CAPÍTULO 2

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Andamos por mais ou menos umas duas horas para ter certeza de que estaríamos longe o bastante de David. No meio do caminho procuramos um lugar para descansar, e achamos um hotel velho. Jake já estava dormindo em cima do cavalo. Joel claramente estava exausto, e Kate não disse nada o caminho todo provavelmente por falta de energia. Joel verificou se o Hotel era seguro para podermos passar algumas horas. E agora estão todos dormindo, menos eu que estou aqui sentada os olhando dormir. Aproveitei que não consegui pegar no sono, e estou vigiando. Joel disse que ia ficar de vigia mas acabou dormindo, e obviamente eu não vou acordar ele! Confesso que estou morrendo em pé... Mas não consigo pregar os olhos. Nem por um minuto.

Essa noite foi longa. Tive tanto medo! As mãos dele em mim... O cheiro forte de bebida, a frieza nos seus olhos. É como se não se importasse com mais nada além dele mesmo. E agora parando para pensar nisso tudo, meu coração acelera de novo, minhas mãos começam a formigar, e um nó se forma na minha garganta. Só me dei conta de que estava chorando quando senti o gosto salgado das lágrimas na minha boca. Acho melhor eu sair daqui, não quero acordar ninguém.

Com muito esforço consegui me levantar para ir até outro cômodo. Já estando longe o bastante deles. Me sento no chão e tento puxar o ar. Estou tremendo, é como se eu fosse morrer. Será que vou morrer? Abaixo minha cabeça por não ter mais forças para segurar ela.

- Ellie?

Ouço alguém me chamar mas não consigo distinguir quem é.

- Ellie?

Eu só consigo ficar em silêncio e estática.

- Ellie, respira!

A voz está abafada e distante.

- Sou eu, Kate! Olha pra mim.

Kate? Ela pega meu rosto e me faz olhar para ela, meus olhos doem de tanto chorar, e agora além das mãos, meu corpo inteiro está formigando.

- Respira comigo tá bom?

Kate inspira e expira devagar para que eu a acompanhe. Não consigo falar nada, mas começo a acompanhar a respiração dela.

- Está melhorando?

- Está... - E realmente está. Parece que estou voltando para o meu corpo de novo.

- Me fala cinco coisas que você consegue ver.

- Sério? - Pergunto ofegante.

- Sim! Fala logo.

- Ah... Okay! Eu vejo uma madeira quebrada, uma cama velha, um espelho sujo, a cortina cheia de teia de aranha, e vejo você também. Mas o que isso importa agora? Eu acho que vou morrer.

Kate da um sorriso e eu fico sem entender nada.

- A sensação ruim... Passou né?

Porra!

- Caralho! É, ela passou.

- Eu fiz você focar em outra coisa.

- Obrigada... Mas como você sabia o que fazer?

Kate sai da minha frente e senta ao meu lado. Ela fica em silêncio por alguns segundos.

- Quando aconteceu a primeira vez essa crise comigo, eu também achei que ia morrer. Felizmente, ou infelizmente começou na frente do Jake, ele tinha três anos, era só um bebê. Lembro que estava pintando com ele, e quando começou, eu falei que não estava mais conseguindo pintar. Então ele foi me perguntando as cores que eu gostaria que ele usasse, e enquanto eu falava, senti meu coração desacelerar, e me acalmei. Jake fez meu cérebro focar em outra coisa. Mesmo tão pequeno ele cuidou de mim sem saber.

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