truth game.

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𖣯 › 𝘵𝘳𝘶𝘵𝘩 𝘨𝘢𝘮𝘦 ‹

Durante toda a minha vida, eu aprendi que para lidar com pessoas como meus pais, é preciso nunca, em hipótese alguma, demonstrar fraqueza ou vulnerabilidade.

A última vez que expressei algo do tipo com eles, foi quando Bruce se mandou de casa pela primeira vez depois de uma briga com Norah. Eu lembro de correr, abraçar Norah chorando e de manchar sua blusa, para depois ela apenas me empurrar drasticamente, murmurar algo sobre ser minha culpa e subir para o seu quarto.

Por algum motivo, isso me fez perceber — eu já deveria ter percebido bem antes disso, mas não percebi — que as pessoas são ruins, cruéis e quase nunca sabem lidar com o que sentem.

Diferente do que Norah me disse naquele dia, nada daquilo é ou foi culpa minha; foi culpa da insegurança dela, culpa da infidelidade dele, culpa deles por terem feito eu e Steve passar por aquilo tudo tão pequenos. A fase de me culpar pelos erros dos meus pais já passou. Não é culpa minha.

Algumas pessoas não servem para ser pais, e isso não é culpa de quem é filho desses infelizes.

As únicas duas coisas que meus pais me ensinaram — e muito bem — são: "seja útil" e "não seja como nós". A última eles não me falaram diretamente, mas é uma conclusão que eu consegui tirar com uns nove anos. Ser como eles, eu nunca vou ser, mas ser útil, é algo que eu acreditei que era minha vida inteira.

Sempre me esforcei bastante para ser uma pessoa agradável em geral; uma amiga descente, uma filha descente, uma irmã descente. E a maioria das vezes senti que consegui; gosto de ser uma boa pessoa. Mas, mesmo assim, inútil e nojenta são palavras que Norah já usou para me descrever muitas vezes.

É "fácil" escutar esse tipo de coisa quando você não acredita nelas, então eu aprendi a lidar com as críticas da minha mãe ou de qualquer idiota do fundamental.

Eu achava que ser útil era tirar mais que nove em todas as provas, ser representante de classe, ajudar senhorinhas na rua, não responder os mais velhos, não ser como Troy e essas coisas de "gente descente".

Mas agora, percebendo que Norah sempre esteve certa sobre mim, sei que ser útil é muito mais que isso; algo que eu nunca conseguirei ser.

Minha percepção me faz engolir seco enquanto observamos de longe Joyce levando Will até o carro. Minha respiração já voltou ao normal e, agora que estou sentada em um dos degraus da escada na porta de entrada do colégio, não sinto mais minhas pernas tremendo — mesmo assim, a aporia não passa e não consigo prever como ela está planejando se comportar.

Nesse momento, não consigo nem mais esconder de ninguém — inclusive eu —, que sou uma medrosa e covarde. Que estou completamente assustada, tremendo de medo da possibilidade de algo acontecer com Will. Que, mesmo que eu tenha aprendido a não demonstrar nada disso, eu ainda sou vulnerável.

— Tá bom, aquilo me assustou legal. - Max comenta e eu só escuto sua voz, focada demais nos outros dois entrando no carro para lhe encarar. — Não assustou vocês?

— Dois surtos desses em dois dias. - Ouço o suspiro de Lucas. Quero dizer alguma coisa que os faça não sentir o medo que eu estou sentindo agora. Quero dizer que vai ficar tudo bem ou que vai passar, mas não sei mais se isso é verdade. Não sei se um dia eu acreditei que fosse.

Pensando bem, eu quero que alguém me diga que vai ficar tudo bem, que vai passar.

— Tá ficando pior. - Volto minha atenção para eles e vejo Mike abaixar e se sentar no primeiro degrau lá em cima.

— Será que é a Visão Verdadeira? - Lucas questiona naturalmente, só percebendo a merda que disse quando Mike e Dustin o repreendem com o olhar e minha reação é arregalar os olhos.

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⏰ Última atualização: Jan 19 ⏰

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Explosive Girl ᝰ 𝗺𝗮𝘅 𝗺𝗮𝘆𝗳𝗶𝗲𝗹𝗱Onde histórias criam vida. Descubra agora