i am the fighter.

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𖣯  › 𝘪 𝘢𝘮 𝘵𝘩𝘦 𝘧𝘪𝘨𝘩𝘵𝘦𝘳 ‹

Will e eu somos amigos desde o jardim. Eu estava no meu primeiro dia de aula e tinha descoberto de maneira aterrorizante que crianças são tão babacas quanto adolescentes. No recreio, Will sentou sozinho debaixo de uma árvore.

Quando se é criança, é fácil fazer amigos novos, então eu e Mike — que tínhamos nos conhecido no mesmo dia — fomos falar com ele e, quando percebemos, já éramos um trio incrível.

Quando ele desapareceu, as coisas ficaram estranhas e bizarras. Foi a minha época mais apagada porque, mesmo que eu lembre de cada mísero detalhe, me recordo de perder a noção do tempo; eu tomava café da manhã e em um piscar de olhos — literalmente —, eu já estava jantando.

Naquela época, eu não sabia muito bem o que era sentir a sensação esquisita ou os apagões, mas eu queria tanto que parasse.

O aperto era muito grande; complexo demais para eu conseguir justificar. Eu tentei dar tempo ao tempo, como o Sr. Clarke dizia: "o tempo nos mostra muita coisa", mas não foi o suficiente. E eu queria que alguém tivesse me dito isso antes; não dá pra ficar esperando que o tempo cure todas as suas merdas, algumas dores se recusam a irem embora.

Os dias eram praticamente os mesmos: os minutos viravam horas, depois dias, depois meses e não ia e estou começando a desconfiar que não vai embora.

Às vezes eu até acho que passou ou que estou no caminho certo, mas aí basta respirar o ar de Hawkins que milhares de bombas nucleares explodem na minha cabeça: "Por que Will não me conta mais as coisas? Por que ele não confia em mim? Por que Mike odeia tanto a Maxine? Por que a El sumiu? Por que logo Will desapareceu? E por que, por que diabos, nós, no meio de tantas pessoas do mundo inteiro, fomos os primeiros a descobrir sobre o mundo invertido?

Tudo mudou depois de seis de novembro de mil e novecentos e oitenta e três e, se eu pudesse voltar no tempo, nunca teria deixado Will sair de casa naquele dia; eu teria o abraço forte, bagunçado seus cabelos e comprado milhares de chocolates para comermos ao som de should i stay ou should i go.

Mas não importa, porque o passado é fixo, e ele não vai mudar.

E, infelizmente — ou não —, existe esse lugar onde os dados de D&D rolam, onde Mike e eu lemos quadrinhos durante uma madrugada inteira, onde Eleven aperta os olhos pra tentar juntar as sílabas de uma palavra no manual de uma lanterna e onde, com muito esforço e um óculos de grau, se dá pra enxergar beleza no meio do caos; Onde Steve canta e abafa os gritos de Norah e Bruce e tira um adesivo do violão para colar na minha testa, onde eu pulo de um abismo para proteger Mike e Dustin de Troy e onde Eleven nos ajuda a encontrar Will.

Esse lugar é o passado. Um lugar distante, fixo e que não muda.

Por que Will não me conta mais as coisas?

Por algum motivo, eu sinto que depois de tudo, algumas coisas acabaram sim indo embora, e uma delas é minha conexão com Will. De alguma forma, eu sinto que nossa amizade mudou. Mas, acima de tudo, sinto que Will mudou.

Mas, mesmo assim, consigo perceber claramente quando há algo de errado com ele, e é o que está acontecendo agora. Não só errado em geral; não só os momentos em que ele viaja, os momentos em que parece estar em outra realidade de novo ou os momentos em que vê uma sombra enorme no céu. Há algo de errado com ele, literalmente, agora.

Quando o sinal tocou, Mike e eu encontramos Will no corredor. Eu o lancei um sorriso forçadamente caloroso porque, mesmo que ele não saiba que eu sei se tudo agora, quero que se sinta seguro. Que confie em mim de novo. Mas minha suspeita começou quando ele não retribuiu esse sorriso. Quando seu olhar de direcionou a nós, foi praticamente uma confirmação de que havia algo de errado.

Explosive Girl ᝰ 𝗺𝗮𝘅 𝗺𝗮𝘆𝗳𝗶𝗲𝗹𝗱Onde histórias criam vida. Descubra agora