. De repente, antes mesmo que ele fizesse contato com a guitarra, seu bolso vibrou. Ele puxou o celular do bolso.
"Ótimo, esse filho da puta de novo", murmurou, e atendeu o telefone. O sinal era péssimo ali, então ele subiu as escadas novamente.
"Então, o que eu disse, cara? Eu estou certo ou estou certo? Eu sei que o estúdio é pequeno, mas deve servir!" o produtor gritou. Ele parecia gritar o tempo todo, como se sequer tivesse consciência do volume de sua voz. Elijah não entendeu o que Bob quis dizer com "pequeno", já que aquele estúdio era maior que seu antigo, mas fingiu não perceber o erro. "É maravilhoso... É... É incrível, na verdade. Você estava certo, como sempre" ele admitiu, relutante, deixando escapar um suspiro.
"Estou esperando que você faça músicas ótimas, E. Não me desaponte!"
"Não se preocupe. Logo farei algumas músicas".
"Ok, cara... Sabe... Eu sei como se sente" ele disse, mas era óbvio que sua empatia era falsa. "Apesar disso, você tem que entender, os tempos mudaram, e se você não pular no trem, o trem parte e deixa você para trás!"
"Ele tem a cara de pau de me pedir para 'seguir os novos tempos' mas fica usando essas frases arcaicas do século passado", pensou. "É, Bob, eu sei. Olha, eu ainda não terminei de desempacotar minha mudança, então eu falo com você depois, tudo bem?"
"Claro, E, tudo bem. Até mais".
Elijah guardou o telefone. Suas costas começaram a doer e ele precisava deitar. "Ótimo", ele pensou, "vou ter que deixar a guitarra esperando". Ele ainda não tinha montado a cama, então decidiu dormir no sofá aquela noite.
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Creepy Pastas : Historias Obscuras
HorrorCreepyPastas São lendas que circulam na internet em que não se sabe se é real ou Não. Neste Livro Contém As mais Conhecidas,Interessantes,Arrepiantes e algumas da Famosa DEEPWEB. Não Brinque com o sobrenatural, E uma boa Noite...