frightening tradition.

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𖣯  › 𝘧𝘳𝘪𝘨𝘩𝘵𝘦𝘯𝘪𝘯𝘨 𝘵𝘳𝘢𝘥𝘪𝘵𝘪𝘰𝘯 ‹

Steve sempre negou participar das tradições de caça da nossa família, e eu sempre o invejei por ter o direito de escolha. Não me leve a mal, eu sempre adorei o fato de Bruce Harrington me deixar tocar em uma arma desde pequena; mesmo que isso soe problemático. Mas, mesmo que seja super legal sentir a pressão da carabina em minha mão, ainda não me acostumei com a parte mais importante da tradição: matar animaizinhos pequenos e indefesos.

Me sinto arrependida de ter enrolado tanto Bruce, porque agora temos que andar durante minutos — que parecem horas — por uma floresta entediante, enquanto escuto seus sermões sobre um dia eu precisar perder o medo de caçar. Já é a sétima vez que caçamos juntos, e nessas sete vezes eu amarelei.

Modéstia a parte, sempre fui muito boa com armas. Mas, mesmo com algum animal na minha exata mira, ainda me sinto insegura para atirar.

Não aguento mais ouvir ouvir Bruce. Sinto vontade de encara-lo e só falar a verdade: "Não quero matar esquilos, coelhos e nem cervos. Afinal, só tenho quinze anos, caso você não saiba!"

Só que não quero acabar com o falso momento de "pai e filha" — se é que pode ser chamado assim —, então apenas me mantenho calada e aceno positivamente para tudo que ele fala.

Quando chegamos em casa, ele se despede de mim com um beijo na testa e simplesmente vai embora. Não um "vai embora" no sentido de ir para o trabalho e depois voltar, ele vai embora para ficar longe por meses, no sentido de "não sei quando vou vê-lo novamente". E, bem, sendo sincera, não sei se quero que isso aconteça tão cedo.

Não vejo Norah faz quatro meses, não, cinco, talvez. Ou seis. De qualquer maneira, sei que a última vez que ligou deve fazer um mês. Eu não sei onde esteve durante esse tempo, mas com meu Bruce, provavelmente, não será diferente.

Com um pouco que qualquer um fica sabendo da minha vida, pode se tirar a conclusão de que: meus pais são narcisistas fodidos.

Minha mãe acha que eu sou um caso perdido, que eu escolhi tudo que vem acontecendo porque sou rebelde e amo irrita-la. Para mim, tanto faz, nada que eu faço ou fizesse traria sua atenção para algo que não fosse seu trabalho que, por sinal, eu ainda não sei do que se trata.

Meu pai não gosta de conversar comigo, no entanto, não temos muita coisa em comum. Ele até tenta levar eu e Steve para o seu mundo, o que traz como consequência essa tradição estúpida que temos uma vez por ano.  O vejo obrigando Steve a participar de reuniões sobre negócios ás vezes, o que me faz agradecer, surpreendente, por ser mulher.

Meus avós mal conseguem ficar no mesmo cômodo, já que minha família por parte materna é judia de origem israelense e por parte paterna palestina de origem muçulmana. Em suma, eu não conheço ninguém da minha família, tirando Steve.

Ao contrário de todos da minha família, Steve parece querer ser apenas um adolescente normal. Beber, fazer sexo e ir à festas privadas. Ele nunca apareceu nos jantares de família, — horríveis, por sinal — e, bem, tendo em vista todas as discussões que tivemos em momentos como aqueles, não posso culpa-lo por isso. Apenas ficar um pouco chateada por ter que ser a única a aturar tudo.

Quando éramos crianças, Steve tinha um violão verde, cheio de adesivos esquisitos. Nas madrugadas em que meus pais ficavam em casa e surtavam um com outro por bobagens de adulto, ele tocava e cantava para mim, mesmo que sua voz fosse horrível.

Mas, acho que algo de errado acontece quando você começa a crescer; deve ser a responsabilidade, ou talvez os hormônios. Seja lá o que for, Steve é um babaca agora.

Explosive Girl ᝰ 𝗺𝗮𝘅 𝗺𝗮𝘆𝗳𝗶𝗲𝗹𝗱Onde histórias criam vida. Descubra agora